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Confusão volta a instalar-se na Líbia com nova vaga de refugiados

Milhares de refugiados e imigrantes imploram pela evacuação da Líbia, mas pelo menos cinco milhares foram presos ao longo do mês de outubro. A ONU diz-se incapaz de gerir a situação.
  • Líbia, Médio Oriente – 170º
22 Outubro 2021, 18h39

Milhares de refugiados e imigrantes estão acampados em frente a um centro das Nações Unidas em Trípoli, pedindo a evacuação da Líbia após milhares deles terem sido presos nos últimos dias. A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) disse que suspendeu os seus trabalhos na capital líbia após a repressão de que os refugiados foram alvo.

Mais de cinco mil pessoas foram presas pelas forças de segurança durante o mês de outubro e colocadas em detenção por tempo indeterminado – onde se incluem cerca de 540 mulheres, pelo menos 30 das quais grávidas, de acordo com a ONU. Muitos destes presos já passaram anos entre centros de detenção associados ao governo e locais controlados pelo tráfico de refugiados e sobreviveram à tortura e outros abusos.

Cerca de três mil pessoas estão agora acampadas do lado de fora do centro de dia comunitário do ACNUR, mas a agência suspendeu por motivos de “segurança”, apesar de assegurar ainda alguma ajuda.

Os refugiados e requerentes de asilo esperam ser evacuados para países seguros na Europa ou na América do Norte, embora o número de vagas oferecidas pelos estados seja muito menor do que o nível de necessidade. Este ano, apenas 345 pessoas deixaram a Líbia em voos de evacuação, enquanto em 2020, apenas 811 saíram dessa forma – o que demonstra bem a falta de perspetivas para uma saída legal.

Nos últimos meses, as autoridades líbias impediram a decolagem de voos de evacuação. “Isso resultou em mais de mil refugiados vulneráveis, incapazes de alcançar um local seguro”, disse um responsável da ONU, citado por vários jornais.

Na semana passada, o ACNUR recebeu uma “confirmação verbal” de que os voos de evacuação poderiam ser retomados em breve, embora não haja uma confirmação formal por escrito. “As nossas equipas já estão a preparar toda a logística necessária para retomar as evacuações o mais rapidamente possível. No entanto, isso pode levar algum tempo, uma vez que alguns dos que tinham prioridade para os voos estão atualmente detidos, devido às operações de segurança. Outros não podem ser contactados porque as suas casas foram demolidas”.

Esta quinta-feira, a Líbia recebeu dignitários estrangeiros para a Conferência de Estabilização da Líbia, realizada numa tentativa conseguir organizar as eleições marcadas para dezembro e janeiro.

A Líbia tem de há muito um problema grave com refugiados e imigrantes de toda a África e que esperam chegar à Europa. Em 2017, a União Europeia prometeu dezenas de milhões de euros para treinar e equipar a guarda costeira da Líbia para intercetar as viagens ilegais no Mediterrâneo. Mais de 82 mil homens, mulheres e crianças foram desde então intercetados. No início deste mês, uma missão de investigação nomeada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU concluiu que “assassinato, escravidão, tortura, prisão, estupro, perseguição e outros atos desumanos cometidos contra imigrantes na Líbia fazem parte de um sistemático e generalizado ataque dirigido a esta população e pode constituir crime contra a humanidade”.

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