2018 foi um ano especial. Não por a Microsoft ter ultrapassado a Apple em capitalização bolsista, no ano em que os buybacks atingiram valores recorde e levaram a uma fiscalidade que os favoreceu. Foi-o sim porque, se dúvidas houvera, ficaram dissipadas quanto ao valor da informação e da capacidade de a tratar e manipular, e como isso tem sido feito por empresas e países.

Ainda se discutia a interferência russa nas eleições americanas e Theresa May já acusava os serviços secretos desse país de influenciar o referendo do Brexit. Estamos por descobrir se alguma nação está preparada hoje para resistir a isto e às fake news, a nova praga da sociedade da informação e do conhecimento, onde a rapidez de resposta exigida impede a verificação da fonte antes da ação.

No último dia do ano o Libération relatava-nos a sua experiência de criação do CheckNews.fr, um site onde a pedido dos leitores é verificada a veracidade de informações, e como assim tinha ressuscitado um “gilet jaune” morto a 24 de novembro na Place de l’Étoile, mas que afinal só foi morto nas redes sociais; ou “a intox mais viral de 2018”, a que o governo ia impor a educação sexual obrigatória na escola primária. Ó Admirável Mundo Novo em que muitos acreditam mais facilmente nos anónimos “que ninguém conhece” do que em políticos e governantes.

Do outro lado do Atlântico especula-se sobre se, como diz Thomas Friedman, triplo vencedor do Pulitzer, se atingiu o peak Trump nas eleições americanas, aquelas que (conta Andy Borowitz no New Yorker) fizeram Putin perder o controlo da Câmara dos Representantes. Para Ivan Krastev, a questão é quase irrelevante: de tal forma os americanos estão enfeitiçados por ele que o fim de Trump infelizmente não será o fim do trumpismo. Para já, afinal a guerra comercial entre Eua e China está suspensa, pois Trump descobriu uma nova amizade com Xi. Pelos vistos, inimigos só os vê na Europa.

E 2019? Teremos pela primeira vez uma União Europeia com os quatro (por enquanto) maiores países com incerteza acrescida: uma Alemanha recentrada em si mesma e com uma chanceler a prazo (Merkel, vais-nos fazer falta), uma França com um presidente à procura de um novo caminho no estilo Colombo (que quando saiu não  sabia para onde ia e quando chegou não sabia onde estava), uma Itália populista que foi obrigada a apresentar um orçamento que está por provar que pode cumprir e um Reino Unido que a um trimestre de distância não sabe ainda que Brexit vai ter e que aluga ferries a companhias europeias com receio do aumento de tráfego resultante de um hard Brexit.

Isto quando a Presidência da União acaba de ser entregue a um país onde está em causa a independência da justiça e quando há eleições europeias a meio do ano e iremos nessa altura medir o pulso ao estado da arte do populismo europeu, o mesmo que venceu eleições em Itália e pôs a extrema-direita no parlamento na Alemanha e na Andaluzia. Esperemos que mais uma vez seja ultrapassado o teste, e que esta União possa dizer, como Camus: “em pleno Inverno descobri em mim um invencível Verão”. Entretanto, recomenda-se a fleuma britânica: wait and see.