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Deco Proteste alerta que pandemia veio “acelerar a degradação física e mental” dos idosos em lares

A investigação lançado nas primeiras duas semanas de outubro pela DECO contou com 647 respostas válidas, fornecidas pelos familiares de idosos que se encontrem em lares , públicos e privados, nos últimos cinco anos. O questionário centrou-se me avaliar o acesso, as condições de vida, os preços e a satisfação com os serviços.
26 Novembro 2020, 11h39

A Deco Proteste realizou um inquérito onde conclui que o período de confinamento veio “acelerar a degradação física e mental” dos idosos em lares. Outra das conclusões prende-se com a falta de atividade de estímulo mental para idosos nos lares que, segundo a associação “tem impacto direto na qualidade de vida do idoso”.

A investigação lançado nas primeiras duas semanas de outubro pela DECO contou com 647 respostas válidas, fornecidas pelos familiares de idosos que se encontrem em lares , públicos e privados, nos últimos cinco anos. O questionário centrou-se me avaliar o acesso, as condições de vida, os preços e a satisfação com os serviços.

Na hora de escolher a instituição há dois fatores a ter em conta – tempo de espera e preço. A maioria dos idosos, em média, são admitidos aos 81 anos, e aí permanecem por quatro anos, até que o peso da idade e dos problemas de saúde leva a melhor e a vida se extingue, ainda que a maioria (61%) não padeça de complicações graves de saúde.

Os que têm condições financeiras tendem a conseguir o lar da sua escolha. Mas pode não ser automático. Em termos médios, há que aguardar 108 dias para entrar num privado, ou seja, três meses e meio. No caso de uma misericórdia, a espera média é de 173 dias e, nas demais instituições particulares de solidariedade social (IPSS), de 171 dias.

Metade dos idosos divide quarto com um segundo, enquanto 31% beneficiam de um espaço individual. A mensalidade de base, isto é, sem extras, como medicamentos, é de 1012 euros no privado, 686 euros numa IPSS e 662 euros numa misericórdia.

Já se pensarmos ao nível nacional, e independentemente da natureza do lar, o valor médio da mensalidade e dos extras é de 957 euros. Como a média dos rendimentos dos utentes anda pelos 732 euros, significa que o lar tudo esgota, e que sobra sempre uma fatia a cargo da família. Mas há variações consoante a zona do País. Um lar na região de Lisboa e Vale do Tejo, qualquer que seja o seu tipo, tende a ficar mais caro.

Poucos estímulos mentais para os idosos

A DECO informa, segundo o questionário realizado, que a diferença de tratamento entre instituições publicas e privadas não é tã distinta quanto se possa pensar. A avaliar pela satisfação, que se relaciona com a ocorrência de problemas, conflitos ocorrem em todos os contextos. A proporção é idêntica: 32% dos familiares com utentes nos privados reportaram problemas, contra 34% nas IPSS e os mesmos 32% nas misericórdias. A satisfação com o lar, de 6,8 pontos num máximo de 10, é sobretudo influenciada pela presença de um número suficiente de funcionários durante a semana, pela qualidade das refeições, pelas condições do quarto e pela transparência dos custos.

Mas depois há a vertente da competência do pessoal que, segundo a DECO, tem um nível de satisfação de 6,6 pontos. Aspetos como os cuidados médicos e de enfermagem recolhem uma marca relativamente modesta, de 6,1 e 6,5 pontos, e os cuidados psicológicos e a terapia ocupacional recebem ambos 5,6. Pouca ou nenhuma terapia ocupacional e física, falta de atividades estimulantes para adultos, e não para crianças, e uso da cadeira de rodas para todas as deslocações são algumas queixas que os familiares transmitiram à Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor.

Daqui se depreende que muitos lares se limitam a garantir um espaço para viver, refeições e cuidados de saúde. Atividades estimulantes, tanto do ponto de vista físico como mental, estão ausentes, o que tem impacto direto na qualidade de vida do idoso, algo que a pandemia ajudou a piorar.

Confinamento com impacto forte na qualidade de vida dos idosos

O confinamento de março e abril agravou a qualidade de vida e a saúde dos idosos que habitam em lares. Segundo os dados recolhidos pela DECO, antes da quarentena, 69% não sofriam de nenhum problema de saúde grave. Durante o isolamento, o número de idosos sem condições de saúde sérias caiu para 57%, e manteve-se idêntico mesmo depois de as instituições abrirem portas às visitas. Contas feitas, o número de idosos com má qualidade de vida subiu de 28 para 40%.

No contexto da pandemia, os cuidados com a saúde mental e as opções de lazer voltaram a ser as dimensões a suscitar menos satisfação. Os participantes neste segundo inquérito atribuíram-lhes, respetivamente, 6,8 e 6,4 pontos. Já outros aspetos associados à gestão da pandemia, como a comunicação com as famílias, os cuidados médicos, a implementação das medidas de segurança no tempo certo e as ações para limitar a propagação da doença, mereceram uma satisfação de 7 a 7,6 pontos, números idênticos aos registados nos demais países do estudo.

Entre os inquiridos, 11% reportaram um aumento de custos no lar desde que começou a pandemia.

Regiões portuguesas em uniformidade no combate à pandemia

Apesar da DECO informar que não detetou diferenças entre regiões portuguesas na gestão da covid-19, no Norte, os privados e as IPSS geraram maior satisfação com os cuidados de enfermagem e a assistência diária do que as misericórdias, desde que a pandemia começou. Esta realidade não se traduz, no entanto, em menos infeções. Nos lares da região Norte, independentemente do tipo, a DECO verificou o maior número de casos positivos no País: 35% do total, contra 20% na região Centro.

Quanto à falta de materiais, como roupa de proteção, máscaras e higienizador de mãos para os funcionários dos lares, fez-se sentir sobretudo no início. Durante a pandemia, 70% dos óbitos registados nos lares estudados nada tiveram que ver com a covid-19. Em 11% das situações, tiveram relação com o novo coronavírus, e 19% dos inquiridos não têm a certeza da causa do falecimento do seu familiar.

A perceção da eficácia no combate à pandemia parece depender das circunstâncias pessoais. A satisfação global com o lar é superior entre os inquiridos que não perderam idosos nesta altura, para a covid-19 ou não. Em Portugal, a um valor de 5,8 entre os familiares de idosos falecidos, contrapõe-se uma satisfação de 7,2 entre quem ainda tem os entes queridos vivos.

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