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Cristina Casalinho: “Permanece percepção de risco sobre a dívida portuguesa”

Apesar do programa de compras lançado pelo Banco Central Europeu em março, que estabilizou o mercado, os investidores continuam a olhar para dívida da República com algum risco, disse a presidente do IGCP. Covid-19 impediu execução de troca de empréstimos para alongar maturidades.
  • Cristina Bernardo
30 Setembro 2020, 11h24

A presidente da Agência de Gestão de Tesouraria e da Dívida Pública — IGCP, Cristina Casalinho, disse que a dívida portuguesa continua a ser percepcionada pelos investidores como tendo algum risco, apesar da ação “fundamental” do Banco Central Europeu.

Em audição na Comissão de Orçamento e Finanças (COF), esta quarta-feira, Cristina Casalinho realçou o papel do BCE como  “fundamental” na estabilização dos mercados a partir de março, quando lançou o Pandemic Emergency Purchase Programme (PEPP), o programa de compra de ativos que beneficiou as taxas de juro da República, porque “regressaram aos patamares pré-Covid”.

No entanto, Casalinho referiu que o prémio de risco português está “um pouco superior” aos registados em Espanha, Itália e Irlanda. “Isto leva-nos a pensar que, apesar do esforço do Banco Central Europeu (BCE), ainda há uma percepção de risco, que se mantém”.

A presidente do IGCP alertou que uma alteração do PEEP poderá levar a um “ligeiro”aumento das taxas de juro. “O fator mais determinante que pode perturbar as taxas de juro é uma alteração do PEEP, que terá necessariamente algumas repercussões na evolução das taxas de juro e pode antecipar-se um ligeiro aumento”, afirmou.

A Covid-19 alterou a estratégia de troca de dívida que o IGCP tinha delineada para este ano, de forma a alongar o vencimento do financiamento externo da República.

“Continuámos em 2019 a fazer trocas exactamente para alongar o perfil e, este ano, gostaríamos de evoluir neste sentido de continuar a fazer trocas. Fizemos uma em janeiro mas, depois, o mundo mudou e desde janeiro que não fizemos trocas. A ideia era voltar a fazer trocas, mês sim, mês não, mas foi interrompida pela realidade”, frisou a presidente do IGCP.

Cristina Casalinho referiu ainda que há atualmente uma maior “robustez” na base de investidores da dívida pública, uma vez que os hedge funds — “os fundos mais oportunísticos” — têm vindo a desinvestir na dívida de Portugal e, simultaneamente, “vemos também um aumento de relevância dos bancos centrais e de instituições oficiais, o que dá robustez à base de investidores”.

Necessidade financiamento do Estado deverá atingir 28 mil milhões

Para Cristina Casalinho, se o ano de 2019 foi “absolutamente calmo e “sem qualquer acontecimento anormal” no ponto de vista da gestão da dívida pública, 2020 tem sido um ano de contraste em que, devido ao contexto de incerteza, “há um aumento generalizado das necessidades de financiamento devido à evolução prevista do saldo orçamental [que é] transversal a todos os mercados soberanos europeus de dívida”.

Em Portugal, para este ano, o IGCP prevê que a necessidade de financiamento atinja os 28,2 mil milhões de euros, o que reflecte “os impactos associados à pandemia”.

Entre as fontes de financiamento, o IGCP estima emitir 20 mil milhões de euros em Obrigações do Tesouro e prevê emitir 3,2 mil milhões em Bilhetes do Tesouro.

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