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“Demagógica” e “errada”. CNA condena interdição de carne de vaca na Universidade de Coimbra

A decisão – que pretende ser “muito atual, muito ‘na moda’”, mas “cai já fora de tempo, pelo menos no âmbito da produção pecuária” – é também “um ataque autocrático ao direito individual de escolha” (por parte dos frequentadores das cantinas da Universidade de Coimbra (UC), sustenta ainda a organização de agricultores sediada em Coimbra.
18 Setembro 2019, 19h06

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) considerou hoje a “interdição do consumo de carne de vaca nas cantinas da Universidade de Coimbra” uma decisão “demagógica e errada”.

Numa nota enviada à agência Lusa, a CNA classifica “a anunciada interdição” como “uma precipitação do reitor da Universidade [Amílcar Falcão] e, até, como um ‘extremismo’, que converge com outras posições radicais”.

A decisão – que pretende ser “muito atual, muito ‘na moda’”, mas “cai já fora de tempo, pelo menos no âmbito da produção pecuária” – é também “um ataque autocrático ao direito individual de escolha” (por parte dos frequentadores das cantinas da Universidade de Coimbra (UC), sustenta ainda a organização de agricultores sediada em Coimbra.

A erradicação da carne de vaca das ementas das cantinas universitárias de Coimbra, a partir de janeiro de 2020, ignora, na perspetiva da CNA, “os impactos positivos da produção de carne de vaca para a economia local, regional e nacional, e também para o ambiente e recursos naturais”.

Para além das “indispensáveis proteínas que fornece”, a produção de carne bovina pelas “raças autóctones e outras” contribuem para fixar nos meios rurais populações, para “produzir bons alimentos” e para a prática de “culturas como prados e silagens, as quais também retiram da atmosfera o anidrido carbónico (CO2)”, sustenta a CNA.

“Perante tudo o que efetivamente estará em causa, estranho será também que toda a academia da UC se reveja nesta posição ‘extremista’ do ‘seu’ reitor”, afirma ainda Confederação.

A ‘balança carbónica’ em Portugal “constituída pela agricultura e pela floresta já hoje dá mais do que ‘neutralidade carbónica’, pois as emissões de CO2 pela agricultura – pecuária incluída – são inferiores às retenções de CO2 pela floresta”, sublinha.

A CNA espera, pois, que “a posição radical do reitor da UC não arraste outras universidades para idênticas posições nesta matéria” e que “o ‘índex’ de proibições alimentares” nas cantinas universitárias “não se alargue ao leite de vaca e aos laticínios dele provenientes”.

Desafiando o reitor a publicar “a listagem – com quantidades, ingredientes, origens e locais de compra – dos alimentos e bebidas servidos nas cantinas da UC”, a CNA defende que, “neste âmbito das produções agroalimentares, uma das formas mais eficazes de se dar combate aos excessos que contribuem para as alterações climáticas é dar prioridade e dar preferência à produção agrícola familiar, aos produtos regionais/tradicionais, ao abastecimento público em mercados locais e de proximidade”.

A UC vai eliminar o consumo de carne de vaca nas cantinas universitárias a partir de janeiro de 2020, anunciou na terça-feira o reitor, Amílcar Falcão.

A carne de vaca será substituída “por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 que existe ao nível da produção de carne animal”.

“Vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada”, sublinhou, na sua intervenção, perante centenas de alunos.

Hoje, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, considerou ser “relevante” que uma Universidade como a de Coimbra “tudo faça” com o objetivo de ser neutra em carbono.

“Parece-me relevante que uma universidade, neste caso a de Coimbra, tudo faça com o objetivo de ser neutra em carbono em 2030. Esta é uma medida, obviamente outras terão que lhe seguir”, disse o governante, sublinhando no entanto a autonomia das universidades sobre esta matéria.

Por ano, cerca de 20 toneladas de carne de vaca são consumidas nas 14 cantinas universitárias de Coimbra.

A Associação Académica de Coimbra disse hoje estar de acordo com a medida.

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