A taxa de desemprego tem registado uma queda acentuada nos últimos anos, fruto da recuperação económica e da alteração das leis laborais que introduziram maior flexibilidade no mercado de trabalho. No entanto, esta descida do desemprego não conta toda a história. Nos últimos seis anos saíram de Portugal, em média, mais de 100 mil pessoas por ano, o que significa que mais de 600 mil deixaram de constar das estatísticas. A força de trabalho continua longe dos cinco milhões de pessoas atingidos nos primeiros anos do milénio e 350 mil abaixo do valor registado em 2008. Cada vez temos menos pessoas a trabalhar para os pensionistas e responsabilidades da Segurança Social.

Por variados motivos, Portugal continua a ser exportador do que mais necessita e que não aparece nas balanças comercial ou de serviços – o capital humano. Para muitos, Portugal não oferece condições de permanência, uma vez que quer a nível de salários, quer a nível de carreiras, nomeadamente ao nível de avaliação e de produtividade, não são recompensados. Os inúmeros casos de má gestão registados no tecido empresarial português, e no próprio Estado, demonstram que estes necessitam de sistemas de avaliação de progressão por mérito, não por antiguidade, como forma de captar talentos.

Entretanto, inicia-se uma discussão acerca do número de imigrantes que precisamos para manter a população no longo prazo. Por um lado, deixamos escapar pessoas altamente capazes para trabalhar noutros países e que, ao contrário da geração de emigrantes anterior, custaram muito dinheiro aos contribuintes portuguesas, pela formação que receberam. Por outro lado, estamos disponíveis para receber multimilionários ou emigrantes para iniciar outro ciclo de construção ou impulsionar o turismo, actividades cíclicas que nos trouxeram até à anterior crise.

O sucessivo incumprimento e materialização das promessas de investimento nas pessoas, na educação, na justiça ou na saúde, é um dos motivos pelos quais muitas pessoas qualificadas desistem. Começamos a ver que pouco mudou desde a troika, a não ser a devolução de salários e o marketing de medidas, cujo impacto real não se consegue validar.

Entretanto, a Segurança Social, aparentemente estabilizada com a diminuição do desemprego, enfrenta o problema do aumento do número de pensionistas e responsabilidades futuras. Esta situação não é exclusiva de Portugal. Nos EUA, está estimado que o fundo de estabilização da segurança social fique sem dinheiro em 2034, ou seja, dentro de 16 anos. A partir desse ano, as receitas apenas irão cobrir 77% das despesas, sendo o restante financiado por um orçamento já deficitário.

O ilusionismo desta recuperação económica é perigoso, uma vez que leva os governos, à boleia do dinheiro barato dos bancos centrais, a não tomar decisões estruturais para os países. Não podemos, pois, queixar-nos dos nacionalismos – apenas estão à espreita da próxima crise.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.