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Covid-19 pode reduzir emissões de CO2 mas abrandar o investimento ‘verde’

A instabilidade nas bolsas faz com que os investidores recuem nos investimentos em projetos ‘verdes’. A Agência Internacional de Energia alerta que Covid-19 pode causar desaceleração na transição energética em todo o mundo
16 Março 2020, 07h35

A crise do novo coronavírus pode muito bem por um travão (por agora) nas emissões de CO2 a nível global. Porém, analistas temem que essa notícia possa trazer consequências da parte dos investidores que vão, por sua vez, abrandar no investimento em energia limpa.

A Agência Internacional de Energia (AIE, sigla em inglês) antecipa uma quebra na economia mundial devido ao surto do Covid-19, algo que vai afetar principalmente a procura pelo petróleo o que, por sua vez, deve limitar as emissões de combustíveis fósseis que contribuem para a atual crise climática. E isso, de modo geral, é bom.

Mas Fatih Birol, diretor executivo da AIE, alertou que este surto pode significar uma desaceleração na transição de energia limpa do mundo, a menos que os governos usem investimentos ‘verdes’ para ajudar a apoiar o crescimento económico.

A análise da AIE mostrou que 70% dos investimentos mundiais em energia limpa são a título do governo, seja por meio de financiamento direto ou em resposta a políticas como subsídios ou impostos.

“Não há nada para comemorar num cenário de provável declínio nas emissões impulsionado pela crise económica porque, na ausência de políticas e medidas estruturais corretas, esse declínio não será sustentável”, afirmou.

A agência espacial NASA divulgou imagens de satélite onde mostra níveis decrescentes de dióxido de nitrogénio na China, considerando a epidemia por covid-19 como principal responsável. A prova disso, explica a agência, é que a descida dos níveis de dióxido de nitrogénio (um gás nocivo e emitido por automóveis e instalações industriais) foi inicialmente registada na cidade de Wuhan, precisamente onde surgiu o vírus. À medida que o covid-19 se alastrou pelo país, também este fenómeno ambiental.

O vírus alimentou o medo de uma recessão económica global e ajudou a provocar uma das maiores quedas nos preços do petróleo nos últimos 30 anos, limpando mil milhões de dólares das maiores empresas de energia do mundo. É provável que o contágio económico atrase muitos projetos de infraestrutura, incluindo os investimentos de mil milhões de dólares em energia limpa necessários para evitar uma catástrofe climática até o final da década.

O próximo ano poderá marcar a primeira vez que o crescimento da energia solar no mundo cai desde os anos 80, de acordo com um relatório da Bloomberg New Energy Finance. Os analistas reduziram as previsões para novos projetos de energia solar em 8% e acrescentaram que a venda de veículos elétricos também sofrerá consequências.

A Birol instou os governos globais a investir em medidas de eficiência energética, que podem não oferecer bons retornos a curto prazo, enquanto os preços da energia são baixos, mas provariam um investimento lucrativo a longo prazo.

O chefe da AIE também pediu aos reguladores que usem a desaceleração dos preços globais do petróleo para eliminar progressivamente ou eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis, que poderiam ser usados para aumentar os gastos nas políticas de saúde. O órgão encontrou subsídios governamentais para combustíveis fósseis que ultrapassam os 400 mil milhões de dólares por ano.

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