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Elisa Ferreira, a “reserva da nação” feminina do PS. Quem é a escolha de António Costa para a Comissão Europeia?

A proposta do primeiro-ministro foi também vista como uma forma de a retirar do leque de candidatos à sucessão de Carlos Costa, porque Elisa Ferreira era apontada no mercado como potencial Governadora do Banco de Portugal no próximo verão de 2020.
27 Agosto 2019, 09h22

A atual vice-governadora do Banco de Portugal é a mulher portuguesa mais mencionada para os cargos europeus, de supervisão bancária e não só. Foi mencionada como favorita à liderança do Mecanismo Europeu de Supervisão; como potencial candidata a presidir ao Conselho de Administração do Banco Central Europeu; como potencial futura Governadora do Banco de Portugal, sucedendo a Carlos Costa que acaba o mandato em julho de 2020; como potencial futura ministra das Finanças num cenário sem Mário Centeno no Governo, e agora foi escolhida para representar Portugal na Comissão Europeia. Para além da sua longa experiência profissional joga a seu favor o facto de ser mulher, numa altura em que as organizações tentam maiores equilíbrios na representação de género nos órgãos de topo.

Num mundo cada vez mais sujeito a regras de quotas, a socialista Elisa Ferreira surge como a “reserva da nação” para todos os cargos de topo que exijam mulheres. Como se sabe, os bancos centrais de todo o mundo têm mais homens, e por isso são apontados como tendo forte desigualdade de género. A escassez de mulheres economistas e no topo da banca é citada como a razão para apontar a lista de mulheres nomeáveis para cargos de supervisão bancária, e Elisa Ferreira surge inevitavelmente como a portuguesa mais bem posicionada para esses lugares de topo.

Esta economista do Porto, com 63 anos, tem uma vasta experiência europeia nas pastas mais financeiras, tendo estado no desenvolvimento da União Bancária enquanto eurodeputada. No Banco de Portugal a economista é responsável pelo Departamento de Supervisão Prudencial, bem como serve de representante portuguesa no Conselho de Supervisão do BCE e na Autoridade Bancária Europeia. A importante pasta da supervisão bancária obriga-a a deslocações regulares ao Banco Central Europeu, em Frankfurt, onde já estabeleceu relações de proximidade.

Elisa Ferreira foi um dos quatro nomes indicados pelo primeiro-ministro, António Costa, a Ursula von der Leyen (futura presidente da Comissão Europeia) para comissário europeu. A economista portuguesa socialista ficou, assim, na lista dos potenciais representantes de Portugal na próxima Comissão Europeia. Proposta que foi esta manhã confirmada. Elisa Ferreira deixa a meio o mandato de vice-governadora do BdP que só ficaria concluído em 2022.

A proposta de António Costa foi também vista como uma forma de a retirar do leque de candidatos à sucessão de Carlos Costa, porque Elisa Ferreira era apontada no mercado como potencial Governadora do Banco de Portugal no próximo verão de 2020.

Já antes a agência financeira “Bloomberg” a colocava no lote de favoritas à liderança do Mecanismo Único de Supervisão – o organismo dentro do BCE responsável pela supervisão ao nível europeu –, cargo ocupado na altura por Danièle Nouy. No entanto, há um ano decidiu não avançar com uma candidatura para a liderança deste Mecanismo Europeu de Supervisão do BCE. Razões de ordem pessoal e profissional levaram a socialista a não concorrer ao lugar, mostrando pouco interesse em sair outra vez do país.

Mais recentemente, a mesma agência “Bloomberg” incluiu Elisa Ferreira numa lista de dez mulheres com o perfil adequado para ambicionar chegar ao cargo mais relevante da autoridade monetária europeia, quando ainda não se sabia que a presidência do BCE ia para Christine Lagarde.

Depois, Marques Mendes, no seu comentário na SIC, deu-a como potencial líder da pasta das Finanças num futuro Governo socialista sem Mário Centeno.

É, sem dúvida, a mulher portuguesa mais vezes mencionada para cargos de topo em organizações fundamentais para o país.

A socialista entrou para o banco central como administradora em 2016, já pela mão do atual Executivo liderado por António Costa, e em 2017 passou a vice-governadora. O atual Governo, como não tinha oportunidade de fazer a sua escolha para governador do Banco de Portugal, acabou por escolher as pessoas que ocupam os dois cargos de vice-governador: Luís Máximo dos Santos e Elisa Ferreira. A ex-eurodeputada foi na altura elogiada pelo ex-presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, pelo seu trabalho na construção da união bancária.

Elisa Ferreira representou o PS na Europa por mais de uma década no Parlamento Europeu, e em 2015 esteve no grupo de economistas liderado por Mário Centeno que ajudou António Costa a elaborar o programa eleitoral do PS, nas eleições que retira Pedro Passos Coelho, que tinha ganho as eleições, da liderança do país.

A vice-governadora do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, integra hoje o Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu, órgão responsável pela supervisão do sistema financeiro europeu. Uma vez por ano, este Conselho realiza uma das suas reuniões ordinárias num dos 19 Estados-membros. Em maio, e a convite da vice-governadora, que tem a seu cargo a supervisão bancária, o Conselho de Supervisão realizou pela primeira vez a sua reunião ordinária em Lisboa.

No currículo de Elisa Ferreira consta a pasta de ministra do Ambiente de António Guterres, período durante o qual resolveu dossiers ligados à área metropolitana do Porto, como o abastecimento de água. Como ministra do Planeamento, no segundo mandat0 de Guterres, estruturou o 3º Quadro Comunitário de Apoio, que incluiu o “Porto 2001” e o metro. A economista foi ainda professora universitária, vice-presidente da Associação Industrial Portuense e administradora da Fundação de Serralves.

Em comunicado, o Governo confirmou que a indicação de Elisa Ferreira para o colégio de comissários. “Oportunamente, a presidente eleita da Comissão Europeia comunicará a pasta atribuída à futura comissária portuguesa”, avançou.

O “elenco” final de 26 comissários e respectivas pastas deverá ser “fechado” a tempo para as audições nas respectivas comissões do Parlamento Europeu, que deve pronunciar-se sobre o colégio como um todo em 22 de Outubro.

Artigo publicado na edição do Jornal Económico de 16-08-2019

(Atualizada com informações da confirmação de Elisa Ferreira proposta para a Comissão Europeia)

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