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PSD: duelo pela liderança pode levar a “transfiguração” do partido

A saída de Passos Coelho deu lugar a uma dupla improvável na corrida à liderança do PSD. Santana Lopes ou Rui Rio? O resultado poderá forçar uma reorganização da bancada parlamentar.
12 Janeiro 2018, 15h30

O desaire do PSD nas autárquicas conduziu ao esperado afastamento de Pedro Passos Coelho da cena política. A sucessão fica a cabo de Pedro Santana Lopes ou Rui Rio, duas figuras de reconhecido protagonismo dentro e fora do partido. Distinguem-nos os feitios, muito mais do que as convicções. A mobilização entre militantes é grande e as legislativas de 2019 vão, indubitavelmente, marcar a próxima liderança.

“Não estamos perante umas eleições quaisquer”, considera o professor universitário e politólogo Adelino Maltez. “As diretas do PSD vão levar à escolha do novo líder da oposição e possível candidato às legislativas, que deverá ser alguém mobilizador”, sustenta.

A agitação nos órgãos do partido é notória, assim como a sua divisão. Manuela Ferreira Leite, antiga líder dos sociais-democratas, expressou publicamente o seu apoio a Rui Rio. Já Santana Lopes conquistou a preferência do ex-ministro e número dois do partido, Miguel Relvas. Ferreira Leite destaca a “imagem mais sólida” do ex-autarca do Porto, enquanto Relvas opta pela intuição e prevê que Santana terá “um resultado ganhador e positivo”.

Ainda assim, ao Jornal Económico, Manuela Ferreira Leite mostra-se confiante na chegada à liderança de Rui Rio: “Estou convicta de que ele vai vencer estas eleições”. A favor do candidato estão as sondagens da Aximage que, um mês antes das eleições, faziam antever uma esmagadora vitória do ex-autarca do Porto frente ao antigo provedor da Santa Casa. A sondagem indica que mais de 70% dos militantes preferem Rio como presidente contra 26,8% que escolhem Santana Lopes.

O ex-líder do PSD Marques Mendes desvaloriza as sondagens, pois considera que tentar inferir resultados entre militantes de um partido acarreta riscos. “É impossível prever quem vai ganhar, mas a luta está renhida”, afirma.

A corrida a pagar as quotas

Até 15 de dezembro, data-limite para os militantes pagarem as quotas em atraso para puderem exercer o direito de voto, foram milhares os militantes a regularizarem a sua situação. A maior mobilização do aparelho social-democrata verificou-se na distrital do Porto, com 13.132 a colocarem as quotas em dia. Seguiram-se a Área Metropolitana de Lisboa (10.765), Braga (7.830) e Aveiro (7.683). No círculo da Europa fora pagas 459 quotas, enquanto fora do continente europeu, o número de quotas pagas foi de 1.354.

Quer isto dizer que, ao todo, vão participar nos cadernos eleitorais 70.385 militantes ativos com quotas pagas.

A divisão entre os apoiantes de Rio e os de Santana estende-se ao Parlamento, onde independentemente de quem ganhar as eleições de sábado, o futuro líder social-democrata terá como “porta-voz” um líder parlamentar que não escolheu e uma equipa que lhe é alheia. Depois de ter assumido o apoio a Rio, o líder parlamentar da bancada laranja está debaixo de fogo.

Marques Mendes aposta numa reorganização do grupo parlamentar: “Se Rui Rio ganhar não me parece que Hugo Soares vá continuar a ser líder parlamentar”. No entanto, Hugo Soares assegura ao Jornal Económico que está disponível “para fazer oposição a António Costa, independentemente de quem ganhe as eleições”.

Ter um discurso diferente daquele que é o discurso do Governo vai ser, segundo Marques Mendes, o principal desafio de quem ganhar estas diretas. E o PSD deverá estar unido para fazer lhe frente.

“O partido vai sair dividido claro, depois depende das duas partes passar da divisão ao diálogo”, afirma Marques Mendes. “É um risco. Pode manter-se essa divisão ou pode não. Não há nenhuma resposta categórica de sim ou não a essa questão”, acrescenta.

Já Adelino Maltez acredita que, após as eleições diretas, o partido sofrerá um “momento de transfiguração”. “Basta pegar-se na história do PSD. Começou por pedir por fazer parte da Internacional Socialista, foi para os liberais e agora é do Partido Popular Europeu, que agrupa democratas-cristãos e conservadores na Europa. A estrutura do PSD é elástica e o partido é ‘predador’ quando se trata de deter o poder”, defende. “Quando vêm um novo líder é tudo cavaquista, como foi tudo marcelista e passista. Com o próximo líder vai acontecer exatamente o mesmo”, acrescenta.

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