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Emprego jovem em Portugal é mais vulnerável do que na União Europeia

Estudo a divulgar esta segunda-feira, 18 de outubro, no âmbito do lançamento do Observatório do Emprego Jovem no ISCTE-IUL, revela que, em média na UE, 48,9% dos trabalhadores com menos de 25 anos têm contrato a termo, em Portugal, o valor ronda os 60%. O estudo incidiu sobre o período entre 2007 e 2019.
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18 Outubro 2021, 08h00

Em Portugal, o emprego jovem é mais volátil e mais vulnerável a situações de instabilidade económica do que na maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e na União Europeia. O estudo “Os jovens no mercado de trabalho em Portugal (2007-2019)”, a divulgar esta tarde de segunda-feira, 18 de outubro, no ISCTE-IUL, em Lisboa, no âmbito do lançamento do Observatório do Emprego Jovem, revela que os jovens portugueses têm, não só empregos mais instáveis do que o conjunto da população, como salários medianos inferiores.

“Em média, na União Europeia, perto de metade dos trabalhadores com menos de 25 anos tem contrato a termo (48,9% em média nos anos em análise); em Portugal, este valor ronda os 60%, tendo ficado perto dos 70% em 2015”, conclui o estudo. Os dados mostram que há um aumento desde 2008, que é mais acentuado em Portugal do que na UE, sendo o crescimento em 2015 de 12,9 pontos percentuais contra 4,5 pp na UE. “A partir dessa altura, a proporção de jovens com contratos a termo tende a decrescer, mas esta recuperação é visivelmente mais modesta, não retornando, no período analisado, aos valores anteriores à crise”, refere o estudo.

De acordo com o estudo, “a razão principal pela qual os trabalhadores se encontram neste tipo de contratos em Portugal é precisamente a impossibilidade de encontrar trabalho permanente, independentemente da faixa etária”.

Os dados revelam que, os jovens adultos entre os 25 e os 34 anos tendem a estar mais associados ao emprego temporário que os jovens entre os 15 e 24 anos. Em concreto, mais de 80% de jovens adultos tinham contratos a termo no período em análise (2007 a 2019). Nos anos da crise, o número disparou, atingindo em 2013 o valor máximo de 88,5%. Para os jovens com idades entre os 15 e os 24 anos, esta percentagem atinge valores inferiores, aumentando de 72,5% em 2007 para um máximo de 77,1% em 2011, ficando em 2019 no 66%6. Quer isto dizer que dois terços dos jovens até aos 24 anos tem um emprego temporário.

Em média, na  União Europeia,  a percentagem de contratos a termo involuntários é menos elevada. De acordo com o estudo, para os trabalhadores com 25 a 32 anos, a impossibilidade de encontrar trabalho permanente justifica cerca de 60% dos contratos a termo inicialmente, mas torna-se menos recorrente na fase de recuperação económica, diminuindo para 55,5% em 2019. Ainda segundo o estudo, apenas cerca de 30% dos jovens com menos de 25 anos com contratos a termo se encontram nesta posição. Neste grupo etário, a maior fatia de contratos a termo deve-se ao facto de os jovens estarem ainda em educação ou formação (cerca de 36%), o que não constitui um motivo preponderante em Portugal (cerca de 12%).

Empregos disponíveis não correspondem à qualificação dos jovens

Intitula-se “Porque é que a percentagem de trabalhadores sobre-qualificados é tão alta em Portugal?” e é o segundo dos dois estudos que assinala o lançamento do Observatório do Emprego Jovem. Aqui, os investigadores focaram-se no período entre 2000 e 2016, altura em que os países da União Europeia investiram fortemente nas qualificações com o objetivo de modernizar as economias nacionais, o que permitiu a expansão do ensino superior e o consequente aumento da oferta de diplomados.

“Em Portugal, como noutros países do Sul da Europa, a qualificação generalizada da mão-de-obra resultou numa discrepância entre a qualificação do trabalhador e a qualificação do emprego, a que se designa de sobre-qualificação. Esta discrepância está associada a uma diversidade de fatores, entre os quais a fraca capacidade do tecido produtivo para absorver mão-de-obra qualificada disponível”, assinalam Paulo Marques, Fátima Suleman e Rita Guimarães.

Os investigadores concluem também que em Portugal, a sobre-qualificação deve-se “em boa parte ao peso reduzido das indústrias e dos serviços de alta tecnologia na economia do país e, também, à fraca capacidade de contratação do setor público imposta pela austeridade resultante do débil crescimento da economia nos últimos anos”.

No lançamento do Observatório do Emprego Jovem, unidade de investigação do Dinâmia’CET – ISCTE, participam a Reitora do ISCTE-IUL, Maria de Lurdes Rodrigues, e o secretário de Estado Adjunto, do Trabalho e da Formação Profissional, Miguel Cabrita. O Observatório visa criar um repositório de conteúdos e de investigações dedicado exclusivamente ao mercado de trabalho dos jovens e conta com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

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