Esta semana conhecemos a execução orçamental do primeiro semestre do ano. Infelizmente, os piores cenários foram largamente ultrapassados com o défice a atingir, em junho passado, um acumulado de 6.776 milhões de euros, o que representa um agravamento de 6.122 milhões de euros face a igual período do ano passado.

A aparente justificação da fortíssima deterioração do saldo orçamental, bem centrada no segundo trimestre, encontra-se na diminuição da receita em 9,5% (cerca de 3.900 milhões de euros a menos), no mesmo tempo que a despesa aumentou no mesmo período em 5,4% (mais 2.200 milhões de euros).

Para além disso, o Estado tem retardado, e muito, o pagamento dos seus compromissos, como foi o caso da devolução do IRS, mas também dos pagamentos em atraso aos fornecedores que só em junho aumentaram 63 milhões de euros em faturas vencidas há mais de 90 dias, cujo montante global atinge os 452,2 milhões de euros, 194,4 dos quais nos hospitais públicos.

E como estão as nossas empresas que, sem grandes apoios do Estado, poderão na sua larga maioria e sectores dos serviços, turismo e indústria, atingir quedas de faturação superiores a 75%?

Será que, mesmo com novas regras mais benéficas para o lay-off, uma qualquer empresa que tenha tido este tipo de redução de faturação conseguirá manter-se em atividade depois destes meses trágicos de pandemia? Diria que só por milagre.

Com os tardios e limitados apoios do Estado, torna-se urgente uma abordagem diferente e mais eficaz no apoio às empresas, para travar este caos empresarial que se instalou em Portugal.

Já o referi neste espaço e volto a escrever que é necessário muita sabedoria, rigor e critério na aplicação das verbas europeias que Portugal irá receber a fundo perdido, visto ser um apoio determinante para combater a crise social e económica que a pandemia provocou.

Estamos a falar de muitos milhares de milhões de euros que não podem ser desperdiçados, de muitas oportunidades que não podem nem devem ser perdidas para protegermos a nossa economia e as nossas empresas, para apostar em novas áreas de negócio e nichos empresariais, para investir em projetos inovadores que criem emprego e valor.

É que, na verdade, o Estado, com estes 45 mil milhões de euros, terá de preparar o futuro das próximas gerações com visão e estratégia, injetando dinheiro na economia e preparando novos quadros legais ágeis de auxílio aos mais necessitados. Pois serão, em média, daqui até 2029, 6,7 mil milhões de euros para executar por ano, mais de 18 milhões por cada dia que passa.

Neste terrível contexto pandémico em que todos vivemos, e sobre o qual ainda desconhecemos o desfecho, o apoio à economia é fundamental. A nada, nem a ninguém, interessa mais uma crise com estes contornos, em que não tendo morrido da doença o risco de sofrer com a cura é iminente. É tudo o que não precisamos. É tudo o que devemos evitar. É tudo o que, definitivamente, o povo português não merece.