O governo de Emmanuel Macron prepara-se para um novo teste à sua determinação e capacidade política. Depois de ter sobrevivido a duas moções de censura no parlamento e a uma mão cheia de demissões em pouco mais de um ano, a desaceleração do crescimento económico pode vir a criar novas dificuldades ao executivo francês. A cedência a lóbis e a incapacidade de travar os gastos e o défice público colocam a popularidade do presidente em queda livre, numa altura em que o país se começa a preparar para as eleições no Parlamento Europeu do próximo ano.
O primeiro-ministro, Edouard Philippe, veio esta semana detalhar as principais metas orçamentais para 2019. Entre as várias surpresas anunciadas, está a revisão da taxa de crescimento económico: o governo de Macron prevê que a economia cresça 1,7% este ano, ao invés dos 1,9% inicialmente avançados. A correção das previsões acontece pouco depois de terem sido revelados dados económicos também eles pouco favoráveis a Macron, que prometeu fazer renascer a economia francesa.
No segundo trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) francês manteve um crescimento anémico de 0,2%. As importações recuperaram 1,0%, após uma queda de 0,4% no trimestre anterior, e as exportações cresceram apenas 0,2%. Os números são sobretudo desanimadores tendo em conta que, após cinco anos de fraco crescimento económico sob a liderança de François Hollande, a economia francesa registou um crescimento de 2,2% logo após as eleições de maio do ano passado, num clima de entuasiasmo com a agenda reformista e progressista do líder do “En Marche”. Mas, até agora, o presidente que tem tentado persuadir outros países da União Europeia a seguir as suas medidas para reformar a zona euro, tem conseguido apenas um desempenho sem brilho no seu país.
Embora os economistas concordem que muitas das medidas de liberalização do Estado e de aumento da competitividade da França apresentadas por Macron demorem alguns anos a fazer efeito, o que é certo é que a ausência de resultados a curto prazo pode custar votos ao executivo nas próximas eleições para o Parlamento Europeu. Além disso, as reformas sociais e a tomada de medidas impopulares, como o aumento de impostos e os sucessivos cortes nos orçamentos do poder local e regional, não têm convencido nem agradado aos franceses.
A somar-se ao fraco crescimento económico, que tem conquistado intenções de voto à oposição e minado a confiança dos franceses no atual executivo, estão os sucessivos escândalos e as demissões inesperadas. Após regressar de férias, Macron foi confrontado no início da semana com uma nova demissão no seu Executivo – desta vez do ministro do Ambiente, Nicolas Hulot. Em direto, numa entrevista à rádio France Inter, Nicolas Hulot confessou estar “frustrado” com a falta de progressos e a dificuldade do governo em se libertar dos chamados “representantes de interesses”.
O pedido de demissão daquele que era um dos “ministros-estrela” de Macron atingiu a sociedade francesa como uma bomba e veio enfraquecer a já frágil liderança do Executivo francês, ainda a ‘digerir’ o caso Benalla. No âmbito deste caso – em que Macron é acusado de montar uma “polícia paralela” em conjunto com o seu chefe de segurança pessoal –, o Palácio do Eliseu mergulhou na pior crise desde as últimas eleições e sofreu duas moções de censura, às quais o Executivo sobreviveu à custa de uma perda de credibilidade gritante junto do povo francês.
A popularidade do centrista caiu para os níveis mais baixos desde o início do seu mandato, segundo uma sondagem feita pela YouGov, no início de agosto. Os dados revelam que o desempenho de Macron no cargo é visto com bons olhos apenas por 27% dos franceses, menos cinco pontos percentuais do que na sondagem anterior.
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