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Contenção nos mercados, com olhos no ‘Brexit’ e nos EUA, pedem analistas

Especialistas consideram que 2019 será um ano melhor que 2018, mas é preciso cautela porque um ‘hard Brexit’ pode agitar os mercados e ter consequências que podem assemelhar-se às da falência do Lehman Brothers em 2008.
19 Janeiro 2019, 11h20

Especialistas consideram que 2019 será um ano melhor que 2018, mas é preciso cautela porque um ‘hard Brexit’ pode agitar os mercados e ter consequências que podem assemelhar-se às da falência do Lehman Brothers em 2008.

“Acho que estamos num ponto em que é necessário ter alguma contenção. Acho que os mercados neste momento estão de algum modo inquietos quanto a um eventual cenário de recessão da economia norte-americana, que já está numa fase muito avançada do seu ciclo de expansão, que começou em 2009”, afirmou Carlos Almeida, Diretor de Investimentos do Banco Best, em declarações à Lusa, à margem da Conferência “Best Investment Summit – Desafios e Oportunidades 2019”, que decorreu quinta-feira, em Lisboa.

No verão de 2019 a economia norte-americana completará 10 anos consecutivos de expansão, “o maior ciclo de expansão na sua História”, indicou Carlos Almeida, acrescentando que “é natural que haja alguma inquietação dos investidores e alguma volatilidade nos mercados de ações e também, em certa medida, nos mercados de obrigações”.

O responsável do Banco Best recordou que “o ano de 2018 caracterizou-se por um retorno negativo generalizado das principais classes de ativos, e este ano será um pouco ainda consequência do que foi 2018, fruto de alguns pontos e zonas de incerteza que ainda existem em termos mundiais”.

Também João Pina Pereira, administrador da GNB Gestão de Ativos, com o pelouro da área de investimentos, considera que se pode esperar melhor de 2019, nomeadamente no mercado de obrigações, em relação ao que foi 2018, que considera ter sido “um ano mesmo muito complicado e atípico”.

“Este ano, as taxas de juro das obrigações vão continuar baixas, podem até subir alguma coisa, mas vão continuar baixas, o que não invalida que não haja oportunidades para se ganhar dinheiro em obrigações, e isto em termos de dívida pública”, referiu o especialista, acrescentando que o ‘Brexit’ e a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China são os principais fatores de risco que se colocam neste momento.

“E são fatores de risco tremendos”, acrescentou.

“Viu-se o resultado no ano passado [nos mercados] e este ano pode ser pior do que o ano passado. Vamos supor que há um ‘hard Brexit’ e as coisas descontrolam-se. Basta recuarmos 10 anos. No último trimestre de 2008, na sequência da falência da Lehman o que aconteceu foi um pavor, o mundo parou. Tivemos taxas de decréscimo do PIB nesse trimestre na casa de 4%/5%. Ninguém investia, ninguém consumia”, recordou João Pina Pereira.

“Vamos imaginar que pode acontecer o pior dos desfechos do ‘Brexit’, podemos ter uma situação parecida na Europa, não sabemos, eu acredito que não, mas não tenho certezas”, antecipou.

Carlos Almeida referiu também que 2019 será um ano marcado igualmente pelas eleições europeias, em maio de 2019, “que vão ser muitíssimo importantes”, nomeadamente para “perceber a força do eixo franco-alemão e a forma como Macron e Merkel irão sair deste processo eleitoral e reforçar o seu peso nesta refundação necessária da União Europeia. É preciso perceber que União Europeia é que vamos ter depois deste ‘Brexit’, que é também ele próprio uma zona de incerteza”.

“Começámos por um ‘Brexit’, depois falou-se em ‘hard Brexit’ e eventualmente até poderemos ter um ‘slow Brexit’, que é de facto aqui algo que pode gerar alguma inquietação”, afirmou o responsável.

No mesmo sentido, André Themudo, responsável de vendas da BlackRock Portugal, referiu, durante a conferência, que “ninguém ganhou dinheiro nos mercados em 2018, um ano que foi pouco comum”, mas o especialista da gestora de ativos acredita que o mercado de ações vai voltar para valores positivos em 2019, apesar das incertezas e da volatilidade que “está para ficar”.

“Gostamos do mercado de ações dos EUA, sobretudo do setor saúde, biotecnologia, infraestruturas e setor financeiro, e a nossa segunda aposta são os mercados emergentes”, adiantou André Temudo.

“Onde estamos mais negativos é no mercado acionista europeu, porque há muitos riscos geopolíticos e isso assusta os investidores”, referiu, acrescentando que os preços das ações estão a oscilar sobretudo ao sabor das tensões geopolíticas sem refletir os fundamentais das empresas.

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