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DXC: “Gestão de dados, segurança e automação vão vingar”

O braço português da multinacional norte-americana, que abriu recentemente um centro de operações em Lisboa, apostará sobretudo nestas três tecnologias para conquistar o setor financeiro. “Podemos atrair startups, porque elas têm um produto que pode ser interessante para as soluções, programas de estágio ou de certificações das universidades ou até alguns parceiros de negócio para colaborarem connosco. A ideia é resolver problemas”, afirma Manuel Maria Correia, diretor geral da DXC Portugal.
26 Fevereiro 2019, 07h37

A multinacional norte-americana DXC Technology anunciou este ano a abertura de um novo centro de operações e em Lisboa, designado “DXC Business Process Services Digital Centre” e com capacidade para ter até 120 funcionários e um espaço de incubação. Em entrevista ao Jornal Económico, o diretor geral da DXC em Portugal, Manuel Maria Correia, afirma que não tem dúvidas de 2019 continuará a ser um ano de fusões e aquisições na tecnológica: “A única forma de crescermos à velocidade que o mercado nos pede é ir adquirindo empresas, estratégicas, para completar capacidades digitais”, explica.

 

A que se deve o investimento neste centro?

A DXC tem quase dois anos de vida. Quando começámos esta jornada já tínhamos um plano de crescimento acelerado. Por um lado, temos de transformar as empresas que estão na nossa fundação e, por outro lado, para endereçamos os temas do digital. Para o fazermos, contratámos novos elementos. Começámos com cerca de 200 pessoas na nossa operação e hoje em dia temos cerca de 450. Chegámos a um ponto em que precisamos de escalar, porque as empresas com um perfil como o nosso abordam as grandes organizações, os mercados mais de topo do ponto de vista dos segmentos de mercado. Portugal tem um mercado muito pequeno para ter escala. Toda a oferta que temos de serviços que oferecemos aos nossos clientes é muito vasta, portanto, em Portugal, não conseguimos ter especialistas em cada uma delas. Então, aquilo que fazemos é: para cada uma das ofertas, escolhemos aquelas em que vamos ou não apostar. O centro vai permitir-nos abrir uma linha de negócio em que a DXC já é forte lá fora, de suporte aos serviços financeiros na área de backoffice.

De que tipo de apoio aos serviços financeiro se trata exatamente?

Conseguimos fazer um contrato com o BPI, o primeiro desta área de negócio em Portugal, e fizemos um business case e algum trabalho interno para atrair este investimento. Para utilizar as palavras standard do mercado, é um serviço de BPS [Business Process Services], o que quer dizer que estamos a fazer o outsourcing de processos de negócio do nosso cliente e que tomamos conta dele. Como empresa tecnológica, não nos limitamos a pegar no processo e a executá-lo em vez do cliente: usamos a tecnologia para o tornar mais eficiente, nomeadamente a automação, os famosos robôs, todas as áreas de Analytics. Ou seja, aqui em Portugal estamos a alavancar uma área de negócio que em Barcelona já tem muitos anos e, com esse conhecimento, trazer o investimento para Portugal.

Como é que se processou essa transação de capacidades de Espanha para Portugal?

Temos uma equipa de Espanha que lidera a operação do ponto de vista de fazer o set up, contratámos todos os colaboradores que são portugueses, mas o know-how é espanhol. Com o tempo desenvolvermos as capacidades cá ou em França, Itália, Reino Unido… Depende das áreas de negócio que formos desenvolvendo. Essa é também a mais-valia das empresas internacionais: trazer conhecimento de fora, aplicá-lo ao nosso país e, depois, desenvolvermos skills. O centro é tão mais relevante quando a DXC ainda está num processo de consolidação, num modo de racionalizar sites no mundo inteiro, fruto das fusões e aquisições que fez. Passa a ser a nossa quarta localização em Portugal. Temos o escritório sede aqui em Lisboa, um data center em Évora e um centro de nearshore no Fundão. Na prática, o centro de Lisboa acaba por ser mais premium, mas também porque a nossa localização neste tipo de serviços é muito importante. Até a nível de transportes, para que as pessoas possam ter a vida mais facilitada.

A empresa tem quantos clientes têm? Vão mudar o cliente-alvo com este centro?

