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Eficácia da vacina da AstraZeneca em causa após reconhecimento de erro de fabrico

O número relativamente baixo de pessoas no grupo de dose reduzida torna difícil de perceber se a eficácia observada no grupo é real ou uma particularidade estatística. Também a idade dos participantes suscita questões.
26 Novembro 2020, 10h20

Embora o plano de vacinação para a Covid-19 ainda não esteja pronto, sabe-se que uma das vacinas para combater a pandemia que Portugal vai receber é da AztraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford. Ora, é precisamente a vacina da farmacêutica britânica que está a levantar questões sobre os resultados preliminares e a sua eficácia depois de ter sido reconhecido um erro de fabrico.

De acordo com uma notícia da Associated Press (AP), dois dias depois de anunciar o sucesso da vacina projetada, a AstraZeneca e Universidade de Oxford reconheceram um erro de fabrico, em comunicado.

No dia 23 de novembro, a empresa e a universidade tinham descrito a vacina como “altamente eficaz”, embora sem mencionar a razão pela qual alguns participantes nos ensaios clínicos não receberam a mesma quantidade de vacina na primeira das duas injeção. Os voluntários acabaram divididos em dois grupos, sendo que o grupo que recebeu uma dose menor parecia estar mais protegido do que os voluntários que receberam duas doses completas. No grupo de dose baixa, a vacina teria uma eficácia de 90%, enquanto que no grupo que recebeu duas doses completas a eficácia parece ser de 62%.

Com estes resultados combinados, os fabricantes revelaram que a vacina parece ter uma eficácia de 70%, mas a forma como estes foram obtidos levantou questões por parte de especialistas.

Ora, no comunicado de quarta-feira, os fabricantes explicam que alguns dos frascos usados no teste não tinham a concentração certa de vacina, o que significa que alguns voluntários receberam meia dose. O problema terá sido discutido com os reguladores, que concordaram com a conclusão do teste. O problema de fabrico foi corrigido, segundo o comunicado citado pela AP.

Para os especialistas, o número relativamente baixo de pessoas no grupo de dose reduzida torna difícil de perceber se a eficácia observada no grupo é real ou uma particularidade estatística.

Ao todo, 2.741 voluntários receberam meia dose da vacina seguida de uma dose completa. O total 8.895 pessoas receberam as duas doses completas.

Mas para os especialistas persiste outras dúvidas, como o facto dos voluntários que receberam uma dose reduzida ter mais de 55 anos de idade. É que as pessoas mais jovens tendem a apresentar uma resposta imunológica mais forte do que as pessoas mais velhas.

As conclusões dos testes à vacina da AstraZeneca ainda não foram publicados em jornais médicos. A autorização para comercializar a vacina só avançará depois dos reguladores britânicos terem os dados fornecidos pelos fabricantes da vacina.

A Comissão Europeia anunciou em agosto o seu primeiro acordo com uma farmacêutica, precisamente a AstraZeneca, para a compra de 300 milhões de doses de uma potencial vacina. Desde então, Bruxelas tem fechado vários acordos para assegurar aos estados-membros as vacinas.

Deste lote de 300 milhões, cabe a Portugal um total de 6,9 milhões de doses, conforme disse a Autoridade Nacional do Medicamento – Infarmed à TSF em agosto. No entanto, o Infarmed destacou a existência de negociações da UE com várias farmacêuticas.

Recorde-se que a ministra da Saúde, Marta Temido, avançou a 18 de novembro que o Governo está a trabalhar no sentido de ter “tudo” preparado para distribuir uma vacina contra a Covid-19 em janeiro, a pouco mais de um mês, numa entrevista ao podcast do PS “Política com Palavra”.

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