[weglot_switcher]

DBRS diz que banca espanhola vai aumentar as imparidades para crédito nos próximos trimestres

O Santander apresentou os primeiros prejuízos em 160 anos. O BBVA registou perdas de 1.157 milhões no semestre. Todos os bancos que tiveram lucros viram os resultados caírem. É o espelho da crise Covid-19 na banca. A DBRS analisou sete bancos (incluindo o CaixaBank, dono do BPI) e diz que nos próximos trimestres ainda vai ser pior. As receitas estão em queda. Mas o balanço está a aumentar.
4 Agosto 2020, 15h18

Tal como acontece em Portugal, os bancos em Espanha registaram no semestre resultados líquidos mais fracos, o que é ainda mais notório no segundo trimestre de 2020, ao registarem mais provisões para perdas com créditos devido à crise do Covid-19, enquanto as principais receitas também estão a ser pressionadas. Mas os maiores bancos espanhóis têm outra fragilidade a pesar-lhe nas contas: As perdas causadas por imparidades constituídas para ajustar o goodwill das subsidiárias internacionais, às expetativas económicas mais baixas dos próximos anos.

Num semestre em que o Santander teve o único prejuízo em 160 anos, a DBRS faz uma análise à banca do país vizinho. Mais concretamente a sete bancos: Santander, BBVA, CaixaBank, Bankinter, Sabadell, Liberbank e Bankia.

O ponto positivo da banca espanhola foi o forte crescimento dos créditos e depósitos. “Apesar do ambiente desafiador, os bancos espanhóis continuam a aumentar a sua carteira de crédito e isso terá um efeito positivo a longo prazo para a economia espanhola”, diz a DBRS.

“A qualidade dos ativos dos bancos começa a mostrar alguns sinais de deterioração traduzida num mair volume de créditos em risco de incumprimento (stage 2) e créditos em incumprimento (NPLs) em alguns bancos, embora a moratória e os créditos garantidos pelo Estado continuem a proteger a qualidade dos ativos por enquanto”, lê-se no relatório da DBRS.

A agência destaca que os rácios de capital aumentaram no trimestre face ao anterior, impulsionados pelo efeito positivo do mark-to-market dos títulos e por ativos ponderados pelo risco (RWAs) mais baixos devido a mudanças regulatórias e pelo recurso aos empréstimos garantidos pelo Estado. No entanto, o DBRS Morningstar espera que os rácios de capital sejam pressionados nos próximos trimestres, de acordo com as conclusões da recente avaliação de vulnerabilidade do BCE.

“A crise está a começar a afetar a lucratividade e a qualidade dos ativos”, diz a DBRS que acrescenta que a crise atual está a afetar as receitas core dos bancos espanhóis, com a margem financeira a tombar face a junho do ano passado, em muitas das instituições, devido a taxas de juros acumuladas mais baixas, a menos receitas na concessão de crédito e menos receitas de títulos de renda fixa (dívida pública), apesar dos volumes mais altos. As comissões líquidas também foram pressionadas na maioria dos bancos devido à menor atividade comercial.

Todos os bancos reportaram um lucro líquido atribuível mais baixo no primeiro semestre de 2020. As quedas face a junho do ano passado vão desde a redução de 43%  do Liberbank a uma redução de 73%  no Sabadell. Os dois maiores bancos, Santander e BBVA, registaram prejuízos de 10,8 mil milhões de euros e 1,2 mil milhões de euros, respectivamente. No caso do banco liderado pela família Botín o prejuízo de quase 11 mil milhões foi o primeiro em 160 anos, e deve-se a às provisões para precaver efeitos na carteira de crédito resultante da crise da pandemia de 12,6 mil milhões de euros.

Nos dois casos, as perdas foram causadas por imparidades para o goodwill de algumas de suas subsidiárias internacionais, refletindo expectativas mais baixas de desempenho nos próximos anos, principalmente como resultado da crise da Covid-19.

Como os rácios de capital impostos pelos reguladores não incluem o goodwill das subsidiárias, essas imparidades não afetaram os rácios de capital do BBVA e do Santander.

O goodwill é um activo intangível que surge, na maioria das vezes, decorrente da aquisição de uma empresa por outra. Assim o goodwill é normalmente a diferença entre o que uma empresa paga para adquirir outra e o valor patrimonial dessa mesma empresa (Capital Próprio).

É o reflexo do valor intangível de uma empresa que se consubstancia, por exemplo, no valor da sua marca, na sua carteira de clientes, nos seus recursos humanos.

A qualidade dos ativos também está a mostrar alguns sinais de deterioração, embora ainda seja muito cedo para ver um claro impacto da crise, pois a moratória dos empréstimos e os empréstimos garantidos pelo Estado continuam a proteger os ativos.

No entanto, 5 dos 7 bancos classificados registaram provisões para perdas com crédito mais altas no segundo trimestre face ao primeiro. Em média, os bancos registaram um aumento no custo de risco anualizado de cerca de 70 bps no segundo trimestre de 2020 em comparação com o custo de risco de 2019, que está acima dos 60 bps no primeiro trimestre de 2020. A DBRS Morningstar continua a esperar que mais provisões para crédito sejam registadas nos próximos trimestres.

