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Eleições na América Latina: riscos políticos trazem à tona fragilidade social e corrupção

Na análise ao período de eleições que a América latina vai viver, o índice de risco político da Coface mostra que as fragilidades sociais e a corrupção são os assuntos mais sérios.
  • Nacho Doce/Reuters
29 Junho 2018, 13h56

A América Latina tem um histórico de liderança com sistemas políticos ditatoriais e governos populistas e, com base neste contexto, o Índice de Risco Político da Coface, especialista em seguro de crédito e gestão de risco,  tem em consideração vários aspetos relacionados com questões de segurança, política e fragilidade social.

Apesar de o terrorismo não assumir um peso especial nesta análise, as estruturas sociais inadequadas, o pessimismo em torno de questões de corrupção e a taxa relativamente elevada de homicídios, são fatores que enfraquecem as perspetivas de crescimento na região. As variáveis macroeconómicas incluídas no modelo (como o PIB per capita, a taxa de desemprego, a inflação e a desigualdade de rendimentos) são geralmente pontos frágeis nos países da América Latina.

Insatisfação geral com políticos pesa na ida às urnas

Nesta análise da Coface, evidencia-se a perda da confiança geral depositada nas instituições políticas tradicionais, que está a criar oportunidades para candidatos fora do sistema. Vários candidatos promovem-se sob a bandeira de anticorrupção. México e Brasil estão, portanto, a enfrentar um cenário político complicado. O candidato de esquerda do México, Andrés Manuel López Obrador, lidera as sondagens com uma ampla margem. Historicamente posiciona-se contra os investimentos privados e indústrias tradicionalmente administradas pelo Estado. No entanto, a amplitude da divergência ideológica entre os seus aliados politicos, poderá dificultar a sua capacidade de construir uma forte coligação e obter o apoio do Congresso.

Embora a população do Brasil mostre um nível generalizado de insatisfação com os políticos tradicionais, paradoxalmente o atual favorito continua a ser o ex-presidente Lula – que foi condenado por branqueamento de capitais e corrupção passiva em Julho de 2017. Com base na lei local, provavelmente não pode recandidatar-se. No meio desta batalha judicial, há um candidato controverso – Jair Bolsonaro. Um ex-oficial militar, que foi descrito pela imprensa como “pró-arma e antigay”. Num cenário em que Lula não possa candidatar-se, Jair Bolsonaro seria o próximo candidato mais popular. Se, no entanto, o ex-presidente Lula não concorrer, ele aparece como o candidato de preferência em todos os cenários.

Neste contexto, importa reter que a recuperação dos riscos políticos já teve algum impacto no crescimento regional. Um exemplo disto foi o efeito colateral da Operação Lava Jato, que claramente contribuiu para a pior recessão do Brasil. Assim, as estimativas apontam para que o PIB da região ganhe novo impulso em 2018, com uma previsão de crescimento de 2,4% – após uma recuperação em 2017 (1,1%), após dois anos de recessão e uma recuperação da queda nos preços das matérias primas desde 2014.

As atuais incertezas políticas podem, no entender dos analistas, causar danos, por meio de dois canais de transmissão, que podem agravar-se mutuamente: o declínio nos mercados bolsistas e um aumento nas taxas de obrigações, combinado com baixos níveis de confiança corporativo e familiar (provocando atrasos ou cancelamentos no investimento ou na decisão de consumo). No caso de um vácuo governamental longo, qualquer congelamento nos gastos públicos teria um impacto negativo na atividade.

O peso dos conflitos e da corrupção

O México tem o pior desempenho em toda a região, principalmente devido à crescente violência das guerras de gangues. Em 2017, a sua taxa de homicidios superou a de 2011 – o ano de pico da guerra contra a droga no país. Em contraste, a Colômbia registou uma melhoria significativa. A violência relacionada aos grupos guerrilheiros diminuiu consideravelmente, graças a um acordo assinado entre o governo Colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Contudo, apesar destas claras melhorias, ainda existem alguns grupos dissidentes a operar no país.

A corrupção é outro problema na região. Tornou-se particularmente grave quando a Operação “Lava Jato”, começou no início de 2014 e a ponta do iceberg da corrupção foi observada pela primeira vez no Brasil. Ao todo, este escândalo revelou o envolvimento de 11 países em subornos, totalizando um valor estimado de 788 milhões de dólares.

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