António Costa, o primeiro-ministro, está perante um dos maiores dilemas da sua já longa carreira política. Costa tem pergaminhos no PS, cresceu ao lado de Jorge Sampaio, passou pelo escritório deste com Vera Jardim, e começou na política ainda muito cedo, mais concretamente na JS.

É um animal político comparável a Marcelo Rebelo de Sousa e a Paulo Portas. Percorreu todos os lugares partidários e de Governo, passou pela Câmara Municipal de Lisboa, foi várias vezes ministro e assume atualmente o cargo de primeiro-ministro.

Mas nunca como hoje se confrontou com um dilema tão complexo e perverso. E o dilema está em conseguir retirar do Governo uma figura politicamente tóxica como Eduardo Cabrita.

O ministro, para além de figura proeminente do que resta do chamado lobby de Macau, é um dos amigos mais próximos de António Costa. E isso dificulta duplamente a tomada de decisões. A sua mulher também foi ministra do Governo de Costa e hoje foi elevada a um cargo superior na administração pública.

Mas, convenhamos, Cabrita como ministro da Administração Interna está ferido na sua capacidade de responder pelos atos que pratica enquanto governante e tudo por causa de uma série de opções ou de circunstâncias fortuitas, como foram os recentes casos do atropelamento, dos festejos do Sporting e agravamento da situação pandémica e, mais atrás, com os casos das golas, dos incêndios e Pedrógão, entre muitos outros.

O ministro está no Governo porque sabe que Costa nunca o irá demitir. Tem de ser Eduardo Cabrita a sair pelo seu pé. Ora, este homem que há uns anos retirava o microfone e a capacidade de falar a um secretário de Estado do Governo PSD/CDS e que responde como bem lhe apetece à comunicação social, sem se importar com as consequências, é um governante sem filtro, e isso é inadmissível para alguém que está tão próximo do primeiro-ministro.

Cabrita encontra-se em roda livre, passe o eventual humor negro. E só irá parar quando António Costa encontrar uma solução para o retirar da condução política e colocar fora do Governo.

A oposição, por seu lado, tirando vozes como a de Ventura, está petrificada com tudo o que gira à volta de Cabrita e não se sabe bem porque não atua, não convoca o parlamento e não lhe exige responsabilidades com veemência. Cabrita é inimputável politicamente! Até quando?

Mas será que Costa está verdadeiramente perante um dilema ou uma solução mais abrangente? Os rumores sobre a remodelação governamental potencialmente em curso mas que todos desmentem, avançam com um cenário de inteligência em que o futuro Ministério da Administração Interna (MAI) seria gerido pelo atual ministro das Infraestruturas, livrando-se António Costa de um ministro provocador e com uma pasta que envolve a TAP, e dando-lhe um lugar no Governo e num ministério que dá muitas dores de cabeça.

Para o seu lugar iria alguém que tem estado a trabalhar com Cabrita no MAI, mantendo gente da confiança do primeiro-ministro com um dossiê politicamente exposto, como é o da transportadora aérea nacional, e ainda o dossiê da habitação, que vários governantes já concluíram que tem sido um desastre.