Embora os volumes NPLs também tenham aumentado no primeiro semestre de 2020 para 3 dos 7 bancos, eles diminuíram para os outros bancos, indicando que levará algum tempo para que a deterioração da qualidade dos ativos se concretize, diz a agência. Quem aumentou o volume de malparado foram os Bankinter, CaixaBank, Sabadell. Segundo a DBRS, o Liberbank, o Santander e o BBVA baixaram face a dezembro. O Bankia ficou inalterado.

Além disso, diz a DBRS, o aumento dos créditos em risco (stage 2) começam a mostrar sinais de uma qualidade da carteira mais fraca. Os créditos no estágio 2 são contratos cujo risco de crédito aumentou significativamente, mas para os quais não existe evidência objetiva de imparidade.

Esses crédito aumentaram em média ponderada 10% no acumulado do ano, embora quatro (CaixaBank, Bankinter, Bankia e Liberbank) bancos ainda registem uma diminuição nos créditos do stage 2 para o acumulado do ano.

Resultados dos bancos espanhóis

O CaixaBank registou um lucro de 205 milhões de euros no primeiro semestre, menos 67% que em igual período de 2019, depois de efetuar uma provisão extraordinária de 1.155 milhões de euros devido ao impacto económico da covid-19.

No banco dono do BPI, a margem financeira diminuiu 2,1% em relação ao ano anterior, para 2.425 milhões de euros, principalmente devido à queda nas receitas de empréstimos motivada pela diminuição da taxa de juros e diminuição da receita com crédito ao consumidor. Por sua vez, as comissões totalizaram 1.266 milhões de euros até junho, mais 1,5% do que em idêntico período de 2019, apesar da queda na atividade económica a partir da segunda quinzena de março, quando o estado de emergência foi decretado, o impacto dos mercados influenciou sua evolução face ao primeiro trimestre, com quebra de 7,5%.

No primeiro semestre, o volume de negócios (créditos e recursos) ascendeu a 643.631 milhões, o maior valor desde a criação do CaixaBank, enquanto o crédito bruto a clientes atingiu 242.956 milhões, com um crescimento anual de 6,8%, devido a principalmente ao aumento de quase 16% do crédito às empresas.

O BBVA anunciou na semana passada que registou no primeiro semestre perdas de 1.157 milhões de euros após destinar dois mil milhões de euros para a cobertura da deterioração do valor da sua filial nos EUA. Segundo a instituição, sem aquela operação, o resultado semestral teria sido positivo em 928 milhões de euros. No segundo trimestre, o lucro do Grupo BBVA foi de 636 milhões de euros, duplicando o resultado ordinário obtido entre janeiro e março.

“Estes resultados são consequência das dotações extraordinárias de 644 milhões realizadas no segundo trimestre relacionadas com a pandemia da covid-19”, referiu a instituição em comunicado.

“Num contexto complexo, o BBVA demonstra mais uma vez a força da sua margem líquida, que cresce no segundo trimestre 17,6% interanual a taxas de câmbio constantes, e uma excelente geração de capital”, acrescentou o banco espanhol.  No conjunto do semestre, sem efeitos extraordinários, teria lucrado 928 milhões de euros (-57,8% face ao ano anterior).

Já o Santander registou um prejuízo de 10,8 mil milhões, o pior resultado em 160 anos (o Banco Santander foi criado em 1857) graças às provisões de 12,6 mil milhões constituídas para fazer face a eventuais perdas provocadas pelo impacto da pandemia. Sem estas provisões extraordinárias o grupo teria tido um lucro de 1.908 milhões, ainda assim 48% menos que no mesmo período de 2019.

O banco teve de constituir imparidades para o goodwill dos valor das subsidiárias no estrangeiro (nas unidades do Reino Unido, EUA, Polónia e na Santander Consumer Finance) devido à deterioração das perspetivas económicas.

No consolidado o Santander reportou que a margem de juros e comissões permaneceram estáveis, em 16.202 e 21.338 milhões de euros, respetivamente.

Em Espanha, o lucro do Santander foi de 251 milhões, 64% menos, devido à menor receita financeira core e a maiores provisões, parcialmente compensadas pela redução de custos.

O Banco Sabadell encerrou o primeiro semestre de 2020 com um lucro líquido atribuível de 145 milhões de euros, 72,7% a menos que no mesmo período do ano passado, após acumular as provisões necessárias, de um total de 1.089 milhões de euros, para a atualização dos modelos contabilísticos IFRS9 que incorporam os novos cenários macroeconómicos da Covid-19.

A receita do negócio bancário (margem de juros + comissões líquidas) atingiu 2.378 milhões, 5,3% menos que no ano anterior.

O Liberbank lucrou 41 milhões até junho, 43,8% a menos, depois de aumentar as provisões para 121 milhões.

O Bankia viu os lucros caírem 64,4% em junho, depois de provisionar 310 milhões para os efeitos do Covid-19. A margem de juros caiu 9,4% para 922 milhões.

O Bankinter obteve um lucro de 109,1 milhões de euros no primeiro semestre, quase menos 65% do que em período homólogo do ano passado. O banco espanhol destinou 192,5 milhões de euros em provisões para fazer face à pandemia. A margem de juros cresceu 12%, a margem bruta expandiu 11%.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.