Deve um primeiro-ministro fazer parte da comissão de honra de um candidato à presidência de um clube de futebol? Em teoria, não deveria haver qualquer problema. Afinal, se a título pessoal o primeiro-ministro pode ser membro de uma associação columbófila, porque não pode apoiar um candidato a um clube? Infelizmente, uma coisa é a teoria, outra a prática.

Todos sabemos que o futebol é hoje um meio mal frequentado, repleto de personagens que, nos jornais, tanto aparecem nas páginas de Desporto como nas de Justiça (havendo mesmo alguns que, pelo narcisismo e histrionismo, são dignos de figurar em manuais de saúde mental). Não viria mal ao mundo em ter titulares de cargos políticos nos órgãos dos clubes se estes fossem bem geridos e os seus dirigentes não fossem arguidos em processos criminais, nem figurassem nas listas de devedores dos bancos apoiados pelo Estado. Não se trata de um problema do clube A, B ou C, mas de todo um ecossistema, com a má moeda a retirar a boa de circulação.

Os titulares de cargos políticos que apoiam publicamente candidatos à liderança de clubes deveriam estar dispostos a meter a mão no fogo pelo carácter das pessoas em causa. É isso que significa integrar uma comissão de honra, mas será que o fazem? Pelo contrário, perante a pressão da opinião pública, rapidamente deixam as tais comissões de honra.

A responsabilidade por este estado de coisas é de todos nós. Porque somos exigentes com os clubes no que toca aos resultados desportivos, mas não conseguimos ter uma fasquia tão elevada quando se trata de exigir que os dirigentes sejam fiéis aos valores do desporto. A certa altura, ser capaz de procurar ganhar a todo o custo passou a ser visto como uma qualidade e não simplesmente como aquilo que realmente é, uma falha de carácter. No fim de contas, temos os dirigentes desportivos que merecemos e os políticos que se associam ao mundo decadente do futebol limitam-se a tirar proveito deste facto.