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Debaixo de fogo, trabalhistas britânicos tentam evitar destino dos pares europeus

Jogada política de Theresa May representa um sério teste para os Trabalhistas. As sondagens são pouco animadoras e os exemplos socialistas na Europa não oferecem muita esperança. A excepção é a geringonça portuguesa.
  • Reuters
20 Abril 2017, 07h20

Inspirada pelas sondagens e as elevadas taxas de aprovação, Theresa May convocou eleições antecipadas para 8 de junho, numa tentativa de reforçar a legitimidade para negociar um hard Brexit. A primeira-ministra britânica justificou a decisão com o facto de os termos da saída não estarem a reunir consenso dentro do Parlamento britânico, enquanto os eleitores parecem estar a digerir a ideia.

No entanto, na base da ideia de May está o estado enfraquecido do Partido Trabalhista (Labour) e uma oportunidade única de dar um golpe decisivo no rival histórico.

As últimas sondagens da YouGov dão conta que se as eleições fossem amanhã, apenas 23% dos britânicos votaria no Partido Trabalhista, liderado por Jeremy Corbyn, quase metade das intenções de voto conseguidas pelo Partido Conservador, da primeira-ministra Theresa May, que reúne 50%.

A prova de fogo não é somente para o Partido Trabalhista, que poderá ter o pior resultado desde a Segunda Guerra Mundial, mas sobretudo para o líder trabalhista eleito em setembro de 2015. As sondagens indicam que Jeremy Corbyn tem uma taxa de aprovação menor do que a do seu próprio partido (14%). Corbyn sobreviveu à derrota do ‘Remain’ no referendo sobre o Brexit em junho do ano passado, mas esse resultado enfraqueceu muito a sua posição.

A provável derrota do Labour, contudo, não será surpreendente numa Europa que tem assistido nos últimos anos ao declínio dos partidos socialistas. França, Espanha e Grécia são alguns exemplos.

Em França, as sondagens indicam que o candidato socialista Benoît Hamon tem vindo a perder terreno na corrida às presidenciais, cuja primeira volta é já a 23 de Abril. Hamon aparece em quinto lugar, atrás do candidato de direita François Fillon, da líder de extrema-direita, Marine Le Pen, do centrista Emmanuel Macron e mesmo do comunista Jean-Luc Mélenchon.

Na Grécia, a ascensão do partido de extrema-esquerda Syriza ao poder eclipsou os socialistas do PASOK, que formou durante décadas o arco de governação com a Nova Democracia de centro-direita. O colapso da economia grega e os sucessivos resgates penalizaram a confiança dos eleitores no PASOK, que tombou de um resultado de quase 44% nas eleições de 2009 para pouco mais de 6% em 2015.

Um cenário semelhante ocorreu em Espanha, com o PSOE ultrapassado pelo Podemos, quebrando a tradição política bipartidária da governação no país. Incapaz de aproveitar o vácuo de poder criado por duas eleições inconclusivas em 2015 e no ano passado, o PSOE vai enfrentar eleições internas com as quais pretende recuperar o fulgor do período inicial de transição democrática.

A excepção reside em Portugal. A “geringonça”, alcunha dada por Paulo Portas ao compromisso entre o PS e os partidos de esquerda com assento parlamentar (Bloco de Esquerda, PCP e PEV), contraria quase todas as expectativas e oferece uma improvável estabilidade política.

A geringonça liderada por António Costa tem despertado a curiosidade dos socialistas europeus, com visitas de estudo de Hamon, do italiano Gianni Pittella, e de representantes dos trabalhistas holandeses. Será Jeremy Corbyn a próxima visita?

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