Aproximam-se meses difíceis para as empresas e trabalhadores. Agosto representa claramente um problema acrescido, é um mês que vai custar caro às empresas, altura de pouco dinheiro e que as coloca apenas a fazer os pagamentos necessários ao Estado, Segurança Social e impostos, e aos trabalhadores. Os fornecedores de todo o tipo de serviços ficam para o fim.

Percebemos que o novo regime de lay-off vai, claramente, penalizar as empresas e não há indicadores de retoma que justifiquem o fim do lay-off anterior. Aliás, nenhuma associação patronal afirmou que existe retoma. Constatamos que mesmo as grandes empresas estão a empurrar os pagamentos para setembro, enquanto as PME estão a ficar exangues depois de perceberem que as novas linhas de crédito ainda não chegaram, que os bancos estão de férias e que, perante uma economia que não descola, ninguém paga a ninguém.

Ainda há dias a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas apelava ao Governo que lançasse uma nova moratória para o cumprimento das obrigações fiscais e contributivas das empresas, com o objetivo de manter postos de trabalho. Numa altura em que as questões da pandemia estão longe de estar resolvidas, estamos antes num ponto crítico em que tudo pode ficar tão mal como há uns meses. As empresas já estão a pagar as contribuições normais acrescidas dos montantes que foram alvo de moratórias, e o que na verdade está em causa é ganhar tempo, tanto para as empresas como para as famílias.

Repetimos: não há retoma económica geral ou setorial. Acresce que no atual período se introduziu mais burocracia nos processos, a par de este ser o período das férias judiciais com injunções limitadas. Depois de tudo isto, o que se pode esperar é maior litigância a nível financeiro a partir de 15 de setembro.

Em termos de negócios, na área dos serviços o que se percebe dos números é que agosto está a matar setembro e a limitar outubro, e sem tempo para recuperar ao longo do ano, o resultado será mais despedimentos. Os números oficiais são elucidativos, com o número de casais em que ambos os elementos estão inscritos nos centros de emprego do continente continua a aumentar: 22% em julho, em termos homólogos, diz o IEFP.

Por outro lado, o número global de desempregados supera os 407 mil e disparou em julho cerca de 37% face ao período homólogo. O Ministério do Trabalho diz que o desemprego no segmento jovem aumentou 58% em julho em termos homólogos. E no Algarve, mesmo com uma ligeira recuperação do turismo, o desemprego em julho aumentou 200% em termos homólogos.

Não vale a pena assobiar para o lado. A situação é gravíssima e o encadeamento sistémico de empresas que devem a empresas e famílias, que depois das moratórias vão deixar de pagar aos bancos, terá um impacto brutal no país. O fim do lay-off simplificado foi um tiro no pé e se a queda da economia no segundo trimestre foi brutal, vamos esperar para ver como será o terceiro trimestre e depois levar as mãos à cabeça.

Já aqui o dissemos: o dinheiro da União Europeia não chegará a tempo de evitar uma crise profunda e é preciso repensar modelos de ajuda e apoio.