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DBRS analisou o custo do risco do crédito em 40 bancos. A CGD é a que tem o custo mais baixo

A DBRS considera “baixas” as provisões para risco de crédito da banca portuguesa para fazer face às perdas esperadas com o Covid-19. A análise sobre a evolução do risco de crédito focou-se numa amostra de 40 bancos europeus, nomeadamente na França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Noruega, Portugal, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido.
  • Cristina Bernardo
9 Junho 2020, 07h43

O custo do risco de crédito dos bancos europeus aumentou “significativamente” no primeiro trimestre devido à pandemia, segundo a agência DBRS que fez um estudo a 40 bancos europeus incluindo dois portugueses (BCP e CGD). O banco do Estado é aquele que tem o custo do risco mais baixo. O que pode ser um sinal de que tem uma boa carteira de crédito ou que não está a ser suficientemente prudente no que toca a imparidades para crédito que venham a ter de ser constituídas nos trimestres seguintes por causa do impacto económico da pandemia Covid-19.

A DBRS diz que “manter os baixos níveis de custo do risco reportados por alguns bancos será um desafio e, como resultado, esperamos que os bancos com menor custo do risco reportado em março, registem uma subida significativas nos trimestres seguintes”.

Este comentário da agência canadiana concentra-se no custo do risco (CoR) reportado por uma amostra de 40 bancos na Europa, incluindo bancos na França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Noruega, Portugal, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido.

Bancos que apresentaram maior risco de crédito no primeiro trimestre
O BBVA e o Barclays foram os bancos que apresentaram o CoR (custo do risco) mais alto em termos anualizados no primeiro trimestre de 2020 (269 pontos base e 226 pb, respetivamente).
Em terceiro lugar com maior custo do risco surge o italiano Banca Monte dei Paschi di Siena com 173 pb (ou 1,73%), o Santander com 168 pb e o ABN Amro com 166 pb.

Depois, com o custo do risco mais alto surgem os bancos irlandeses: o AIB (Allied Irish Banks) com 136 pontos base; o Bank of Ireland com 134 pb. Depois, em 8º lugar com o custo do risco mais alto surge o português BCP com 133 pontos base (anualizado).

Depois do Millennium BCP surgem os DNB da Noruega, com 132 pontos base e o Lloyds liderado por António Horta Osório com 129 pontos base.

Mas em último lugar, e aqui os últimos são os primeiros, surge a Caixa Geral de Depósitos com um custo do risco anualizado de 8 pontos base. Logo abaixo do banco sueco, banco Handelsbanken, que surge com um custo do risco de 9 pontos base.

Os bancos portugueses não comparam mal no que toca à qualidade da nova carteira de crédito, se este custo do risco for reflexo de uma boa qualidade da carteira de crédito. Claro que esta análise não inclui o Novo Banco que só em março registou um custo do risco de 211 pontos base.

A DBRS diz no entanto que “alguns bancos forneceram uma discriminação mais abrangente das provisões que constituíram no primeiro trimestre para risco de crédito devido ao Covid-19,  o que inclui o BBVA, o Santander, Caixabank, Bankia, Bankinter, Sabadell, Deutsche Bank, SEB (sueco), Handelsbanken (sueco), AIB (irlandês), BOI (irlandês), BNP Paribas, RBS (Royal Bank of Scotland) e Commerzbank. Para esses bancos, as provisões para perdas esperadas no crédito com o Covid-19 totalizaram, em média, 54% do total de suas provisões para perdas no primeiro trimestre”.

O custo do risco é o indicador que mede o custo reconhecido no período, contabilizado como imparidade de crédito na demonstração de resultados, para cobrir o risco de incumprimento na carteira de crédito a clientes, e é uma medida de avaliação da qualidade da carteira de crédito através do custo suportado com o risco de incumprimento da carteira de crédito.

O custo do risco de crédito dos bancos europeus aumentou “significativamente” no primeiro trimestre devido ao impacto económico da pandemia, segundo a agência DBRS, que considera, no entanto, “relativamente baixas” as provisões feitas pela banca portuguesa, italiana e espanhola.

Por causa do impacto da pandemia na economia, “todos os bancos reportaram um risco de crédito significativamente mais alto no primeiro trimestre devido à atualização das previsões económicas inerentes aos respetivos modelos de avaliação crédito. Alguns bancos alocaram provisões para perdas com crédito para os três estágios 1, 2 e 3, enquanto outros apenas constituíram provisões para empréstimos para os estágios 1″.

