Vivemos na globalização. Ignorá-lo revela pouca lucidez já que apenas estamos no início do processo… E sabemos três coisas: esta nova ordem veio para ficar, é um tempo de desafio à descoberta mas é, também, um tempo de inquietação que nos amedronta.

Que caminho deve levar Portugal, neste contexto? Eu respondo, sem ambiguidades: o seu caminho natural.

Portugal é um velho país de forte identidade e influência, desde logo a Língua Portuguesa, a Latinidade e as presenças que fomos deixando em séculos de ousadia, um pouco por todo o mundo. E se há avaliação que falte ao país, essa é a elaboração do diagnóstico e do sentido estratégico que deveremos tomar, na perspetiva macro mas também nos minuciosos elementos do quotidiano. Nas empresas, nas instituições, no rumo económico, cultural e no posicionamento externo.

Somos um país que é o cerne da lusofonia, mas somos também um país da União Europeia. Temos vocação atlântica mas somos, também, um país continental. Somos um país periférico mas possuímos múltiplas centralidades. Somos secundários na Europa mas podemos abrir novas portas à Europa. Pensamos que somos pequenos porque ignoramos a alma, que nos faz grandes (Portugal tem 92.000 Km2 mas com o nosso mar chegamos aos 4.000.000 Km2).

Fernando Pessoa disse “a minha pátria é a Língua Portuguesa” e nunca esta afirmação esteve tão perto de ser a chave do futuro. Portugal tem uma vocação de ponte. Por um lado, precisamos aumentar a nossa influência na UE mas não parece possível fazê-lo pelo reforço do PIB. O nosso caminho é o argumento da portugalidade, elemento fundamental para que a própria Europa possa aumentar a sua influência no mundo, alargar o seu espaço de “sementeira” comercial e reforçar as parcerias estratégicas. Por outro lado, precisamos aumentar a nossa influência na lusofonia, mas não fará sentido que nos sitiemos num paternalismo infértil. O nosso caminho é a bandeira europeia, levando desenvolvimento, parceria, comunhão e solidariedade.

A Europa quase definha nas divagações palacianas e na falta de lucidez realista. Precisa refazer-se com novos desafios e na ousadia de novos descobrimentos, mais cívicos. Precisa tanto ser corajosa como solidária; precisa tanto ser estratégica como leal; precisa tanto abrir os olhos como afinar a visão burocrática que a tem condicionado. Tal como Portugal, a UE tem estado hibernada de si mesma. Ambos precisam aquecer-se para se reencontrarem.