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Eleições na Alemanha: quem são os candidatos à sucessão de Angela Merkel?

Não há memória de tanta agitação entre os germânicos: em poucos meses, a liderança das sondagens foi ocupada por três dirigentes partidários diferentes. Na reta final, e depois de ter ultrapassado os Verdes, a CDU (de Angela Merkel) deixou-se ultrapassar pelo SPD – que entra a liderar no dia das eleições.
  • Olaf Scholz, ministro das Finanças alemão
25 Setembro 2021, 11h30

Numas eleições onde impera ainda alguma incerteza face às reviravoltas das sondagens – que apresentaram sucessivamente três líderes como potenciais vencedores, primeiro a Verde Annalena Baerbock, depois o democrata-cristão Armin Laschet e finalmente o social-democrata Olaf Scholz – os alemães parecem estar surpreendidos exatamente com essa incerteza. De facto, as eleições costumam estar à partida bem definidas e a certeza da vitória é, até agora, um modo de manter a estabilidade política. Mas, desta vez, muita coisa mudou e o facto de a ainda chanceler Angela Merkel ter decidido sair da vida política ativa alterou a relação de forças em presença.

De qualquer modo, a partir de segunda-feira o mais certo é que tudo volte ao normal: nenhum dos partidos mais votados conseguirá certamente contar com uma posição de maioria absoluta no parlamento, o que levará a demoradas negociações. Em 2017, depois da sua quarta vitória, Merkel demorou quase meio ano para conseguir formar um governo, que repetia a chamada grande coligação, entre democratas-cristãos e social-democratas.

Mas este é mais um aliciante para o próximo domingo: é possível, se bem que muito difícil, que o SPD de Scholz consiga formar um governo de maioria com os Verdes de Annalena Baerbock – ou até mesmo com a esquerda mais radical do Die Linke. Seria um governo marcadamente de esquerda, o que seria mais uma surpresa.

A geometria variável das coligações alemãs aponta, de qualquer modo, para a mais forte possibilidade de uma nova coligação CDU (e os bávaros da CSU) com o SPD – que, se não for suficiente, poderá ter o contributo dos liberais do FDP (tradicionalmente disponíveis) os dos Verdes (que deverão ficar á frente dos liberais. Mas certezas só, muito possivelmente daqui por uns meses.

 

Olaf Scholz (SPD)

Ministro das Finanças do governo de coligação com a CDU, ex-autarca de Hamburgo, é a prova de que nem sempre os presidentes dos partidos são os candidatos à chancelaria. Teve um bom desempenho no combate à pandemia, mas a falta de contacto fácil com os eleitores colocaram-no no início como um potencial perdedor. De 2002 a 2004, foi secretário-geral dos social-democratas, o que o coloca na posição certa para conhecer a máquina do partido, o que nunca deixa de ser importante. De qualquer modo, à medida que foi subindo nas sondagens até atingir o topo – transformando-se inesperadamente no mais sério candidato à sucessão de Merkel – como que conseguiu libertar-se da reserva atrás da qual costumava defender-se em público, e acabou por revelar-se um sério contentor político. Segundo a grande maioria dos analistas, Scholz venceu todos os debates televisivos em que participou com os restantes candidatos – o que acabou por o auxiliar a cimentar a liderança. A diferença para os restantes candidatos foi de tal ordem, que o social-democrata teve mesmo de se haver com alguns golpes baixos oriundos dos democratas-cristãos, numa altura em que estes esperavam tudo menos serem ultrapassados pelo candidato que tinham como derrotado à partida vindo de um partidos que passou cinco anos sem encontrar um rumo. Aparentemente, encontrou-o na altura certa.

