A pandemia está a deixar mazelas fortes no espetro social, económico e político nacional. A estratégia da governação tem sido a de manter o equilíbrio precário nas empresas e sociedade, dando pouco, substituindo atos por marketing e imiscuindo-se em assuntos do foro marcadamente privado e negocial.

Já aqui o escrevemos que estão em marcha caminhos para a estatização da economia e padronização da sociedade dentro de um modelo jacobino. Do lado empresarial, a noção é que adiamentos e pagamentos a prestações são panaceias de pouca duração, enquanto algumas medidas são adiadas para o próximo ano para não penalizar as contas públicas. E qui entramos no drama de sempre: as contas terão de ser pagas pelos cidadãos e pelas empresas, na medida em que o Estado não tem folgas.

Não vale a pena ter ilusões otimistas, pois iremos passar mais uns meses com grandes dificuldades e a melhoria das condições gerais irá depender da recuperação da economia europeia. Nada é estanque no sacrifício e na abundância.

Os analistas alertam para o crescendo da dívida pública que impede o investimento e para as taxas de juro negativas que limitam a poupança e o crescimento económico. Ainda na recente conferência anual de Londres da gestora Schroders, o economista-chefe Keith Wade alertava para a continuação das taxas de juros baixas nos próximos três anos, uma forte liquidez de todo o sistema financeiro, a derrapagem do défice dos países ocidentais por efeito da Covid-19 e o amento exponencial da dívida pública europeiam, hoje ao nível dos tempos da Segunda Guerra Mundial.

Ora, entre nós e quando se fecha o OE para 2021, temos um agravamento das contas públicas até outubro pelo efeito da pandemia da ordem dos 3.865 milhões de euros, refere a DG do Orçamento, indo o maior destaque para a despesa do lay-off e despesas associadas à saúde. E ainda até outubro, o défice das contas públicas agravou-se em 8.179 milhões de euros, de acordo com o Ministério das Finanças.

Ao mesmo tempo há menos consumo e mais aforro com outubro a gerar mais 500 milhões de euros em depósitos relativamente a setembro, refere o Banco de Portugal. E o que vai acontecer ao défice público no final deste ano? Deverá passar os 7% do PIB e o peso da dívida pública pode chegar a 140% do PIB. São dados e números assustadores que nos dizem que iremos viver tempos de turbulência económica e social.

Será pois um caminho fértil para os extremismos e populismos, e todo o cuidado para gerir a situação será pouco. O equilíbrio entre as ajudas possíveis, as “mortes” de empresas e empregos, e a preparação da recuperação definirá as lideranças. O Governo tem enviado sinais contraditórios, retirando-lhe credibilidade nas opções e o OE 2021 é a “cereja no topo do bolo”.

A impossibilidade de transferências do Fundo de Resolução para o equilíbrio do Novo Banco é a violação de um compromisso com o investidor. Esta contradição é da responsabilidade do maior partido da oposição (que pode alterar a posição num orçamento retificativo) e do antigo parceiro da geringonça.

Do lado do Governo enviam-se mensagens absolutamente absurdas, como seja o fim das ajudas fiscais para veículos eletrificados híbridos plug-in. Ora, se o objetivo é reduzir o nível de emissões nocivas, estes modelos são a primeira fase do projeto que fica em causa, aliás como dificilmente se inverterá uma indústria que já perdeu um terço das vendas.