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Da silvicultura às caminhadas, em Monchique fazem-se contas ao futuro

Por estes dias, Reinaldo Alves vai dando voltas pela serra à procura das bolsas verdes que se escondem por uma paisagem feita de cinzas e de árvores queimadas.
11 Agosto 2018, 13h24

Ricardo não sabe como vai aguentar com uma empresa de silvicultura em Monchique, onde uma grande parte do concelho ardeu. Reinaldo espera que seja possível continuar a dinamizar caminhadas pela serra, em bolsas verdes entre a paisagem negra.

Por estes dias, Reinaldo Alves vai dando voltas pela serra à procura das bolsas verdes que se escondem por uma paisagem feita de cinzas e de árvores queimadas.

Trabalhador na Câmara de Monchique, dedica-se nos tempos livres a guiar pessoas em caminhadas pela zona, onde o turismo de natureza começava a fazer o seu caminho.

“Monchique estava a desenvolver-se e, além daqueles que vinham por nossa iniciativa, encontravam-se centenas de pessoas – portugueses e estrangeiros – a caminhar” pela serra, à procura de um Algarve diferente, explica à agência Lusa Reinaldo.

Anda por Barranco dos Pisões, por onde passa uma ribeira no meio de pedregulhos e floresta nativa. “Ao menos isto escapou”, nota Reinaldo, que vai dando conta dos pontos de interesse que terão escapado e de outros que arderam.

“A gente se for a um sítio mais alto vê negro por todo o lado”, sublinha o habitante natural do concelho, que entende que o turismo estava a afirmar-se como mais uma fonte de riqueza e de criação de postos de trabalho no concelho do interior do barlavento algarvio.

Agora, o turismo associado à natureza “fica comprometido”.

“Não podemos começar a fazer caminhadas pelo meio da cinza”, realça.

Ricardo Sousa, jovem de Alferce, no concelho de Monchique, é mais um rosto de desânimo, quando se fala das consequências do fogo que deflagrou a 3 de agosto e que terá consumido cerca de 27 mil hectares.

Há cinco anos, começou sozinho a fazer trabalhos de silvicultura em Monchique e hoje tinha uma empresa com 12 trabalhadores.

“Fui crescendo lentamente e agora, em quatro ou cinco horas, perdi o que construí em cinco anos”, diz à agência Lusa o jovem de 28 anos.

Agora, a empresa especializada em trabalhos de limpeza de terrenos e matos vai ficar reduzida a quatro trabalhadores por causa do incêndio.

“Fiquei sem trabalho. Não sei o que vou fazer”, nota, apontando também para a zona ardida pelo incêndio de 2016, em Monchique, onde ainda não há trabalho na sua área.

Ricardo Sousa, desalentado, espera agora estender-se para outras zonas, nomeadamente para o Alentejo, por forma a garantir a continuidade de trabalho.

“Se eu não continuar com a empresa, vou fazer o quê”, pergunta.

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