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Drones, sensores biométricos e apps: a ajuda humanitária está a mudar

Robert Opp é diretor de inovação do Programa Alimentar das Nações Unidas. Em entrevista ao Jornal Económico, explica como a agência humanitária está a utilizar a tecnologia para aumentar a eficiência da assistência.
  • Cristina Bernardo
9 Novembro 2017, 13h58

 

A inovação tecnológica está a mudar a forma como o auxílio do Programa Alimentar das Nações Unidas chega às populações. Presente em 80 países e assegurando assistência a cerca de 80 milhões de pessoas, a principal agência humanitária de combate à fome utiliza drones para coletar danos sobre situações de catástrofe, tem projetos-pilotos de utilização de leitores biométricos e aplicações para pequenos agricultores.

O diretor de inovação do Programa Alimentar das Nações Unidas, Robert Opp, explica ao Jornal Económico, à margem da Web Summit, que os drones começaram a ser utilizados pela agência para colectar dados, já que que durante uma crise o mais importante é conhecer “a verdadeira situação no terreno”. Porém, surgiram novos desafios.

“Neste momento estamos a procurar aumentar essa cobertura. Os drones colectam muitos dados, os quais demoram muito tempo a analisar. Estamos a olhar para a inteligência artificial, em como se podem treinar as máquinas para identificar padrões, para contabilizar quantas casas e estradas foram destruídas, por exemplo. Isto permitiria conseguirmos ter rapidamente um quadro 24 horas de que qual é a situação”, diz Robert Opp.

O Programa Alimentar procura adaptar-se às circunstâncias e necessidades dos países e aplicar soluções tecnológicas diferentes. Há países que atravessam crises humanitárias como o Iémen, a Síria ou o Sudão do Sul onde a assistência é direta e imediata, enquanto em países como a Zâmbia a estratégia passa pelo desenvolvimento do mercado alimentar.

“Fornecemos alimentação em lugares onde os mercados não são muito funcionais e damos dinheiro em lugares onde o mercado funciona. No Iémen e no Sudão do Sul, por exemplo, damos menos dinheiro e mais comida, enquanto em lugares como a Jordânia, o Líbano, a Turquia, que têm muitos refugiados sírios, principalmente dinheiro. Dentro da Síria é uma mistura, porque há lugares onde o mercado ainda funciona”, exemplifica.

Questionado sobre os riscos de corrupção associados a estas transferências, Robert Opp reconhece que “há sempre riscos mínimos” mas assegura que o processo é o mais transparente possível e aponta como a tecnologia também está a ser utilizada para minimizar essa possibilidade.

“Nos programas em que é utilizado dinheiro, damos, por exemplo, um voucher para supermercados ou, por vezes, cartões de crédito, ou através de telemóveis. Mas na Jordânia estamos a fazê-lo através da utilização de leitores biométricos de olhos. As pessoas podem ir aos supermercados e lojas, passam nos sensores de íris e recebem os alimentos”, diz o diretor de inovação.

É também na Jordânia que as Nações Unidas tem um projeto-piloto, que utiliza a blockchain no Programa Alimentar. “Ao fazê-lo com a blockchain não precisamos transferir e fazer a transação através do banco, podemos acompanhar a transação nós mesmos, e apenas pagamos aos retalhistas no final do mês. Poupamos dinheiro, aumentamos a transparência mas também a privacidade das pessoas a quem é prestada assistência”.

“É uma experiência que está a correr muito bem e é inserida na estratégia de tornar estes programas mais eficientes e eficazes no funcionamento”, salienta.

A conetividade permitida pelos telemóveis está também a ser utilizada para potenciar a assistência: “Quando foi a crise do Ébola não podíamos simplesmente enviar as equipas com um papel e uma caneta para falar com as populações afetadas. Aquelas pessoas tinham telemóveis, o que nos permitiu inseri-las no nosso sistema e contactar com elas”, conta. “É claro que isto não é 100% porque nem todas as pessoas têm acesso a telemóveis”, acrescenta.

O acesso à internet é também utilizado num outro projeto na Zâmbia, com a utilização de uma plataforma digital e dos telemóveis para conectar pequenos agricultores com os compradores.

Robert Opp realça que “os mercados alimentares em África tendem a ser pouco eficientes. Uma das razões é porque a infra-estrutura pode ser pobre ou porque as pessoas não consegue ter acesso aos produtores facilmente”.

“Se eu for um pequeno agricultor, tenho que advinhar a que mercado é que eu devo ir e esperar encontrar um comprador. Pode levar-me um dia a chegar ao destino e não sei se alguém me vai comprar o produto e a que preço”, salienta. “Estamos a ajudar estes pequenos agricultores a utilizar esta plataforma, onde fazem a transação digitalmente com o comprador e acordam onde se encontrar, o que torna todo o processo mais eficaz”.

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