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E se os três ‘grandes’ perderem o controlo das SAD?

Estamos preparados para ver algum dos três grandes clubes portugueses a perder a maioria no capital da SAD? As consequências desse cenário poderiam incluir uma Liga mais desequilibrada, mas com clubes mais competitivos na Europa.
14 Julho 2018, 16h30

Não seria caso inédito em Portugal, mas ninguém sabe que consequências teria se acontecesse aos maiores clubes portugueses. Na Liga portuguesa, a Codecity, liderada por Rui Pedro Soares, comprou a SAD do Belenenses ao clube e dificilmente pode concluir-se que a ‘experiência’ tem sido bem sucedida, com uma clivagem clara entre clube e SAD que até pode levar os azuis do Restelo a jogar longe de casa na próxima temporada. Em entrevista ao Jornal Económico, Luís Vilar, docente da Universidade Europeia, esclarece que para que tal acontecesse, “teriam de ser negociadas com grande detalhe as obrigações a que o novo detentor da SAD estaria vinculado para com o património histórico e cultural do clube” e que “a única condição para uma SAD ser vendida a um acionista externo seria em caso de absoluta insolvência”. Também em entrevista ao nosso jornal, Luís Miguel Henrique, advogado e consultor, considera que nenhum dos três ‘grandes’ está preparado para esta realidade. “Como exercício meramente teórico, ver um dos ‘grandes’ em Portugal devidamente alavancado ao nível dos grandes europeus e associando ao modelo de desenvolvimento desportivo de scouting e formação que existe em Portugal, e em que nos tornamos peritos, poderia ser uma mistura explosiva”, acrescenta o advogado.

“Impacto negativo pode ser tremendo”

Luís Vilar acredita que o impacto de uma operação destas num ‘grande’ português passava pela “verdadeira profissionalização da gestão dos clubes de futebol em Portugal”, advertindo, no entanto, que “o impacto negativo pode ser tremendo” e que “a missão do comprador poderá não convergir com a missão do clube”. Para o docente, corre-se o risco de “uma perda de identidade do clube na medida em que o resultado financeiro poderá tornar-se mais importante que o resultado desportivo, isto é, a maioria dos acionistas da SAD passaria a ter como objetivo de filiação a maximização do seu investimento e não a de vitórias desportivas”. Para o professor universitário, “este fator aliado à inoperância nos mecanismos de controlo e compliance na sociedade portuguesa em geral, e no futebol em particular, torna os clubes de futebol em Portugal apetitosos para investidores de natureza menos transparente”.

“A expetativa simpática”, de acordo com Luís Vilar, “seria que a gestão dos clubes de futebol passaria a ser profissional, com melhores performances financeiras, estando menos associadas a lideres oriundos da construção civil com relações próximas com o poder político. Este novo player poderia criar pressão para que a Liga conseguisse construir um produto comercialmente interessante. Contudo, conhecendo as coisas boas e más do meu país, temo que a compra de uma SAD de um grande por um investidor externo fosse apenas criar uma guerra insanável entre sócios e investidor”.

Que papel resta aos associados?

Luís Miguel Henrique considera que, num cenário em que um grupo económico detenha a maioria do capital social da SAD, “o papel dos associados do clube fica condicionado não pela existência ou não de uma maioria externa que detenha o capital da SAD, mas sim pelos direitos que, nos termos dos estatutos da SAD, o clube continue a ter nas decisões”. Luís Vilar adianta que “a divergência de missões entre os antigos e novos proprietários poderá determinar que, em última instância, o clube como anteriormente foi conhecido, nunca mais será o mesmo”.

E como fica o futebol português?

“Qualquer investimento massivo numa equipa cujo orçamento já é massivo face aos seus diretos concorrentes serviria apenas para prejudicar ainda mais o futebol português”, acredita o professor universitário. No entanto, para Luís Vilar, o “único modelo de negócio existente em Portugal é a transação de jogadores, porque a liga de futebol não funciona como um produto comercial”. Já Luís Miguel Henrique considera que “associando esse investimento à capacidade de recrutamento/formação dos ‘grandes’ em Portugal, retendo os melhores jogadores num ciclo mesmo que de cinco anos, teríamos obrigatoriamente um enorme desequilíbrio doméstico”.

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