Não votou nas eleições europeias que tiveram lugar no mês passado? Contribuiu para abstenção ou foi votar, mas o seu voto foi contabilizado como branco ou nulo? O voto é secreto, como a nossa Constituição estipula – mas eis talvez a novidade: qualquer desses sentidos de não-voto foi exatamente igual para o modelo final de contagem dos resultados.
Ainda não existia o ‘Jornal Económico’, como o conhecemos hoje, e já em Maio de 2015 era escrito: “Confirmam-se as piores previsões. A taxa de abstenção em Portugal foi de 66,2%, o que representa a maior marca de sempre. Pela primeira vez é ultrapassada a fasquia dos 65%”. Como sabemos hoje, cinco anos depois essas “piores previsões” de 2015 foram novamente ultrapassadas sendo que, quanto aos brancos e nulos, a Comissão Nacional de Eleições é clara no seu site: “Os votos em branco, bem como os votos nulos, não sendo votos validamente expressos, não têm influência no apuramento do número de votos obtidos por cada candidatura e na sua conversão em mandatos”.
Quer isto dizer que – não constituindo votos úteis – a abstenção, brancos e nulos todos reunidos não constituem um sinal de protesto ao atual sentido partidário? Não. Antes pelo contrário. Os partidos devem entender o sucedido e tirar as devidas ilações, seja qual for o seu posicionamento político.
Desde há muito tempo escrevo e defendo publicamente qual o caminho que deve ser seguido pelos partidos para recuperarem o interesse do eleitorado: digitalizarem o seu modelo e processo de informação para tornarem os conteúdos mais acessíveis; aumentar a proximidade entre representantes e representados através de ações concretas nas campanhas; dar a palavra aos cidadãos agilizando o modelo referendário, a nível nacional e local…Tudo isto, e mais, daria a palavra ao eleitorado para que exista um sinal de vida e confiança na democracia. Algo que passa muito mais por ações eficazes e politicamente abrangentes do que pelo aumento do número de partidos, como bem sabe quem conhece a história da nossa democracia desde as primeiras eleições livres constitucionais. Saibamos pois, nós políticos, corresponder aos desejos dos cidadãos e quebrar o padrão a que tristemente nos habituámos, dando a quem pode vota razões para que exerça o seu direito com vontade e envolvimento.