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Embaixador diz que empresas portuguesas não têm planos de contingência “profundos” para o Brexit

As empresas portuguesas no Reino Unido estão preocupadas com o ‘Brexit’ pela incerteza que ainda existe quanto ao futuro, mas sem alarmismos, disse à Lusa o embaixador de Portugal em Londres, Manuel Lobo Antunes.
5 Novembro 2018, 08h40

As empresas portuguesas no Reino Unido estão preocupadas com o ‘Brexit’ pela incerteza que ainda existe quanto ao futuro, mas sem alarmismos, disse à Lusa o embaixador de Portugal em Londres, Manuel Lobo Antunes.

“Há uma posição de expetativa, há uma posição de esperança de que efetivamente este acordo se vá realizar, mas há também uma expetativa e uma pressão, digamos assim, para que a situação se clarifique para que as empresas […] possam saber exatamente com o que é que vão contar no futuro”, disse.

Lobo Antunes, embaixador em Londres desde 2016 e que foi secretário de Estado dos Assuntos Europeus (2006-2008) e representante permanente de Portugal junto da UE (2008-2012), desdramatizou os piores receios que se geraram após o referendo de junho de 2016 em que os britânicos decidiram a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

“A ideia, que não se concretizou, de que a seguir ao ‘Brexit’ seria a debandada geral e as empresas se começassem a deslocalizar, não tenho tido essa dimensão e esse prognóstico não se tem concretizado”, disse.

“Não vejo empresas, e designadamente portuguesas, com planos de contingência profundos, digamos assim, até porque continua a haver a esperança, e a acreditar-se, e eu julgo que é de facto a perspetiva mais razoável, de que haverá um acordo”, acrescentou. “A questão é de expetativa sem levantar alarmismos, que são neste momento desnecessários”, disse.

No plano bilateral, resolvida “de forma satisfatória” a “questão muito importante” da comunidade portuguesa no Reino Unido, cerca de 400 mil pessoas, restam as questões “que têm a ver com o comércio, de bens e serviços, e com remessas dos emigrantes”, as quais vão depender “do tipo de acordo e da relação futura que for estabelecida com o Reino Unido e também de como é que a própria economia do Reino Unido se vai comportar num cenário de ‘Brexit’, o que depende de vários fatores, nem todos absolutamente claros e transparentes neste momento”.

“Para Portugal, é importante manter o nível de comércio, temos um grande superavit comercial, temos uma balança de serviços também muito importante para nós, uma vez que temos muitos turistas do Reino Unido a visitar Portugal, e em Portugal, e é importante que continuem a visitar Portugal e depois também, naturalmente, é importante as remessas dos portugueses que aqui residem para Portugal”, disse.

Mas a futura relação bilateral pode beneficiar de um “conhecimento mútuo” que Lobo Antunes tem verificado no Reino Unido.

“Foi uma surpresa para mim, quando aqui cheguei e ao longo destes dois últimos anos, o conhecimento que as pessoas têm de Portugal, da História de Portugal e da velha aliança. As pessoas falam-me muito [disso], logo quando eu digo que sou embaixador de Portugal, as pessoas dizem ‘ah, a nossa velha aliança, a mais velha aliança’”, relatou.

Além desse conhecimento histórico, disse, “há um conhecimento muito razoável do que é Portugal”: “Muitos britânicos viajaram para Portugal, muitos conhecem Portugal, muitos têm propriedades em Portugal e, portanto, do ponto de vista do conhecimento mútuo, histórico, é muito interessante porque é bastante profundo e bastante alargado”.

Lobo Antunes identificou as áreas da Cultura, da cooperação militar e do investimento britânico em Portugal como setores onde “há trabalho a fazer”.

“No campo cultural acho que há trabalho a fazer, a nossa presença cultural é ainda modesta e isso exige muito investimento e um investimento que é muito importante. Também na parte da cooperação militar, acho que bilateralmente temos aí um trabalho a fazer, e depois naturalmente no pós-‘Brexit’ continuar a atrair investimento britânico”, explicou.

“Mas penso que também nessa área [do investimento], dado este contacto histórico e esta tradição histórica de relacionamento bilateral, podemos fazer mais. Temos feito bastante mas há que continuar esse esforço, dar a conhecer o país às empresas britânicas”, disse.

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