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Economia cresce, mas inflação teimosa dá dores de cabeça

Bancos centrais deram esta semana os últimos passos da política monetária deste ano e começaram a traçar o caminho do próximo. As perspetivas económicas são positivas, mas a subida dos preços continua a falhar metas.
20 Dezembro 2017, 07h25

Reserva Federal norte-americana, (Fed) Banco Central Europeu (BCE) e Banco de Inglaterra (BoE) tomaram esta semana as últimas decisões de política monetária do ano e desenharam os mapas do caminho a percorrer em 2018. Nenhum deles surpreendeu, mas todos mostraram a mesma preocupação: a meta da inflação continua a ser a grande falha.

Apesar de os responsáveis de política monetária dos EUA e da zona euro terem mostrado confiança no crescimento económico, a subida dos preços continua abaixo da meta de ambos (2%). Por outro lado, no Reino Unido, o processo do Brexit e consequente apreciação da libra levou ao problema oposto.

Mesmo com as dificuldades dos bancos centrais em cumprirem os mandatos, Luís Tavares Bravo, managing partner da DiF Capital, acredita que as instituições vão manter o percurso.

“A politica monetária não perdeu o seu ‘poder’. Aliás, nos mercados não tem imperado outra coisa que não seja a força dos bancos centrais”, disse. “Muito provavelmente a inflação pode inclusivamente apanhar muitos investidores desprevenidos em 2018, que pensem que os bancos vão manter taxas baixas eternamente, sobretudo nos Estados Unidos e no Reino Unido, com a Fed e BoE a poderem subir as taxas num ritmo mais rápido que o aguardado à partida nos inquéritos efetuados sobre expetativas futuras.”

“O que ficou por fazer, sra. Yellen?”

A primeira mulher a presidir o banco central dos EUA liderou pela última vez a reunião do Federal Open Market Committee (FOMC) esta quarta-feira. Questionada sobre o que deixou por realizar no mandato, Janet Yellen apontou para a inflação.

O último ano em que a meta foi alcançada foi em 2012, altura em que a taxa de inflação média anual foi de 2,1%. Desde então que falha o objetivo, tendo ficado em 0,1% em 2015 e 1,3% em 2016.

Rick Rieder, chefe de investimento em global fixed income da BlackRock, considera que “tem havido uma clara recuperação mais lenta” neste indicador, mas que “os dados indicam que a inflação está numa trajetória de subida, que deverá proximamente permitir ao banco central proclamar vitória sobre esse objetivo de política também”.

A projeção da Fed é de uma subida de 1,7% este ano e 1,9% no próximo. Apenas em 2019 e 2020, a instituição espera que a subida dos preços atinja os 2%.

“Embora as previsões para a inflação se tenham mantido inalteradas, o banco central espera agora que a economia norte-americana cresça 2,5% em 2018, uma revisão em alta significativa dos 2,1% anteriormente previstos”, sublinha a fintech especializada em câmbio, Ebury.

“Na última conferência de imprensa como presidente da Fed, antes de ser substituída por Jerome Powell em fevereiro, Yellen manteve o tom positivo quando falou sobre o estado da economia, dizendo que está a apresentar um bom desempenho. Declarou igualmente que as alterações no quadro fiscal introduzidas pela administração Trump, a serem efetivamente implementadas, tenderão a contribuir para um pequeno aumento do crescimento do PIB nos próximos anos”.

Face às projeções, a Fed subiu as federal funds rate em 25 pontos base para um intervalo entre 1,25 e 1,5%, concretizando a terceira subida do ano (quinta desde 2015) e correspondendo às expetativas. No final do próximo ano, o banco central espera que os juros estejam nos 2,1%, indicando três novas subidas da taxa diretora ao longo de 2018. Em 2019, estima 2,5% e 3,1% no final de 2020.

Yellen ainda vai participar numa reunião do FOMC em janeiro antes de abandonar por completo a Fed, mas as próximas decisões já serão anunciadas pelo sucessor. Jerome Powell vai herdar a responsabilidade de aplicar políticas que levem a inflação e o emprego no caminho do mandato duplo do banco central, enquanto conduz a redução da folha de balança.

