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Deputado nega que Bolsonaro tenha dado devida atenção a conflito da IURD em Angola

“Nós tivemos um café da manhã com o Presidente na ocasião em que surgiram essas notícias [conflitos em Angola] e ele, muito informalmente, disse: ‘não adianta, as pessoas em Angola não ouvem. Não gostam de mim’, por aquilo que no exterior se fala sobre o Presidente Bolsonaro. Então, ele viu a situação como algo em que nada poderia fazer, que pudesse ajudar”, detalhou o deputado.
21 Junho 2021, 08h16

O deputado evangélico brasileiro Aroldo Martins afirmou hoje à Lusa que o Presidente, Jair Bolsonaro, não deu a devida “atenção” ao conflito da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola e aguarda por ações concretas por parte do executivo.

Em entrevista à agência Lusa, em Brasília, Aroldo Martins, que é membro da Frente Parlamentar Evangélica e bispo da IURD, afirmou que se chegou a encontrar com Bolsonaro para debater os problemas que a instituição religiosa fundada por Edir Macedo enfrenta em Angola, mas que o chefe de Estado terá dito que “nada poderia fazer”.

“Nós tivemos um café da manhã com o Presidente na ocasião em que surgiram essas notícias [conflitos em Angola] e ele, muito informalmente, disse: ‘não adianta, as pessoas em Angola não ouvem. Não gostam de mim’, por aquilo que no exterior se fala sobre o Presidente Bolsonaro. Então, ele viu a situação como algo em que nada poderia fazer, que pudesse ajudar”, detalhou Martins.

“Eu discordei. Eu disse: ‘Presidente, uma manifestação sua, mesmo que não ajude do ponto de vista das Relações Exteriores, sempre será um peso’. Mas ele apoia-nos, nós o apoiamos, tivemos uma pequena rusga porque, realmente, não foi dada aquela atenção institucional do Governo brasileiro como nós gostaríamos que fosse. (…) Esperávamos que um pouco mais fosse feito e ainda esperamos”, salientou.

Depois da alegada recusa de Bolsonaro em intervir na situação em Angola, o deputado indicou que a bancada evangélica foi recebida pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, e que os membros da IURD estão a “utilizar outros meios e outras formas” para resolver o problema.

No mês passado, Carlos França indicou que Bolsonaro ligaria ao homólogo angolano, João Lourenço, para abordar a situação da IURD no país africano. Contudo, Aroldo Martins desconhece se esse telefonema realmente aconteceu.

Para se eleger Presidente do Brasil em 2018, Bolsonaro conseguiu atrair o apoio de três grandes bancadas parlamentares conservadoras: a ruralista, a evangélica e a da segurança pública, conhecidas no país sul-americano como bancadas “BBB” – boi, Bíblia e bala.

Contudo, após Bolsonaro não ter movido grandes esforços no sentido de ajudar a IURD em Angola, que viu decretada a deportação de dezenas dos seus missionários, vários deputados da Frente Parlamentar Evangélica sinalizaram um rompimento com o atual chefe de Estado.

Quem aproveitou para se aproximar do eleitorado evangélico foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as sondagens para voltar ao poder em 2022 e que se reuniu na semana passada com Manoel Ferreira, bispo primaz de uma das mais poderosas ramificações da Assembleia de Deus, o Ministério Madureira.

Questionado se, caso Bolsonaro não tome providências em relação à IURD em Angola, a bancada evangélica irá redirecionar o seu apoio a Lula da Silva para as presidenciais de 2022, Aroldo Martins afirmou que “não gostaria de agir” nessa hipótese, mas alertou que o “voto é livre e o poder está na mão do povo”.

“Eu não trabalho nessa hipótese. Prefiro, como deputado federal e partícipe da IURD, melhor para mim dizer, e isso falo abertamente, que a nossa posição não é política, mas sim ideológica. Então, é pró-família, (…) família tradicional, costumes cristãos, conservadores no sentido de conceitos que formaram a sociedade (…). Com isso, o nosso pensamento é mais próximo àquilo que o Governo Bolsonaro faz, crê e pratica” disse.

“Por isso, eu não gostaria de agir na segunda hipótese, mas o voto é livre e o poder está na mão do povo”, considerou, em declarações à Lusa no seu escritório na Câmara dos Deputados, em Brasília.

A crise na IURD em Angola, que teve o seu início em novembro de 2019, resulta de divergências entre pastores e bispos angolanos e brasileiros sobre a gestão dessa instituição e de várias acusações, nomeadamente de evasão de divisas, racismo, prática obrigatória de vasectomia, entre outras.

Todo o conflito levou a que o Governo angolano decretasse, recentemente, a deportação de dezenas de missionários brasileiros da IURD.

Aroldo Martins acusou o Governo angolano de “estar a ouvir exatamente quem não deveria ouvir” e de entregar parte da igreja a um grupo dissidente, composto por “pessoas que não tem um caráter ilibado”, e instou o executivo de João Lourenço a colocar “um auditor dentro a Igreja, para que veja exatamente aquilo que é feito”.

“A questão é financeira? Se é financeira, já que as acusações são de evasões de divisas, então que se coloque alguém apontado pelo Governo na administração da igreja para auditar. Ninguém está preocupado com os fundos de igreja, mas sim como o trabalho que a igreja faz, que é o maior bónus”, afirmou.

“O Governo angolano está a ouvir exatamente quem não deveria ouvir. Que ouça agora a direção legalmente constituída pela IURD de Angola, (…) que também é angolana”, apelou o parlamentar, do partido Republicanos.

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