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Conflito em Nagorno-Karabak continua num impasse

A ONG Amnistia Internacional denunciou o uso de armamento ilegal em locais habitados por civis. Os dois lados do conflito não conseguem decidir-se pelas conversações, apesar de todos os apelos internacionais.
6 Outubro 2020, 17h40

Após dois dias de intensos bombardeamentos, a calma voltou a Stepanakert, capital da autoproclamada república de Nagorno-Karabak, como observa a reportagem da agência France-Press – mas a Amnistia Internacional denunciou em comunicado o uso de munições proibidas desde 2010 por uma convenção internacional.

A ONG corroborou informações sobre o uso de armas ilegais, denunciadas por vídeos publicados por fontes arménias durante o fim-de-semana. O comunicado refere que especialistas da ONG “conseguiram localizar as áreas residenciais de Stepanakert onde essas imagens foram captadas e identificaram munições (cluster M095 DPICM) de fabricação israelita, que parecem ter sido disparadas por forças azeris”- sendo certo que Israel é um dos principais fornecedores de armas do Azerbaijão.

“O uso de munições cluster é proibido em todas as circunstâncias pelo Direito Internacional Humanitário”, disse Denis Krivosheev, diretor para a Europa Oriental e Ásia Central da Amnistia Internacional, citado pelo comunicado. “O uso indiscriminado dessas armas em áreas residenciais é absolutamente assustador e inaceitável” , acrescentou. A Amnistia Internacional “apela a todas as partes envolvidas no conflito para que respeitem o Direito Internacional Humanitário e para a proteção dos civis”, conclui a ONG.

Entretanto, os dois lados do conflito parecem não se mover da decisão de que enquanto os combates se mantiverem na região não haverá condições para qualquer tipo de negociações. E ao mesmo tempo que ambos os lados estão irredutíveis, tanto as forças azeris como as arménias acusam os oponentes de não terem qualquer preocupação para com os civis – cujo número de vítimas continua a aumentar.

A destruição é já clara em várias zonas da região particularmente afetadas pelos confrontos, como é o caso da própria cidade de Stepanakert – onde os destroços das casas e de edifícios de organismos oficiais são visíveis.

Mas neste particular, as duas partes também não se entendem. Baku, capital do Azerbaijão, denunciou ataques a populações fora da zona de conflito, como Ganja, enquanto Yerevan, capital arménia, afirma que Stepanaker também foi bombardeada.

O Ministério da Defesa do Azerbaijão disse em comunicado que Ganja está sob fogo inimigo disparado da região arménia de Berd. Hikmet Hajiyev, conselheiro do presidente do Azerbaijão, disse, citado por vários jornais, que as cidades de Barda, Beylagan e Terter também foram atacadas com mísseis.

“O inimigo, imobilizado ao longo da frente, lançou ataques sistemáticos com mísseis contra áreas densamente povoadas do Azerbaijão” e também contra “a infraestrutura civil” daquele país, disse o Ministério da Defesa.

Os arménios negaram o bombardeio de algumas cidades, mas reconheceram que entre os seus alvos estão cidades com infraestruturas militares. O porta-voz do enclave, Vagram Pogosián, escreveu no Facebook: “Ao contrário dos líderes terroristas de Baku, não temos como alvo a população civil, mas apenas a infraestrutura militar das grandes cidades. Por isso, apelamos aos habitantes dessas localidades para que as deixem rapidamente para evitar vítimas”.

De acordo com os dados oficiais, de 27 de setembro a 4 de outubro, 223 soldados das forças armadas do enclave morreram. O Ministério da Defesa da Arménia assegurou, por sua vez, que somente no domingo os azeris perderam 400 soldados em combate e mais de 700 ficaram feridos.

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