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Consultoria está pronta para aproveitar oportunidades da retoma

O sector de consultoria viu a sua importância reforçada com a atual transição para a economia do futuro, onde inovação e sustentabilidade são palavras de ordem e princípios orientadores de projetos.
10 Outubro 2021, 14h00

O mercado português da consultoria de gestão já vivia dias de vitalidade e crescimento antes da pandemia de Covid-19, seguindo o mesmo caminho da economia, beneficiando do aumento do número e da dimensão de operações e, também, da dinâmica verificada em diversos sectores. Depois da quebra verificada no ano passado, os protagonistas deste sector esperam que a trajetória seja recuperada e anteveem que o próximo ano será de crescimento, pelas oportunidades que se perfilam e pela necessidade de ajustamento à nova realidade.
“O próximo ano está a ser encarado com otimismo, não só pelas oportunidades que existem, mas igualmente porque existe uma motivação e mobilização das pessoas para voltar à normalidade”, afirma ao Jornal Económico (JE) Miguel Afonso, partner e Head of Markets da KPMG. “As organizações, em muitos casos, devido às novas circunstâncias, tiveram de procurar novas soluções, têm de reavaliar a sua estratégia e, com isso, abrem novas oportunidades de negócio”, acrescenta.
Tanto organizações como indivíduos vão procurar aproveitar a experiência adquirida neste período de exceção, com a concretização ou o reforço de sistemas tecnológicos e a gestão de soluções como o trabalho em modo remoto.
O impacto da pandemia neste sector foi inevitável, a par do que aconteceu com a generalidade dos sectores e das economias, com perdas calculadas de 30 mil milhões de dólares (cerca de 25,95 mil milhões de euros) a nível global, fruto da quebra da atividade causada pela Covid-19. Em Portugal, de acordo com o estudo mais recente da Source Global Research, de julho de 2021, o mercado de consultoria encolheu 8,7% no ano passado, quase em linha com o comportamento da economia, que registou uma contração do produto interno bruto (PIB) de 8,96%, segundo os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística, a mais profunda quebra registada.
Em 2019, o mercado da consultoria em Portugal tinha-se expandido a um ritmo de 5,1%, quase duplicando o crescimento de 2,69% da generalidade da economia.

 

Crescimento movido a fundos europeus
Com a reabertura da economia, o fim da grande maioria das restrições pandémicas na generalidade das economias ocidentais e uma situação previsivelmente controlada na vertente sanitária, espera-se que o crescimento económico seja robusto este ano e acelere no próximo. No Boletim Económico de outubro, apresentado esta semana, o Banco de Portugal estima que a economia portuguesa cresça 4,8% em 2021, “aproximando-se do nível pré-pandemia no final do ano”.
Para o próximo ano, o Governo trabalha com um cenário de crescimento superior a 5% e a instituição liderada por Mário Centeno prevê uma evolução de 5,6%. É expectável que contabilizem já o impulso proporcionado pelos fundos europeus.
“As perspetivas para 2022 são muito positivas para a consultoria, com os principais motores no Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] e o PT2030 [os fundos estruturais do próximo quadro comunitário]”, afirma Cristina Sousa Dias, partner da BDO.
O impacto destes dois instrumentos nas economias portuguesa e europeia será considerável, pelo que a área terá de reunir valências em várias áreas para apoiar correta e eficientemente o tecido produtivo nacional.
Acresce que os fundos disponibilizados estão destinados à transformação da economia, nomeadamente no que respeita à digitalização e à sustentabilidade.
“No último ano, observámos um número de projetos verdadeiramente transformacionais, acima do que tinha vindo a ser a média, o que representa uma tendência de posicionamento pela diferenciação por parte dos agentes económicos”, diz ao JE Bruno Padinha, Consulting Leader da EY.
Esta tendência espelha bem o caráter disruptivo que se espera numa porção considerável dos projetos de investimento das empresas nos próximos anos.
“É vital para a análise e seleção de projetos o equilíbrio do portfólio de transformação entre projetos táticos (de execução e retorno rápido) e os mais estratégicos (transformadores a médio e longo prazo), bem como a relevância dos mesmos para a competitividade das empresas, organismos do Estado e da economia”, detalha Gabriela Teixeira, Consulting Lead Partner da PwC, sublinhando que “a capacidade de execução destes projetos, quer por efeito da exigência do calendário, quer da complexidade de implementação, será de extrema importância para assegurar um impacto real e sustentável na economia e nas empresas”.
É precisamente este impacto real e sustentável na economia que a Comissão Europeia pretende atingir com o envelope de 16 mil milhões de euros que chegará a Portugal nos próximos anos para a promoção de uma transição energética, digital e que aumente a resiliência da economia nacional. O PRR terá um impacto muito limitado ou nulo no crescimento estimado para este ano, mas já deverá ter efeito na evolução prevista para o próximo ano e para 2023.

