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Cristina Ferreira: a ‘Senhora Televisão’ é uma máquina de fazer milhões

O salário da apresentadora está ao nível dos maiores gestores da bolsa portuguesa. Licenciadaem História, chegou a dar aulas mas um curso para apresentadores de televisão mudou o rumo da “miúda” da Malveira.
26 Janeiro 2019, 16h00

É uma das mulheres mais influentes do país e está no centro de uma guerra de audiências. O “Programa da Cristina” estreou na segunda-feira, dia 7 de janeiro, e o programa da SIC obteve um “share” de 40,1% (653.200 espetadores), contra 362. 500 do “Você na TV”, apresentado por Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes. A distância agravou-se na terça-feira, dia 8, com Cristina Ferreira a conseguir mais pessoas a assistir ao programa em direto. Esta performance no pequeno ecrã beneficiou os investidores. Em duas sessões a Impresa, dona da SIC, valorizou 10% em bolsa, elevando o ganho anual para 19,5%. Um desempenho que anula parte da forte queda sofrida pelos títulos em 2018: caíram 60%. Recorde-se que em agosto do ano passado, a TVI anunciou que o canal da Media Capital e a apresentadora acordaram em “não renovar o contrato de prestação de serviços com a profissional”. Segundo números avançados pela imprensa, iria ganhar cerca de um milhão de euros por ano. As negociações para a transferência da TVI para a SIC duraram cerca de um mês e a contratação foi uma decisão da família Balsemão, juntamente com Daniel Oliveira, que em Junho assumiu o cargo de diretor-geral de Entretenimento da Impresa.

Ao longo dos anos, criou um império, que já foi avaliado pelo IPAM (Instituto Português de Administração de Marketing) em 10 milhões de euros. Ela é uma das caras mais lucrativas do marketing. Os negócios da apresentadora passam por uma linha de sapatos, o blogue “Daily Cristina”, uma loja de roupa na Malveira, os livros ou a linha de vernizes. Cristina tem ainda uma revista com o seu nome e detém ainda uma participação nas empresas LUVIN, uma agência digital, e na Notable, consultora de comunicação. No total, estes negócios (e outras parcerias com marcas) já faturam mais de um milhão de euros por ano, apurou o Jornal Económico. A apresentadora conta ainda com 1,7 milhões de seguidores no Facebook, e 913 mil no Instagram. Lançado em 2013, o blogue “Daily Cristina” recebe 1.120.000 visualizações únicas por mês e tem, em média, 2.250.000 visitas mensais.

Cristina, de 41 anos, nasceu na Malveira. Filha de um bate-chapas e de uma doméstica, sempre se orgulhou das suas raízes humildes. Em miúda, gostava de ir para a feira com uma tia que vendia enxovais. Saíam de madrugada, na carrinha, e a apresentadora ajudava no que fosse preciso. Ali, diz, aprendeu a falar com o público. Um trunfo valioso para a carreira. “Ensinou-me que, quando se tenta vender algo — e todos nós tentamos vender algo, tento vender o meu trabalho todos os dias — temos de o vender consoante as pessoas que estão a olhar para nós. Em televisão, o mais importante é saberes o público para o qual trabalhas. Não vendes a mesma coisa num público da manhã como vendes à noite. Só hoje percebo que fui buscar essas coisas ali”, disse recentemente numa entrevista ao jornal Expresso.

Licenciada em História, chegou a dar aulas no Ensino Secundário. Depois, tirou o curso de Ciências da Comunicação com o objetivo de ser jornalista. Ainda estagiou na RTP, no programa Regiões, mas o entretenimento desviou-a do jornalismo. Entrou para a TVI depois de um curso de apresentação de televisão coordenado por Emídio Rangel. Estreou-se como apresentadora nos diários do programa “Big Brother”. Seguiu-se o “Diário da Manhã” e o “Você na TV!”, programa líder de audiências que conduziu durante 13 anos ao lado de Manuel Luís Goucha. “Uma Canção para Ti”, “A Tua Cara não Me É Estranha” e “Dança com as Estrelas” e “Apanha se Puderes” são programas que também apresentou na TVI, antes de anunciar a  mudança para a SIC, naquela que foi a mais noticiada transferência televisiva de sempre em Portugal.

Esta semana, durante a estreia do novo programa, recebeu um telefonema que a deixou em lágrimas. “Está? Daqui é Marcelo Rebelo de Sousa. Interrompi aqui uma reunião que tinha e espreitei para ver o seu primeiro programa e, como ao longo da vida, estive várias vezes consigo quando arrancou com novas fases da sua vida, queria desejar-lhe muitas felicidades e enviar-lhe um beijinho”, disse o Presidente da República.

“Posso chamar-lhe professor? É que tenho dificuldade em chamar-lhe presidente?”, respondeu Cristina, que não estava à espera do telefonema. Apenas a produção do programa sabia que o Presidente lhe ia telefonar. “Espero que tenha o mesmo sucesso que teve noutras fases da sua vida”, disse Marcelo. “Queria agradecer por ser o Presidente de todos os portugueses. Quero que saiba que esta porta estará sempre aberta”, acrescentou. O telefonema pode ser um bom prenúncio. Marcelo já tinha sido capa da revista “Cristina”, numa edição que vendeu mais de cem mil exemplares.

Artigo publicado na edição 1971, de 11 de janeiro do Jornal Económico

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