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Diretora do programa VIH/SIDA avisa para efeito da pandemia nos rastreios

“Na fase inicial da pandemia houve, de facto, uma diminuição do número de rastreios. Em que medida é que isto se vai traduzir numa diminuição do número de novos casos – que não traduz uma diminuição do número de infeções – e daqui a algum tempo num aumento da percentagem de diagnósticos tardios ou do aumento do tempo que demoramos a fazer um diagnóstico, é algo que teremos de acompanhar”, afirmou Isabel Aldir, que coordena esta unidade da Direção-Geral da Saúde.
27 Novembro 2020, 09h09

A pandemia de covid-19 levou já a uma diminuição do número de rastreios para a infeção pelo VIH em Portugal, avisou hoje a diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH, SIDA e Tuberculose.

Em entrevista à Lusa, Isabel Aldir, que coordena esta unidade da Direção-Geral da Saúde (DGS), destacou que as restrições e mudanças impostas no combate ao novo coronavírus ao longo de 2020 podem ainda repercutir-se no tempo de notificação de novos casos de infeção pelo VIH nos próximos anos.

“Na fase inicial da pandemia houve, de facto, uma diminuição do número de rastreios. Em que medida é que isto se vai traduzir numa diminuição do número de novos casos – que não traduz uma diminuição do número de infeções – e daqui a algum tempo num aumento da percentagem de diagnósticos tardios ou do aumento do tempo que demoramos a fazer um diagnóstico, é algo que teremos de acompanhar”, afirmou.

Num dia em que foi conhecido o relatório “Infeção VIH e SIDA em Portugal – 2020”, da DGS e do Instituto de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que deu conta de uma descida em 2019 de 29,8% nos novos casos (778) face ao ano anterior (1109) e numa redução da percentagem de diagnósticos tardios para 49,7%, Isabel Aldir realçou que a covid-19 pode causar uma “dilação” do tempo médio de diagnóstico de infeção por VIH de 3,4 anos para “quatro ou cinco anos”.

Contudo, não deixou de assinalar que a atual pandemia pode também vir a corrigir este impacto, ao sublinhar que a serologia do VIH “faz parte do diagnóstico diferencial e do rastreio laboratorial de entrada” de doentes infetados com o novo coronavírus em contexto hospitalar. “Por aí poderemos também ir diagnosticando algumas infeções que, de outra forma, não seriam diagnosticadas tão cedo”, acrescentou.

Instada a comparar a atual pandemia de covid-19 com o impacto causado pela epidemia global de VIH/SIDA nos anos 80 e 90 do século passado, a responsável do Programa Nacional notou diferenças e semelhanças.

“A questão do estigma e da discriminação é uma das grandes diferenças, na minha leitura, porque desde o início a infeção por VIH teve conotada uma questão de julgamento moral por parte da sociedade que amplificou esse fenómeno. Fez com que a sociedade em geral fizesse a leitura de que esta era uma doença que só atingia determinados grupos”, observou.

Simultaneamente, elencou entre os aspetos similares das duas emergências sanitárias “a necessária readaptação de alguns serviços de saúde para fazer face a números crescentes de doentes e a necessidade de se criarem outras soluções”, bem como “a mudança em termos de comportamentos”; no passado, “a imensa promoção da utilização do preservativo”, e agora “a utilização de máscara e a correta desinfeção das mãos”.

Finalmente, Isabel Aldir reiterou que “as estratégias em termos de rastreio estão a resultar”, com mais diagnósticos e cada vez mais precoces, classificando a evolução das últimas duas décadas como “um caminho de sucesso”, mas sobre o qual não se pode facilitar, a fim de acabar com a infeção VIH/SIDA “enquanto problema grave de saúde pública” no país.

“Só tem sido possível porque todo o investimento e empenho têm sido mantidos. Estas situações são dinâmicas e nunca se pode tirar o pé do acelerador, porque se se desacelera em termos de investimento, todas as conquistas são rapidamente comprometidas”, notou, acrescentando: “Tem de se trabalhar em literacia, falar de métodos de barreira, de profilaxia pré-exposição e pós-exposição, de tratamentos e do estigma e da discriminação”.

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