Temos cerca de 30 e trabalhamos com eles já há alguns anos, porque muitos dos contratos vêm da nossa génese anterior. Trabalhamos para o segmento corporate, para as maiores organizações dentro de cada um dos setores: Caixa, EDP e Galp Energia, Jerónimo Martins, Luz Saúde… O nosso target continua a ser o mesmo, as grandes corporações, mas obviamente que vamos olhar para a banca em Portugal. A curto prazo também a área seguradora. A DXC também tem conhecimento de negócio nesta área e capital intelectual fruto de uma aplicação core que temos. Existe ainda outro pilar neste centro, que já não tem tanto que ver com este negócio, que é o innovation hub. Hoje tudo se chama digital. Também se pode chamar digital center, por aí. O que interessa é o seu propósito.

Qual é esse propósito?

Nós temos estado num processo de transformação acelerado das nossas equipas, como lhe disse. E temos tido aqui alguma dificuldade em que a velocidade dessa transformação seja igual àquela que é a procura de mercado – i.e. o mercado hoje requer mais skills do que as que conseguimos produzir. Não é um problema exclusivo da DXC é um problema do mercado e de todas as empresas com o perfil da DXC. O que vamos tentar fazer com este centro é acelerar o processo através da contratação de mais jovens e da criação de um ambiente que permita também que os nossos colaboradores de outras áreas possam desenvolver alguns projetos de inovação e aproximarem-se mais destas áreas. Enquanto há três anos eram áreas que ocupavam partes pequenas do negócio, aquilo que vemos agora é que, daqui a três ou cinco anos, vão ser a maioria dele. O shift está a acontecer.

Mas definem esse innovation hub como incubadora. Vão mesmo receber startups?

A base serão projetos-piloto que serão usados para demonstrar as nossas capacidades aos nossos clientes. Nesse processo, podemos atrair startups, porque elas têm um produto que pode ser interessante para as soluções, programas de estágio ou de certificações das universidades ou até alguns parceiros de negócio para colaborarem connosco. A ideia é resolver problemas. Quem vai ditar como é que o ecossistema vai evoluir vão ser os problemas que vamos identificando com os nossos clientes. O que mais vemos são novos negócios a aparecer porque houve alguém que pegou nessas ideias das startups.

E em relação ao intraempreendedorismo, o que poderão esperar os vossos próprios trabalhadores?

Aí há várias coisas a acontecer. Temos, por exemplo, a «DXC University», um processo interno em que as pessoas se vão formando e fazem roadmarks de certificação nessas áreas. Agora, cada um decide se quer ir por esse caminho ou não, com a orientação do seu manager. Estamos também a aproximar-nos das principais universidades e a assinar parcerias com elas: Instituto Superior Técnico, ISCTE, Nova SBE, FCT…

Para que funções estão a contratar?

Temos uma área mais relacionada com a gestão de infraestruturas e aí normalmente contratamos quem saiba gerir bases de dados, software, fazer a migração para a cloud, etc. Agora está mais ou menos estabilizada, mas é normal que tenhamos de contratar alguns recursos porque é a nossa maior fatia de negócio. Depois, temos uma mais aplicacional [manutenção de aplicações, inteligência artificial, analytics, Robotic Process Automation (RPA), blockchain…], que prevejo que cresça muito em Portugal. Vamos apostar em duas ou três destas tecnologias para já, neste primeiro ano. Por exemplo, fechámos agora um grande contrato com a BMW para trabalharmos no software de desenvolvimento dos carros.  É um negócio que está com os nossos colegas da Alemanha. Dificilmente criaremos a prática de automotive em Portugal. O que fazemos é olhar para o nosso mercado e achar uma oportunidade. Aqui achámos que faz sentido apostar na RPA, na gestão de dados e na segurança. A maior parte dos recursos que vamos contratar será para estas três. Estas tecnologias vão vingar. O nosso mercado target é mais conservador, tem de se transformar – senão tiram-lhe o tapete debaixo dos pés -, olham para a adoção destas tecnologias com algum ceticismo. Fazem alguns pilotos, experimentam, mas só daqui a cinco anos é que serão O nosso mercado target é mais conservador, tem de se transformar – senão tiram-lhe o tapete debaixo dos pés -, olham para a adoção destas tecnologias com algum ceticismo. Fazem alguns pilotos, experimentam, mas só daqui a cinco anos é que serão mainstream no seu negócio. Nos últimos anos, a banca retraiu os seus investimentos e está um bocadinho atrasada, mas os seguros, por exemplo, estão a transformar-se. no seu negócio. Nos últimos anos, a banca retraiu os seus investimentos e está um bocadinho atrasada, mas os seguros, por exemplo, estão a transformar-se.

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