BCE falha meta, pelo menos, até 2020

“Apesar de o motor económico da zona euro estar fortemente a trabalhar, a inflação continua teimosamente baixa”, afirmou o chefe de research macroeconómica global do Credit Suisse, Björn Eberhardt. “Isto reflete-se nas novas previsões macroeconómicas do BCE, que mostram uma revisão em alta do outlook de crescimento, mas que a inflação vai continuar a ficar abaixo da meta até mesmo em 2020”.

O presidente do BCE, Mario Draghi, anunciou esta quinta-feira esperar que o PIB da zona euro expanda este ano 2,4%, o que significa uma revisão “substancialmente” em alta, em relação às previsões de setembro, altura em que o banco central esperada um crescimento de 2,2%, em 2017. No próximo ano, o BCE estima que o PIB cresça 2,3% em 2018 (face à previsão de 1,8%, em setembro), 1,9% em 2019 e 1,7% em 2020.

Sobre a inflação média anual, o BCE estima uma aceleração para 1,5% em 2017, 1,4% em 2018, 1,5% em 2019 e 1,7% em 2020. Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank, acrescentou que “infelizmente, Draghi não explicou porque é que as projeções para a inflação foram revistas em baixa apesar de a economia registar uma performance acima do esperado”.

O BCE adotou a definição de estabilidade dos preços (“próxima, mas abaixo de 2%”) como mandato em 1998. No entanto, desde então nunca o conseguiu cumprir e as estimativas dos governadores indicam que vai continuar com o mesmo problema.

“Em vez de aceitar esta realidade, o BCE está a continuar uma guerra contra a taxa de inflação teimosamente baixa. E vai manter esta linha de operação em 2018. Mais que nunca, parece-me que a redução da compra de obrigações não vai de forma alguma por fim à política acomodatícia”, acrescentou Krämer.

Sobre o quantitative easing, Draghi não anunciou novidades, tendo reafirmado a redução prevista a partir de janeiro. O BCE vai cortar o montante de compra de ativos para 30 mil milhões de euros mensais, metade do valor de aquisições até dezembro. Este ritmo está previsto até, pelo menos, setembro, mas a porta mantém-se aberta a extensões em termos de tamanho ou duração.

Além disso, o presidente do BCE lembrou ainda que o stock de aquisições que fica no balanço e a política de reinvestimentos vai fazer com o banco central continue no mercado durante anos depois de terminar as compras.

Brexit é a maior fonte de incerteza

Enquanto os EUA e a zona euro lidam com preços que não sobem, a situação de exceção do Reino Unido, em pleno processo de saída da União Europeia, oferece o problema contrário.

Numa altura em que a inflação não pára de escalar, tendo atingido em novembro o valor mais elevado em seis anos (3,1%), o BoE reviu as projeções económicas para o país até 2020 e mostrou mais confiança em relação à trajetória da inflação. A instituição liderada por Mark Carney espera que a subida dos preços atinja a meta de 2% em 2020 e reafirmou que o Brexit continua a ser a maior fonte de incerteza.

“Os riscos com o Brexit não são negligenciáveis, mas não provavelmente a curto prazo, facto pelo qual os mercados têm permanecido algo imunes depois dos primeiros meses mais agitados. Vai depender muito da forma como for gerido o novo acordo comercial entre o Reino Unido e bloco euro”, afirmou Tavares Bravo.

O banco central manteve as taxas de juro inalteradas em 0,5%, valor para que tinham subido em novembro, depois de uma década em mínimos históricos. A decisão foi unânime e já era antecida pelos mercados.

O Comité de Política Monetária votou também com consenso em manter o programa de compra de ativos corporativos em 10 mil milhões de libras e de compra de ativos governamentais em 435 mil milhões de libras.

“O BoE decidiu muito em linha com o esperado, uma forma de precaução face aos riscos ainda inerentes ao contexto específico do Reino Unido”, acrescentou o .managing partner da DiF Capital, que espera que o banco central britânico suba as taxas três vezes no próximo ano, para 1,25% a 1,5%. “Em 2018, podemos ter uma surpresa nesta região”, disse.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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