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CPI à CGD: “Seria altamente improvável que ajudasse Berardo a ter mais votos para me destituir”, diz Filipe Pinhal

Ex-administrador do BCP está a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa depois de José Berardo ter dito aos deputados que foi Filipe Pinhal que lhe sugeriu fazer um crédito na CGD. Pinhal assegura que está fora de questão que um administrador que José Berardo quis afastar da administração do BCP o fosse ajudar a aumentar o seu ‘poder de voto’.
11 Junho 2019, 16h07

O antigo administrador do BCP desmente o empresário José Berardo de que foi Filipe Pinhal  que lhe sugeriu fazer um crédito na Caixa Geral de Depósitos para comprar acções do BCP, onde  em 2007, Pinhal era um dos administradores que o empresário madeirense queria afastar.  O desmentido foi dado por Filipe Pinha aos deputados na II Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e à Gestão do Banco, depois de José Berardo ter assegurado na sua audição que foi o antigo administrador do BCP que lhe sugeriu fazer um crédito na Caixa, já que o próprio banco, então liderado por Paulo Teixeira Pinto, não podia financiar compra de acções próprias

“Desminto Joe Berardo, O grande aumento da posição de Joe Berardo teve lugar no verão 2007. Por essa altura, [Berardo] estava a assinar uma proposta para levar à Assembleia Geral de 6 de agosto para destituir cinco administradores do BCP, entre os quais eu. Por isso, seria altamente improvável que ajudasse Joe Berardo a ter mais votos para me destituir” , disse Filipe Pinhal nesta terça-feira, 11 de junho, na comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa  que está a ouvir o antigo administrador do BCP na sequência ao pedido do PSD face às declarações públicas de Berardo a 10 de maio no Parlamento quando falou sobre os créditos de alto risco que lhe foram concedidos em 2007 e que estão sinalizados na auditoria da EY à gestão do banco estatal entre 2000 e 2015 que concluiu por perdas de 1.647 milhões de euros em 186 operações de crédito que acabaram por se revelar ruinosas.

“Tendo em conta as declarações públicas do comendador Joe Berardo, no passado dia 10 de maio nesta comissão de inquérito, onde afirmou que foi o administrador do BCP, Filipe Pinhal, que lhe sugeriu fazer um crédito na Caixa, já que o próprio BCP não podia financiar compra de ações suas, e que foi o próprio Filipe Pinhal que fez o primeiro contacto com a Caixa, os deputados do grupo parlamentar do PSD vêm, nos termos legais e regimentais aplicáveis, solicitar junto de vossa excelência a audição com caráter de urgência do Dr. Filipe Pinhal”, indica o requerimento dirigido ao presidente da comissão, o deputado social-democrata Luís Leite Ramos.

Filipe Pinhal assegura agora que está fora de questão que um administrador que José Berardo quis afastar da administração do BCP o fosse ajudar a aumentar o seu ‘poder de voto’, encaminhando-o para a CGD, onde poderia financiar-se para aumentar o número de votos.

Os argumentos de Pinhal são corroborados pelo empresário Patrick Monteiro de Barros, ex- accionista do GES, ao revelar em entrevista ao Jornal Económico, a 24 de maio, que  Joe Berardo foi financiado para comprar ações do BCP no tempo em que José Sócrates era primeiro-ministro, e que esta era parte de uma estratégia de domínio sobre o banco.

Recorde-se que esta estratégia culminou no afastamento dos gestores fiéis ao ex-presidente  Jardim Gonçalves como o então vice-presidente Filipe Pinhal e o administrador Christopher de Beck e na nomeação, no início de 2008, de Carlos Santos Ferreira para liderar o BCP. Na dança de cadeiras Santos Ferreira foi acompanhado pelo seu vice na CGD, Armando Vara, que se manteve como número dois.

Uma guerra de poder que coincidiu no tempo com os o empréstimo concedido pela CGD às entidades da esfera empresarial de Joe Bernardo para a compra de ações do Millennium BCP.   Uma operação que sabe-se agora era do conhecimento do ex-governador do Banco de Portugal (BdP), Vítor Constâncio, que, no final da semana passada, garantiu que não esteve presente na reunião do conselho de administração do BdP que tomou a decisão de não oposição ao reforço de Joe Berardo no BCP em agosto de 2007. E garantiu ainda que só teve conhecimento das operações de crédito “a posteriori”.

O jornal Público assegura, no entanto, nesta terça-feira, 11 de Junho que, o ex-governador do BdP teve acesso aos documentos com a informação completa sobre a operação que foi analisada durante dois meses pelo departamento de supervisão do banco central.

 

 

CGD deu créditos de 350 milhões a Berardo sem garantias

Em causa está o reforço de Berardo no capital do BCP que foi financiado por um empréstimo de 350 milhões de euros da CGD, cuja garantia eram as ações (títulos especulativos) do próprio banco que iriam ser adquiridas. Recorde-se que estes títulos viriam a cair drasticamente em bolsa durante a crise financeira de 2008 e 2009, não tendo o empresário madeirense conseguido pagar o empréstimo.

O grupo do empresário madeirense Joe Berardo é apontado pela auditoria da EY à gestão da Caixa entre 2000 e 2015 como um dos maiores devedores da Caixa e este crédito integra a lista de várias dezenas de créditos de alto risco concedidos pelo bancos a clientes, desrespeitando os próprios regulamentos internos do banco. Só a Fundação Berardo tem uma dívida de 280 milhões de euros à Caixa. Acrescentando o valor do outro crédito, perfaz um valor global de 333 milhões de euros, numa linha de até 350 milhões de euros, com imparidades já assumidas de 152 milhões de euros.

A 14 de Julho de 2006, Berardo contratou com a CGD um crédito de 50 milhões de euros, para compra de 58,2 milhões de acções do BCP, a vencer a cinco anos em regime de bullet (empréstimo-bala): a pagar no final do prazo de 14 de Julho de 2011. Além da dispensa do aval de Berardo neste crédito , os responsáveis da Caixa deram luz verde a várias outras alterações às condições de concessão de crédito, de acordo com a ata nº14/07, que revela que o empréstimo concedido por um prazo de cinco anos passou a ser uma “operação sob a forma de conta corrente”, e o rácio de cobertura da dívida contraída caiu dos iniciais 110% para 105%.

No ano seguinte, em maio de 2007, o investidor acordou, no mesmo regime, um novo financiamento de 350 milhões de euros, a vencer em maio de 2012, repartido em duas tranches. Novamente para compra de acções do BCP.

Em contrapartida, a Fundação Berardo deu, como garantia do pagamento desse crédito ações das ex-PT e ex-PT Multimédia, BCP, EDP, BPI, Brisa, Sonae SGPS e ex-Sonaecom. Quando autorizou o crédito à Fundação, no início de março de 2007, a CGD admitiu dispensar o aval de Berardo após analisar as contas da fundação.

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