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Covid-19: Reino Unido contabiliza mais de 50 mil mortes e os números continuam a crescer

A falha do governo britânico em partilhar dados completos sobre a propagação da doença com as autoridades locais e ao público deu uma falsa impressão de sucesso, criando, com isso, um ‘Iceberg’ de infeções, segundo um especialista do campo da saúde consultado pela “Reuters”.
24 Novembro 2020, 17h15

Uma investigação conduzida pela “Reuters” expôs como as lições da primeira onda de infeções da Covid-19 não foram aprendidas e que, em última análise, levaram o Reino Unido a implementar novas medidas drásticas de confinamento.

A falha do governo britânico em partilhar dados completos sobre a propagação da doença com as autoridades locais e ao público deu uma falsa impressão de sucesso, criando, com isso, um ‘Iceberg’ de infeções, segundo um especialista do campo da saúde consultado pela “Reuters”.

Embora os testes e o rastreamento de contatos tenha sido expandido, o governo britânico fê-lo de uma forma tão ineficiente que não conseguiram acompanhar a propagação do vírus. Uma análise da “Reuters” revela que Inglaterra conseguiu rastrear apenas um contato não familiar – alguém que não mora com a pessoa infetada – para cada dois casos identificados de Covid-19.

A razão para essa disfunção, reside num design desarticulado e uma preferência do governo, ao contrário de alguns conselhos de especialistas, por soluções nacionais em vez de respostas locais direcionadas.

David Heymann, autoridade mundial em rastreamento de contactos e o primeiro presidente da ‘Public Health England’ – a agência governamental encarregue de liderar a resposta às pandemias, afirma que “este não é o sistema que eu projetaria com base no que entendo sobre ele agora”. Um sistema para combater a pandemia precisa ser centrado localmente”. Heymann acrescenta que “a confiança face a face é o que é importante… não se pode fazer o rastreamento de contacto de um local central para ser eficaz”.

Em contrapartida, um porta-voz do Departamento de Saúde e Assistência Social, ministério da saúde do Reino Unido, negou que a resposta do governo ao Covid-19 tenha falhado. Desde o início da pandemia, disse o porta-voz, “trabalhamos rapidamente para construir o maior sistema de testes per capita da população de todos os principais países da Europa”. O sistema de rastreamento ajudou a impedir a propagação do vírus e pediu a mais de dois milhões de pessoas que se isolassem, acrescentou o porta-voz.

Entre as nações mais ricas do mundo, o Reino Unido teve o segundo maior número de mortes causadas pelo novo coronavírus na primeira onda da pandemia, apenas superado pelos Estados Unidos.

Depois de suportar um confinamento de três meses na primavera, os britânicos esperavam que o governo do primeiro-ministro Boris Johnson colocasse em prática uma nova estratégia para proteger a nação durante o inverno. Mas, com o número de infetados em crescimento e as mortes a superarem as 350 por dia, a Inglaterra entrou noutro confinamento a 5 de novembro.

O país é um dos muitos que lutam para lidar com um novo surto da doença. Com mais de 12 mil mortes adicionais até 19 de novembro na segunda onda, a Grã-Bretanha está a registar quase quatro vezes mais mortes per capita do que a Alemanha, embora não tanto quanto a Espanha ou a França.

Johnson, que contraiu Covid-19, foi acusado por muitos cientistas de agir muito lentamente para interromper a propagação inicial na primavera. Conforme relatado pela “Reuters” no início deste ano, por trás dessa tragédia esteve o fracasso em detetar a infeção quando ela chegou, em erradicá-la com um bloqueio precoce e em implementar o rastreamento e o isolamento eficazes dos casos, como fizeram alguns países pioneiros na Ásia e costumava ser feito na Alemanha.

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