 

Consultoras preparadas para a retoma
“As consultoras estão preparadas e prontas para a retoma. Têm os quadros e as equipas, têm conhecimento reforçado, adquirido nos projetos de natureza digital entretanto executados, e são capazes de colaborar com os cliente na realização de diagnósticos precisos, que identifiquem os desafios e riscos de negócio e de processos que cada industria enfrenta”, precisa Paulo André, managing partner da Baker Tilly, reforçando a importância de o sector se preparar adequadamente para dar as respostas que o tecido empresarial necessitará nesta nova fase.
Como tal, e reconhecendo as limitações da própria área, diz que será natural o surgimento de novas parcerias entre consultoras e, por um lado, empresas da área das tecnologias da informação, e, por outro, do marketing.
“Tendo em conta a urgência e crescente complexidade na implementação de projetos integrados relacionados com o movimento designado de transformação digital, surgiram e reforçar-se-ão parcerias entre estas três naturezas de players, numa tentativa de agregar o conhecimento e experiência específica que cada um destes tem, gerando valor acrescentado e diferenciador para o cliente”, concretiza.
Precisamente, a urgência na resposta é tida como um dos motores para a preferência da maioria dos clientes por prazos, em detrimento de maior contenção nos custos. Simultaneamente, estes privilegiam um conhecimento técnico que permita às consultoras serem eficazes e úteis, ficando a sensibilidade ao preço para um segundo plano, embora não seja ignorada.
A prioridade, resume Gabriela Teixeira, é colocada na qualidade do trabalho. “Os clientes procuram soluções para os seus problemas, nas mais variadas áreas de atuação, e dão preferência a equipas multidisciplinares, com forte conhecimento do seu negócio e com agilidade para, rapidamente, apresentar propostas de solução”, concretiza.
Apesar da preponderância que as maiores empresas desta área, as chamadas ‘Big Four’, continuam a ter no sector, as consultoras com menor quota de mercado parecem ter encontrado o seu espaço e, até certo ponto, estão prontas para apostar num crescimento mais robusto.
A contribuir para a possível concretização deste objetivo estão, por um lado, a “democratização” do marketing, menciona Paulo André, e, por outro, a relação próxima que uma empresa de consultoria de menor dimensão consegue estabelecer.
“O mercado é grande, uma vez que a digitalização permite a ‘democratização’ do marketing”, diz, pelo que, “neste novo ambiente, um maior número de empresas (empresas de média dimensão e de B2B, e não apenas multinacionais que operam no B2C), desenvolverá e focar-se-á numa estratégia de marketing que assentará no marketing digital, client experience, design experience, storytelling, etc”, acrescenta.
Além deste aspeto, a evolução das empresas portuguesas também beneficia um processo de desconcentração do mercado, como ilustra Cristina Sousa Dias, da BDO.
“As médias empresas em Portugal têm tido uma evolução muito significativa ao nível da profissionalização da gestão e, em consequência, têm crescentemente recorrido a consultores de diversas matérias”.
“A ligação internacional, a diversidade e qualidade dos serviços, mas também a forma próxima de relacionamento entre consultor e cliente e os preços praticados são fatores determinantes no mercado de consultoria, pelo que estamos confiantes que temos uma forte capacidade competitiva que nos permitirá consolidar o nosso crescimento no mercado”, remata. n

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