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Coopérnico deixa de ter tarifas de eletricidade fixas

Em carta enviada aos clientes a cooperativa de energia renovável propôs aos seus clientes mudar para um tarifário indexado ao preço da eletricidade no mercado liberalizado nacional ou para o Comercializador de Último Recurso (CUR).
1 Dezembro 2021, 11h43

A Coopérnico deixou de ter tarifas fixas de eletricidade e mantém apenas um tarifário indexado aos preços no mercado grossista, refletindo todos os meses as variações existentes. Objetivo passa por travar as perdas acumuladas com o disparar dos preços da energia.

Em carta enviada aos clientes em 30 de setembro, a que a Lusa teve acesso, a cooperativa de energia renovável propôs aos seus clientes mudar para um tarifário indexado ao preço da eletricidade no mercado liberalizado nacional ou para o Comercializador de Último Recurso (CUR).

A cooperativa começa por explicar que a “drástica escalada do preço mundial do gás natural, e consequentemente da eletricidade, imprevista e sem antecedentes, deixou a Coopérnico (e quase todos os outros comercializadores) no dilema: como sobreviver numa situação em que a nossa matéria-prima, a eletricidade, quadruplicou de preço?”.

“Se há pouco mais de um ano estávamos a cumprir o sonho de sermos comercializadores independentes, hoje vivemos o pesadelo de ver esse sonho ameaçado: todos os meses desde o início do verão temos vindo a suportar perdas muito significativas com a atividade da comercialização e afigura-se necessária a adoção de medidas drásticas com efeito imediato para assegurar a continuidade da nossa operação e da nossa cooperativa”, prossegue o presidente da direção, Nuno Brito Jorge, na carta aos clientes e cooperantes.

Para evitar o fim da atividade de comercialização e o contágio de outras áreas negócio (nomeadamente a produção), referia a cooperativa nessa carta, dava aos clientes quatro dias – até 4 de outubro – para mudar para um novo tarifário indexado ao preço da energia no mercado.

Se o cliente não pedisse transferência para o CUR, lê-se na carta, “a alteração para o preço indexado será automática no dia 4 de outubro de 2021 e com efeitos à data do início do próximo período de faturação”.

Segundo a simulação apresentada, um cliente doméstico com consumo de 290 kWh/mês (Quilowatt-hora por mês), com uma potência contratada de 6,9kVA (quilovoltampere), com o novo tarifário passaria a pagar – com preços de setembro – cerca de 104 euros mensais, enquanto no CUR a fatura ficaria pelos 56 euros.

No seu site, a Coopérnico explica que “o tarifário indexado de eletricidade tem uma componente variável que se baseia nos preços de energia no mercado grossista OMIE. Isto significa que, à medida que os custos de energia flutuam, o mesmo acontece com as” suas “faturas mensais de eletricidade”.

Na missiva, Nuno Brito Jorge explica ainda que “a Coopérnico e os restantes comercializadores debatem-se agora com um concorrente inesperado – o próprio Estado – o mesmo que durante muitos anos impulsionou fortemente as famílias portuguesas a abandonar o CUR [mercado regulado] e agora oferece preços mais competitivos”.

Em declarações à Lusa, o responsável explicou que a comunicação aos clientes “foi enviada com a máxima transparência possível, com o objetivo de manter os cooperantes informados e atualizados”.

“Na apresentação das duas alternativas relativamente à comercialização, incluímos um exemplo comparativo entre as situações antes e depois de uma eventual mudança para tarifário indexado e recomendámos até a mudança para o CUR como opção mais barata”, disse.

Segundo Nuno Brito Jorge, desde 01 de outubro, a Coopérnico perdeu 464 contratos num universo de quase 2.000.

“Isto é perfeitamente natural, até diríamos que positivo, uma vez que se trata de passar a pagar quase o triplo pela eletricidade utilizada”, destacou o presidente da direção da Coopérnico em resposta à agência Lusa.

“Com estas medidas foi possível estabilizar a situação financeira da área de atividade da comercialização, no sentido da cobertura dos custos da mesma”, disse, destacando que, uma vez que “a Coopérnico é uma entidade sem fins lucrativos e tem como objetivo empoderar os cidadãos e consumidores, […] não fará sentido cessar a atividade de comercialização, mesmo num panorama tão difícil, enquanto houver força dos cidadãos para continuar a lutar pela mudança de paradigma”.

A crise energética já fez três baixas na comercialização de eletricidade: a HEN foi a primeira a fechar operação, passando os seus cerca de 3.900 clientes para o mercado regulado, seguindo-se empresa Energia Simples (PH Energia), que enviou cerca de 5.300 clientes para o comercializador de último recurso, e a ENAT – Energias, que tinha 4.900 clientes.

Nestes casos, os clientes passam a ser abastecidos pelo comercializador de último recurso.

Em 18 de outubro, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) aprovou um pacote de medidas extraordinárias para os setores elétricos e do gás natural, destinadas a atenuar o impacto negativo dos preços nos mercados grossistas.

“Com a adoção das novas medidas procura-se assim assegurar uma maior flexibilidade da atividade de comercialização em mercado e evitar custos e riscos acrescidos para os consumidores de energia”, informou o regulador, em comunicado.

As medidas, esclarece a ERSE, vão vigorar até ao final do primeiro semestre de 2022, destacando-se entre elas a “saída controlada e minimamente programada de comercializadores de mercado”, evitando assim a quebra operacional decorrente de insolvências.

Questionada sobre a decisão da Coopérnico, a ERSE disse à Lusa que “está, neste momento, a avaliar a situação”.

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