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Como os pais, jovens querem ter uma vivenda

Arrendar casa é uma boa opção, mas só durante alguns anos. A maior parte da geração ‘millennial’ ambiciona comprar uma casa, tal como os seus pais fizeram. A preferência nacional são as moradias, indica um estudo.
18 Setembro 2019, 09h00

Comprar casa é uma prioridade para os jovens em Portugal. Tal como os seus pais, os jovens adultos ambicionam ter casa própria, de preferência uma vivenda. Esta é uma das conclusões de um estudo realizado pela imobiliária Century 21, que contraria ideias feitas que a geração dos millennialls (dos 23 anos aos 38 anos) não dá importância à compra de um imóvel.

Num cenário em que já obtiveram estabilidade económica, daqui a cinco a oito anos, a maioria dos inquiridos assume que gostaria de ter casa própria (88%), contra apenas 12% que prefere arrendar, segundo o II Observatório do Mercado da Habitação em Portugal que questionou 800 pessoas com idades entre os 18 e os 34 anos.

“As pessoas querem comprar, querem ter a sua casa, isso não mudou” em relação às “gerações anteriores”, analisa o presidente executivo da Century 21 Portugal. “A propriedade é uma poupança, é uma constituição de património. O sentimento de propriedade, de querer ser proprietário é esmagador, prevalece claramente em todas as idades”, destaca Ricardo Sousa.

Mas que tipo de casa os jovens portugueses sonham ter? A moradia é o tipo de imóvel mais desejado pela maioria dos inquiridos (54%). Segue-se o apartamento (17%), o apartamento em condomínio fechado (13%), a moradia geminada (9%), e o estúdio ou loft (5%).

Em termos de tipologia da casa, estes jovens pretendem ter uma casa com uma área de 110 metros quadrados (m2). Entre as várias regiões do país, os jovens algarvios são os que ambicionam uma casa maior (118 m2), com os lisboetas a preferirem uma casa mais pequena (106 m2).

Apesar da maioria dos jovens desejar comprar casa, a verdade é que, até lá, vão precisar de recorrer ao arrendamento. Entre os jovens até aos 24 anos que querem sair de casa dos pais, a maioria (48%) prefere arrendar.

A contribuir para este desejo de arrendamento por parte dos mais novos, está a falta de rendimentos. O estudo revela que 55% dos inquiridos não são financeiramente independentes. Do total, 45% auferem um rendimento mensal entre 500 a 1.000 euros, com 17% a ganharem menos de 500 euros e 19% a revelarem que não têm rendimentos.

“O mercado imobiliário não é um problema, é uma consequência do real problema que está no mercado de trabalho e nos rendimentos que estes jovens têm. Isso faz com que o viver sozinho seja muito difícil, mesmo para os emancipados, pois 37% ainda depende da ajuda familiar. A estrutura familiar continua assim a ser muito relevante. Daí que hoje, na cidade de Lisboa, se vejam muitos jovens a continuar a lógica de estudante, ao partilhar uma casa com amigos”, afirma o líder da Century 21 em Portugal.

As conclusões do estudo são claras sobre a situação atual dos jovens portugueses inquiridos: oito em cada dez não vive na casa que gostaria de ter, devido à falta de recursos económicos.

Ricardo Sousa defende que é necessário um “mercado de arrendamento ajustado” para dar resposta aos jovens que procuram casa após ‘voarem do ninho’ dos pais. “O arrendamento é para os mais jovens e para a primeira habitação. É um primeiro passo, num momento em que ainda há muita indefinição na vida”, sublinha.

O arrendamento surge assim como “uma solução de transição. Sou dependente e passo a ser independente, esta é a minha emancipação. Ou seja, nos diferentes momentos de vida das famílias – o divórcio, mudança de emprego ou de cidade, onde há uma necessidade temporária de habitação. Precisamos deste mercado de arrendamento: soluções temporárias e flexíveis para esta geração que precisa do arrendamento em certos momentos de transição da sua vida”.

Para o futuro, o especialista imobiliário acredita que a cultura de compra de casa em Portugal poderá deixar de ter tanta importância nas próximas gerações.

“Nos contactos diários, muitas vezes concluímos que a compra é uma consequência de não haver mercado de arrendamento, ou que é mais vantajoso do que arrendar. Mas no estudo, conseguimos demonstrar que comprar casa é algo cultural. Acreditamos que a geração que hoje tem 15 anos, e que são nativos digitais, possam começar a trazer uma transformação cultural, mas será um processo progressivo”, remata Ricardo Sousa.

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