Quero lá saber que Rui Rio gostasse de ver fora do PSD os seus críticos. Ou que as pessoas que o criticam no partido gostassem de lhe fazer um poucochinho daquilo que António Costa fez a António José Seguro. Esse tema, aparentemente interessante para a análise política nacional, não passa de um flagrante da vida de um líder à procura de descanso. É assunto para os militantes, para gente que, quando o partido não está no poder, fica ansiosa, sem muito que fazer e se fragmenta em tantas capelas como o Sporting em candidaturas à presidência do clube.

O que me interessa, e preocupa deveras, é que Rui Rio, como presidente do maior partido da oposição, pareça abdicar de participar na discussão de um tema central da vida pública portuguesa: a nomeação do próximo Procurador Geral da República (PGR).

Se repararam bem, com intervalo de horas, António Costa e Rui Rio assinaram mais uma valente polémica. O primeiro-ministro, circunspecto, assinalou que a nomeação na PGR não é “matéria de luta partidária”. E Rui Rio, oposicionista angelical, falou como o outro Dupont da imortal criação de Hergé, dizendo ainda mais: definitivamente, não quer “partidarizar” a questão. Extraordinário!

Qualquer um desses cidadãos desconfiados e perversos que povoam o Portugal populista poderia, com este episódio, ser levado a pensar do caso o mesmo que de Luís Filipe Vieira quando se vê o presidente do Benfica a defender com unhas e dentes o seu colaborador Paulo Gonçalves: “olá, aqui há toupeira!”

Não sei se há.

Mas sei que, com Joana Marques Vidal, da política ao futebol, passando pela banca, a investigação começou a escrutinar os círculos do poder e do dinheiro. E parece-me que, depois de responsáveis de PCP, BE e CDS terem emitido opiniões favoráveis à ação de Joana Marques Vidal, também Rui Rio podia e devia acrescentar algo oficial, na linha daquilo que já fizeram inúmeras figuras do PSD.

Com isso, Rio não estaria a “partidarizar”. Estaria a participar numa discussão política, a propósito de uma nomeação política – e que nunca foi tão política como desta vez. Era suposto que os partidos existissem para isso. Mas não. O PSD, oficialmente, deixa que o primeiro-ministro esteja à vontade para escrever um nome no papel em branco. E só depois, segundo Rio, entrará na discussão. Obviamente, a partir do nome proposto. Em formalismo e candura raramente se deve ter visto algo semelhante.

Até dia 12, que creio ser a data limite para o presente mandato da atual PGR, resta-nos esperar por Marcelo Rebelo de Sousa, perceber como o Presidente da República vai tratar esta questão – e se também ele não está ali para atrapalhar o funcionamento do regime. De más notícias, só faltaria essa.

Espero que Rui Rio também tenha reparado em como os seus maiores críticos internos não aproveitaram o tema para lhe voltarem a infernizar a vida. A carta no “Expresso” é de malta de Lisboa, não conta. A rapariga da JSD é isso mesmo, jovem. Paulo Rangel é deixá-lo com os macaquinhos no sótão. Dos que interessam – Montenegro, Relvas, Menezes –, nada! Shiu! Calados! Querem ver que na matéria PGR estão em sintonia com o líder?