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Egipto: contestação toma conta das ruas e promete voltar no fim-de-semana

Geração mais nova toma as ruas em desafio à proibição de manifestações nos últimos seis anos. ‘Colagem’ à Arábia Saudita é uma das fontes da contestação. Os manifestantes prometem voltar no próximo fim-de-semana.
23 Setembro 2019, 07h50

A Comissão Egípcia de Direitos e Liberdades (ECRF), uma ONG sediada no Cairo, informou que pelo menos 220 pessoas foram presas desde o início dos protestos contra o presidente, que tiveram início na noite de sexta-feira passada. A organização disse que montou um ‘gabinete de crise’ para responder às prisões, que se verificaram no Suez, Alexandria e Gizé. Outra ONG, o Centro Egípcio de Direitos Económicos e Sociais, afirmou ter registado pelo menos 274 prisões desde o início das manifestações.

“Continuamos a receber casos 24 horas por dia”, disse Mohamed Lotfy, da ECRF. “Acho que a polícia de choque e o Ministério do Interior não esperavam o tamanho dos protestos”. O ECRF registou prisões em pelo menos 12 locais, incluindo o Cairo, Gizé, Alexandria, Suez e cidades como Dakahlia, Qalyubia e Kafr el -Sheikh.

Na sexta-feira, os manifestantes tomaram as ruas do Egipto pela primeira vez em vários anos, desafiando uma proibição que já leva seis anos às manifestações. Aqueles que vieram pedir abertamente o fim do governo de Sisi arriscaram a prisão imediata, e a polícia usou gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar as manifestações.

A polícia de choque e as forças de segurança cercaram a Praça Tahrir, no Cairo, na noite de sábado, para impedir que os manifestantes acedessem a este local simbólico, mas na cidade de Suez, no nordeste do país, multidões de manifestantes gritaram contra o presidente antes de serem dispersados com de gás lacrimogéneo e cargas policiais.

Os dados disponíveis mostram que os manifestantes eram jovens demais para terem participado na insurreição de 2011 que derrubou Hosni Mubarak.

O número de prisões no Cairo encheu as esquadras da cidade e os presos tiveram de ser encarcerados em quartéis. Os detidos foram depois levados em grupos para interrogatório pela polícia e pela agência de segurança nacional do Egipto, conhecida pelo uso de “desaparecimentos e torturas sistemáticas e generalizadas que provavelmente representam crimes contra a humanidade”, de acordo com a Human Rights Watch.

O serviço estatal de informações divulgou um comunicado dirigido aos jornalistas internacionais com base no Cairo alertando-os para “respeitarem os padrões profissionais reconhecidos internacionalmente” na cobertura dos protestos.

O presidente Abdul Fatah Khalil Al-Sisi e os militares que o sustentam no poder são acusados de corrupção – que o visado já considerou “mentiras e calúnias” – mas uma parte do país está também desconfortável com a aproximação entre Sisi e o regime da Arábia Saudita. Aliás, o timing dos protestos – que poderão continuar no próximo fim-de-semana – não será alheio ao facto de a tensão entre os sauditas e os iranianos estão ao rubro.

O Egipto é desde há séculos sunita, como acontece com a Arábia Saudita, mas o alinhamento do atual presidente com o regime saudita é considerado por muitos um exagero que está a colocar em causa a soberania do país – nomeadamente depois de Sisi ter aceitado transferir duas ilhas egípcias estratégicas do ponto de vista geopolítico para as mãos do príncipe herdeiro saudita.

Os protestos surgiram numa altura em que Sisi estava em a Nova Iorque, na sede da ONU, para fazer um discurso sobre “preservar a paz e a segurança mundiais e combater o terrorismo”.

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