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Draghi começa mar de mudanças, tentando evitar tempestades nos mercados

Após meses de debate intenso sobre o assunto, o ‘tapering’, ou a redução gradual da compra de ativos, deverá ser anunciado esta quinta-feira, com os economistas a apontarem para uma redução de 20 mil milhões por mês a partir de janeiro e até, pelo menos, setembro de 2018.
  • Axel Schmidt/Reuters
25 Outubro 2017, 09h30

O outono tinha sido sinalizado por Mario Draghi como a altura em que o Banco Central Europeu (BCE) ia começar a discutir alterações na política monetária da zona euro. As temperaturas em Portugal podem nos estar a iludir, mas já estamos nessa estação e a  expetativa é que os primeiros anúncios sobre o que irá mudar cheguem esta quinta-feira, mas também que o objetivo seja não abalar os mercados.

O programa de estímulos na zona euro do BCE tem sido apontado como um dos principais motores da retoma da economia europeia e tem permitido a manutenção de baixas yields das dívidas soberanas do bloco.

A compra de ativos, a decorrer a um ritmo atual de 60 mil milhões de euros por mês, está programada até dezembro e “com uma forte aceleração cíclica em curso e uma crescente escassez de títulos para comprar, o BCE parece estar pronto para finalmente embarcar no tão aguardado programa de tapering“, explicam os analistas do ING Financial Research, numa nota de análise.

tapering, ou a redução gradual da compra de ativos, deverá ser anunciado esta quinta-feira, após a reunião do Conselho de Governadores, com o consenso entre os economistas consultados pela agência Reuters a apontarem para uma redução para os 40 mil milhões, a partir de janeiro e até, pelo menos, setembro de 2018.

“A reunião do BCE deverá ser uma mudança no mar. Não abrupta, mas sim muito leve e cautelosa”, apontam os analistas do ING. “O BCE ainda está muito consciente de quaisquer efeitos adversos de uma redução prematura. Além disso, a recuperação da zona do euro pode atualmente parecer forte, mas existem riscos não apenas externos, mas também internos”.

Da mesma forma, Miguel Luzárraga, responsável da JPMorgan Asset Management (AM) para a Península Ibérica, acredita que “na Europa não veremos grandes mudanças até 2019”. Segundo o gestor, o programa tem impulsionado a reativação do acesso ao crédito na zona euro e deverá continuar a suportar o momento positivo na Europa, mesmo que com o programa a um ritmo mais reduzido.

“O anúncio de uma redução será o suficiente para manter a tranquilidade e estabilidade nos mercados”, disse Luzárraga, estimando que a redução nas compras dure um ano. A expetativa do responsável da JPMorgan AM é que o BCE mantenha, durante esse período, os juros em mínimos históricos e que, apenas em 2019, suba as taxas.

Apesar de os analistas concordarem que Draghi e os decisores de política monetária do BCE não vão querer dar nenhum passo que agite as águas, o economista-chefe da Schroders, Keith Wade, questiona: “Uma das coisas que consideramos para 2018 é o que vai acontecer ao risco periférico quando retirarmos as compras. Poderemos ver os spreads a aumentar ou um regresso de alguns dos problemas de há três ou quatro anos?”

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