Um banco determina as perdas de crédito esperadas de cada operação em função da deterioração do risco de crédito verificada desde o seu reconhecimento inicial. Para este efeito, as operações são classificadas num dos seguintes três stages. No stage 1 são classificadas as operações em que não se verifica um aumento significativo no risco de crédito desde o seu reconhecimento inicial. As perdas por imparidade associadas a operações classificadas neste stage correspondem às perdas de crédito esperadas que resultem de um evento de default que poderá ocorrer num período de 12 meses após a data de reporte (perdas de crédito esperadas a 12 meses). No Stage 2 são classificadas as operações em que se verifica um aumento significativo do risco de crédito desde o seu reconhecimento inicial, mas que não estão em situação de imparidade. As perdas por imparidade associadas a operações classificadas neste stage correspondem às perdas de crédito esperadas resultantes de eventos de default que poderão ocorrer ao longo do período de vida residual esperado das operações (perdas de crédito esperadas “lifetime”). Por fim no Stage 3 são classificadas as operações em situação de imparidade.

Ainda assim, o primeiro trimestre refletiu apenas o impacto inicial da pandemia, já que na maior parte dos países o confinamento só aconteceu já perto do final deste período, pelo que esta tendência deve continuar” nos trimestres seguintes, lê-se numa análise da agência de notação financeira DBRS Morningstar.

Segundo refere a DBRS, “desde meados de março que a maior parte das economias europeias foram afetadas por encerramentos/paralisações da economia, e embora estejam agora a começar a reabrir, espera-se uma forte contração do produto interno bruto (PIB) e riscos de crescimento do desemprego mais elevados em 2020, o que terá um impacto negativo na rentabilidade e da qualidade dos ativos dos bancos europeus”.

“O impacto total da Covid-19 nas economias europeias e no setor bancário continua a revestir-se de grande incerteza e vai depender, em última análise, da magnitude da crise económica e da duração e extensão da subsequente recuperação”, constata.

As conclusões apontam que “a maioria dos bancos da amostra reportou provisões para risco de crédito “significativamente mais altas” no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2019, o que se traduziu no “considerável aumento” do custo do risco. “Para a maioria dos bancos, o aumento do custo do risco no primeiro trimestre refletiu a atualização dos seus modelos de crédito, tendo em conta a degradação das perspetivas económicas.

Alguns bancos alocaram provisões para perdas com empréstimos para portfólios de nível 1, 2 e 3, enquanto outros o fizeram apenas para empréstimos de nível 1”, nota a DBRS. Segundo a agência, os grandes bancos no Reino Unido apresentaram, em média, os níveis mais altos de custo do risco (141 pontos base), enquanto a Finlândia tinha o custo de risco mais baixo (19 pontos base) e os bancos irlandeses registaram o maior aumento homólogo neste indicador.

Os bancos portugueses reportaram um nível médio de custo do risco de 70 pontos base, abaixo da média dos vários bancos analisados, o que a DBRS considera “relativamente baixo, particularmente tendo em conta o significativo impacto económico esperado em 2020” na sequência da pandemia.

A mesma apreciação é feita relativamente aos bancos em Espanha e Itália (cujo custo de risco se situou nos 105 e nos 87 pontos base, respetivamente), com a agência a considerar, tal como para Portugal, que as provisões feitas são baixas tendo em conta “a dependência das respetivas economias face a setores que deverão ser severamente afetados pelo confinamento, como o turismo, assim como o considerável peso de pequenas e médias empresas” no tecido económico destes países.

“À medida que a evolução económica se vai desenrolando, os bancos deverão continuar a atualizar os pressupostos económicos dos respetivos modelos de crédito, o que se traduzirá em crescentes provisões para perdas com empréstimos”, refere a DBRS.

Adicionalmente, acrescenta, “à medida que a qualidade dos ativos começa a deteriorar-se, particularmente quando se aproximar o final das moratórias de crédito, é previsível que as provisões para risco de crédito passem a incorporar perdas em empréstimos cujo risco de crédito aumentou significativamente desde a avaliação inicial (stage 2) e em crédito vencido (stage 3), sustenta a vice-presidente sénior da DBRS, Maria Rivas.

A DBRS refere ainda na sua análise que dos 40 bancos incluídos na amostra, onze bancos registaram prejuízos no primeiro trimestre, e o restante dos bancos apresentaram em média, uma queda de 47% nos resultados líquidos na comparação face a março de 2019.

As receitas dos bancos foram pressionadas pelo ambiente de baixa taxa de juros, maiores custos de funding, baixos volumes de crédito e receitas com comissões mais baixas. Isto, juntamente com maiores provisões para perdas com empréstimos, reduziu a flexibilidade financeira para os bancos europeus no primeiro trimestre de 2020.

“Esperamos que essa tendência continue nos próximos trimestres, principalmente com a deterioração da qualidade dos ativos. As provisões para perdas esperadas com crédito pesaram nos resultados antes de provisões e impostos”, diz a agência.

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