 

Armin Laschet (CDU)

Armin Laschet é ministro-presidente do Estado da Renânia do Norte-Vestfália e presidente da CDU depois de ter passado por eleições internas não isentas de dificuldades. Foi desde a primeira hora apontado como o mais próximo da presidente cessante, Angela Merkel, o que parecia ser um bom ‘cartão de visita. No início da corrida, ainda em pré-campanha, tudo parecia indicar que a campanha pouco mais seria que um longo debate com a candidata dos Verdes e que, no fim, como sempre, ganhariam os conservadores. Aparentemente, não é nada disso que vai acontecer. Os analistas tendem a considerar que a enorme gafe de Laschet – quando se riu durante uma visita a familiares de mortos nas cheias do verão – estabelece o momento em que o líder da CDU passou à condição de derrotado. Mas a sua prestação nos debates televisivos foi dececionante e nunca chegou sequer a incomodar verdadeiramente o candidato do SPD. A pergunta que agora se coloca é, se se confirmar que perde a corrida, Laschet irá ou não desistir da liderança do partido. Se não o fizer, será alvo das mais diversas críticas; se o fizer poderá lançar o partido num limbo de onde demorará a sair – um pouco como sucedeu há cinco anos, quando Martin Schulz deixou o SPD depois de não o ter conseguido guiar à vitória.

 

Annalena Baerbock

Aos 40 anos, Annalena Baerbock é co-presidente dos Verdes desde 2018, juntamente com Robert Habeck. Jurista formada em Direito Internacional Público pela London School of Economics, tem nos seus conhecimentos um dos maiores trunfos. Mas a falta de experiência de governação é aquilo que mais salientam os seus adversários. Isso mesmo ficou vem demonstrado nos debates com os outros candidatos, onde permaneceu particularmente pouco interventiva e mesmo levemente incomodada com o reboliço à sua volta. Talvez tenha sido esta a razão por que, depois de ter liderado algumas sondagens, acabou por deixar-se ultrapassar pela CDU e finalmente pelo SPD. Ou talvez os alemães tivessem de repente tomado consciência de que estavam a preparar-se para dar a vitória a um partido de esquerda e isso lhes tivesse causado um arrepio: afinal, a CDU é o principal partido da União Europeia e aquele que mais peso político tem nas decisões da União Europeia e os germânicos não terão gostado da perspetiva que uma vitória dos Verdes poderia abrir. De qualquer modo, é possível que ainda venha a ter uma palavra a dizer no que diz respeito à formação do próximo governo – o que já será um bom indicador para o partido. O problema é que esse indicador também arrisca ser o último: depois de uma fase em que os Verdes cresceram um pouco por toda a Europa – crescimento esse que se consubstanciou nos lugares ganhos no Parlamento Europeu – várias eleições têm evidenciado que a sua capacidade de crescimento já atingiu o topo.

 

Christian Lindner (FDP)

Aos 42 anos, dirige desde 2013 o partido onde entrou com apenas 16. Oficial na reserva oriundo da Renânia do Norte-Vestefália, é parlamentar a partir de 2009. A ele se deve o regresso dos liberais não apenas ao Parlamento, mas também a perímetro restrito onde a CDU costuma capturar os seus colegas de coligação. A sua intenção é precisamente essa: a de manter o partido nesse grupo – o que, se não acontecer, o pode atirar novamente para baixo dos 5% de votos e, por isso, para fora do parlamento. Certezas, so na próxima segunda-feira.

 

Tino Chrupalla (AfD)

Co-presidente da AfD e, aos 46 anos, um dos seus cinco dirigentes máximo – uma espécie de colégio que conseguiu elevar o partido à condição parlamentar (onde, depois das eleições de 2017, assegurou mesmo a liderança da oposição à grande coligação CDU-SPD-FDP). Tal como os Verdes, talvez a extrema-direita alemã tenha chegado em 2017 ao topo das suas capacidades de crescimento. Tino Chrupalla faz dupla com Alice Weidel.

 

Janine Wissler (Die Linke)

Dietmar Bartsch, de 63 anos, e Janine Wissler, de 39, complementam-se na presidência do partido parlamentar mais à esquerda do Bundestag. Bartsch é da Alemanha Oriental e um pragmático, enquanto Janine Wisseler é da antiga Alemanha Federal e uma das mais radicais dirigentes de esquerda do país na atualidade. Por exemplo, é a favor do fim imediato de todas as missões militares no exterior e da suspensão das exportações de armamento alemão. Se as coisas lhes correrem mesmo muito bem, é possível que a soma dos seus deputados com as do SPD e dos Verdes seja suficiente para colocar a CDU fora da órbita do governo. E até mesmo na Alemanha sonhar não custa.

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