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“Daqui a um ou dois dias alguém vai cair”. Movimento “A Pão e Água” pede tributação reduzida pela metade

Reunidos em circulo, com dois aquecedores a meio e sentados, assim permanecem os participantes da greve de fome enquanto aguardam pela ajuda do Governo. “Parece um reality show, tem sido difícil”, confessou ao JE Ljubomir Stanisic reforçando que “emocionalmente temos altos e baixos como tudo, tem sido duro”.
30 Novembro 2020, 17h55

O movimento chama-se “A Pão e Água”, mas desde sexta-feira estão apenas a água, chá e café. Pedem que o Governo os ouça e avance com medidas que salvem os setores da restauração, animação de eventos e discotecas. Segundo o que contou ao Jornal Económico (JE) o chef de cozinha Ljubomir Stanisic “daqui a um ou dois dias alguém vai cair”.

Reunidos em circulo, com dois aquecedores a meio e sentados, assim permanecem os participantes da greve de fome enquanto aguardam pela ajuda do Governo. “Parece um reality show, tem sido difícil”, confessou ao JE Ljubomir Stanisic reforçando que “emocionalmente temos altos e baixos como tudo, tem sido duro”.

Quando questionado sobre o estado de saúde dos intervenientes, o chef de cozinha contou que no domingo, no segundo dia da greve de fome, uma pessoa teve uma “gigante paralisia muscular”. “É normalíssimo, não está a ingerir proteínas”. Quanto ao que Ljubomir Stanisic tem ingerido, garante: “só bebo água, chá e café” e recorda que “já estive na Jugoslávia, sei o que é passar fome”.

A água, chá e café que têm sido trazidos por simpatizantes pela causa, que começam a ficar preocupados com o estado de saúde de quem atualmente acampa em frente à Assembleia da República. Sónia Costa, cantora e amiga de alguns intervenientes, revelou ao JE que “até trouxe Iced Tea, mas eles não bebem nada com açúcar”. “Estou preocupada com a saúde deles”, admite.

“Um Estado que não paga também não pode cobrar”

José Gouveia, representante do movimento “A Pão e Água” aponta ao JE: “Estarmos aqui em greve de fome e o senhor primeiro-ministro estar na Comporta a fazer umas mini férias e o senhor presidente Marcelo Rebelo de Sousa estar a fazer umas férias no Algarve, diz tudo”.

“O secretário de estado do comércio disse que está falido, não tem dinheiro, então não há outra forma se não retomar a economia”, assegura José Gouveia sublinhando que “se o estado não pode pagar também não pode cobrar, se o estado entende que está falido olhe para as empresas”. A ajuda que pedem passa pela “tributação reduzida pela metade , seja através do IVA, da TSU, do IRC, de qualquer imposto”

José Gouveia acredita que as pequenas e médias empresas precisam ser “recapitalizadas a fundo perdido, não precisamos de mais moratórias porque isso vai cair em cima das empresas como um tsunami mais tarde”. Para as PME será igualmente necessário que o “IVA seja pago em prestações, tem de se manter até às empresas se equilibrarem” e que os horários dos estabelecimentos regressem à normalidade.

Uma visita à casa da Presidência que soube a pouco e não teve álcool gel a acompanhar

As medidas pedidas pelo movimento “A Pão e Água” podiam ter sido reveladas na sexta-feira ao Presidente da República, ou pelo menos, assim esperavam os manifestantes. No entanto, foram surpreendidos por serem recebidos por dois assessores. Além da ausência de Marcelo Rebelo de Sousa, José Gouveia recorda que “na casa da Presidência fomos recebidos, não nos mediram a febre, não nos indicaram álcool gel, não desinfetaram os nosso cartões quando a gente os deu, não desinfetaram quando os devolvemos”. “Só faltou dizerem para não usarmos máscara porque ali o vírus não existia” frisou.

Sobre a experiência, Ljubomir Stanisic demonstra-se desapontado com o Presidente da República e frisa que “tem respeito por Marcelo Rebelo de Sousa, mas para ser respeitado convém respeitar os outros e isso não está a acontecer”. “Não estamos a fazer isto para tocar em sentimentos a ninguém, estamos a lutar pela liberdade da nação”, afirmou Ljubomir Stanisic.

Quanto ao primeiro-ministro, o ‘chef’ diz que “não lhe quero ligar pessoalmente, porque este é um ato civil, humanitário e tem de vir aqui falar connosco”. “Caro António, já nos conhecemos há muito tempo, por amor de deus, está na altura, ele vai aos nosso restaurantes comer e beber” enalteceu o chef de cozinha.

Setor noturno sem trabalho há nove meses 

Os manifestantes prometem manter a greve de fome e leva-la até às últimas consequências. “Não volto a casa sem uma solução, sei que é o limite, um desafio muito grande, tá a ser mais difícil do que eu pensava”, assumiu ao JE Alberto Cabral, dono de seis discotecas fechadas há nove meses na zona norte, no Porto, em Espinho, Santa Maria da Feira, Chaves, Vila Real e Bragança.

Lembra que tentou adaptar os espaços para poder reabri-los, mas “quando estava a fazer as obras o primeiro ministro decidiu reduzir os horários para as 22”. “Neste momento estou no limite, eu e os meus colegas estamos no limite, todos, não há mais condições de manter 18 empregados e sem qualquer apoio do Governo”, garante.

“Estamos sem trabalhar há nove meses  como é que os políticos do nosso país conseguiam aguentar aquilo que eu aguentei, nove meses a pagar a 18 empregados, a pagar rendas, a pagar água, a pagar luz”, questiona Alberto Cabral.

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