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Covid-19 é “ira de Deus”, diz conselheiro de partido da Irlanda do Norte

O partido da primeira-ministas da Irlanda do Norte – e que até há pouco sustentava o executivo de Theresa May – distanciou-se das palavras do seu conselheiro. Mas as razões da teoria continuam a dividir profundamente o país.
  • DR
2 Abril 2020, 16h11

Talvez o mais surpreendente seja que a teoria tenha demorado tanto tempo a surgir em público: John Carson, um conselheiro do Partido Unionista Democrático (DUP), escreveu na sua conta de uma rede social que a Covid-19 é “a ira de Deus contra os governos corruptos” que legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo e permitiram a legalização do aborto.

Carson, que é do mesmo partido da primeira-ministra da Irlanda do Norte, Arlene Foster, explica que a pandemia é “o julgamento de Deus” em resposta à introdução de legislação que, na sua ótica, vai contra a vontade de Deus e que “colhe-se aquilo que se planta”.

A teoria do conselheiro do DUP – que até há pouco tempo mantinha uma coligação com os conservadores britânicos que sustentava o governo da antiga primeira-ministra Theresa May – fez o partido entrar em ebulição, com uma série de destacados dirigentes a condenarem as palavras de John Cason.

Os membros mais próximos de Arlene Foster distanciaram-se do conselheiro Carson do vírus, mas a questão levantada indica que os direitos dos homossexuais e as questões sobre o aborto continuam a ser matérias que dividem profundamente os irlandeses. O mesmo se passa, aliás, na Irlanda – apesar das diferenças religiosas profundas – onde o aborto foi legalizado há menos de dois anos, no meio de fortes críticas da parte dos partidos de direita. Recorde-se que o ‘sim’ venceu um referendo sobre a matéria com 66, 4% dos votos.

Por outro lado, nos países onde a deriva fundamentalista evangélica corre ‘a céu aberto’ – como são os casos do Brasil e dos Estados Unidos – a teoria de que a Covid-19 é o resultado da ira divina (uma espécie de dilúvio em versão viral) está subjacente, como restam poucas dúvidas, às palavras dos que afirmam que os cultos comuns são ‘zonas limpas’ do vírus e que a sua realização não implica qualquer propagação da pandemia.

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