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Eliana Bessada: “As empresas querem ser reconhecidas como sustentáveis, mas muitas vezes não sabem como”

A diretora-geral da Bureau Veritas em Portugal diz que a meta é atingir o crescimento de 10% no volume de negócio e nos resultados operacionais em 2019. O grupo de auditoria com 191 anos pretende continuar a inovar nos serviços e a comprar empresas de negócios distintos para diversificar a sua atuação.
9 Dezembro 2019, 06h10

O grupo francês Bureau Veritas está no mercado português há 20 anos, com uma faturação de quase 15 milhões euros anuais. Em entrevista ao Jornal Económico, a diretora-geral da subsidiária nacional refere que uma das próximas metas da empresa é desenvolver novas soluções de certificação para o turismo, para ajudar o setor “a ganhar mais credibilidade e a transmitir mais confiança”.

É a primeira mulher a assumir o cargo de diretora-geral da empresa em Portugal, ao fim de duas décadas. Que legado quer deixar numa empresa com quase 200 anos?

Sinto o peso da responsabilidade de liderar uma empresa com mais de 140 colaboradores em Portugal e do serviço que prestamos ao cliente. Desde que comecei o meu percurso profissional sempre trabalhei naquele que é designado «o mundo dos homens». Certamente que quando entrei no grupo estava em igualdade de circunstâncias com mais três homens e não fui selecionada para a função por ser mulher. Tenho trabalhado bastante para consolidar a imagem da Bureau Veritas em Portugal e para que o mercado, dentro do nosso setor de atividade, conheça a Bureau Veritas como um parceiro de confiança. Esse é o meu principal objetivo. Estamos no mercado desde 1928 também por causa de um conjunto de valores e de princípios que temos instituído e do qual não abdicamos. A inovação permitirá chegarmos a outros setores de atividade. Cada vez é mais importante inovar os nossos serviços com soluções que, de alguma forma, correspondam às necessidades do cliente. Ou seja, temos de estar constantemente em contacto com eles para perceber essas necessidades e desenvolver soluções que os ajudem. Há clientes que sabem o que querem, mas com outros temos de trabalhar mais a fundo. Por exemplo, todas as empresas querem ter o tema da sustentabilidade e ser reconhecidas como organizações sustentáveis, mas muitas vezes não sabem como chegar lá. Um dos benefícios é a notoriedade, mas têm de ter benefícios do ponto de vista interno, da sua eficiência dos processos. É um casamento entre o Marketing e as preocupações que querem ver resolvidas.

Para o biénio 2018-2020 pretendem aumentar as receitas em 5% ao ano. Já atingiram a meta?

Fazemos análise de resultados anual e os nossos planos, tipicamente, até são a três anos, com verificação anual. Os resultados do ano são fechados em janeiro. Tivemos um crescimento de 5,4% em Portugal de 2017 para 2018. Os objetivos para este ano e para o próximo são de um crescimento de 10% no volume de negócios, atingir o crescimento de duplo dígito de rentabilidade (resultados operacionais) e 10% em operating cash flow [OCF], um indicador que também é importante para o grupo.

As últimas aquisições da Bureau Veritas a nível nacional e ibérico foram a Rinave, a Inspectorate e Eca Totalinspe. A estratégia de compras será para manter em 2020?

Claramente. Temos uma estratégia de crescimento orgânico, mas temos também uma por aquisições. Temos um comité interno no grupo – com satélites regionais – em que temos como objetivo fazer análises de mercado, estudar as empresas e identificar aquelas que sejam estratégicas e que nos permitam crescer noutros setores de atividade que não os que já temos. Não queremos comprar empresas que trabalhem no mesmo setor de atividade que nós. Queremos crescer, no âmbito dos nossos serviços, em negócios que ainda não temos, por exemplo na área laboratorial (nomeadamente no setor alimentar).

A Bureau Veritas atua em segmentos como o aeronáutico, automóvel, construção, produtos de consumo… Qual é o mais importante, em Portugal e no grupo como um todo?

Dividimos os setores de atividade do Bureau Veritas em nove. A nível de grupo, o mais representativo é aquele a que chamamos Buildings & Infrastructures (B&I), que representa cerca de 28% do volume de negócios em todo o mundo. Em Portugal, o mais forte do ponto de vista de peso é a indústria. É uma área de negócio onde nós prestamos serviços de inspeção e avaliação de conformidade e soluções para a indústria, desde a petroquímica à manufatura. Em Portugal, o serviço que tem crescido mais e que tem tido mais procura, e no qual nós também temos investido como aposta, é a área da certificação. Porquê? A indústria já é muito consolidada no país, onde temos uma presença muito reconhecida, em que os clientes nos reconhecem como parceiro de confiança. Identificámos que, nos setores de atividade de mercado onde queremos investir nos próximos anos, temos mais soluções que podemos desenvolver dentro do âmbito da certificação. Por exemplo, um dos setores de aposta para nós, no próximo ano, é o turismo. Dentro do turismo, queremos desenvolver soluções de certificação à medida das necessidades, para ajudar o turismo a ganhar mais credibilidade e a transmitir mais confiança. Temos a preocupação de ir ter com os setores, com os clientes, e perceber quais são as suas necessidades, e, muitas vezes, desenvolvemos taylor made solutions. No entanto, há uma área de aposta estratégica que tem a ver com a sustentabilidade: a economia circular. Estamos a desenvolver um conjunto de serviços para ajudar as empresas a desenvolverem-se nesta vertente em 2020. Na prática, hoje em dia, o consumidor final é muito mais exigente. Se falarmos do turismo, alguém que procure um hotel já não tem só a preocupação do preço mas também a ambiental, a social.

Há pouco mais de um ano, o grupo fez a primeira auditoria na migração da antiga OHSAS para a ISO 45001, a norma global para Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho, com a NOS. Quantas empresas em Portugal realizaram este processo desde então?

Ainda estamos no período de transição da norma ISO 45001, que termina em 2020. Temos feito um conjunto de ações de sensibilização e formação para explicarmos as diferenças entre essa e a OHSAS, quais os passos que as empresas têm de fazer para promover esta migração e estamos num processo quase comercial. Algumas empresas estão em processo de certificação, outras com auditorias a decorrer, em análise contratual e auditorias marcadas. Um processo de certificação pressupõe a realização de uma auditoria (uma equipa auditora com determinadas competências) para avaliar se uma empresa está a cumprir, do ponto de vista de gestão, com os requisitos da norma. O IPAC, a entidade acreditadora em Portugal, define as regras e as variáveis que impactam a duração de uma auditoria e ‘bebe’, ao nível europeu, da European Accreditation. O que impacta é o setor de atividade da empresa – o nível de risco das organizações –, o número de colaboradores, o número de locais onde está e o tipo de atividades que desenvolve.

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