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Empregos criados por novas empresas com salários mais baixos do que empresas antigas

Mais de 33% dos empregos criados por empresas novas são em profissões que se encontram nos 25% de trabalhadores com menores salários na economia portuguesa, revela estudo apresentado esta quarta-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
3 Outubro 2018, 07h20

A polarização de rendimentos do trabalho aumentou no período após a crise financeira de 2008, traduzindo-se por uma diminuição da proporção de trabalhadores com salários intermédios, segundo um estudo apresentado esta quarta-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS).

O estudo “Dinâmica Empresarial e Desigualdade”, coordenado pelo economista Rui Baptista, que será apresentado na Jornada da Economia e da Competitividade, no Porto, explora a relação entre a criação de empresas, empreendedorismo e desigualdade salarial e conclui que no período subsequente à crise financeira, e em particular entre 2012 e 2015, se verificou um aumento dos trabalhadores afetos a profissões com salários médios mais elevados, assim como trabalhadores com salários médios mais baixos. Paralelamente registou-se uma diminuição da proporção de trabalhadores com salários médios intermédios.

Este cenário agrava-se nos trabalhadores contratados por empresas novas em comparação com empresas já existentes, apresentando as primeiras uma maior dispersão de salários.

“Apesar do salário médio de entrada nas empresas recém-criadas ser menor do que nas empresas mais antigas, a verdade é que os índices de desigualdade são superiores nas empresas novas, de acordo com todos os indicadores”, salientam os investigadores, que destacam que o cenário “é particularmente evidente quando nos apercebemos da desigualdade salarial entre os trabalhadores melhor remunerados e os trabalhadores pior remunerados nas novas empresas”.

Significa isto, segundo um exemplo do estudo, que um trabalhador inserido no grupo dos 10% mais bem pagos numa empresa recém-criada aufere, em média, um salário cerca de nove vezes superior ao de um trabalhador contratado para os 10% de trabalhadores com salários mais baixos e três vezes superior a um trabalhador contratado com um salário mediano. Por outro lado, numa empresa já existente, um trabalhador na mesma escala de salários recebe um salário cerca de seis vezes superior ao de um trabalhador contratado para o grupo dos 10% com menores salários, e cerca de duas vezes superior ao de um trabalhador contratado com um salário mediano.

Os investigadores defendem assim que a economia portuguesa revela quer “uma tendência para a desigualdade e polarização salariais”, quer “para o crescimento da atividade empreendedora”, assim como “para a diminuição da dimensão média das empresas”.

Segundo os dados analisados, mais de 33% dos empregos criados por empresas novas são em profissões que se encontram nos 25% de trabalhadores com menores salários na economia portuguesa. Apenas 16% dos postos de trabalho criados são em profissões com salários médios pertencentes aos 25% de trabalhadores melhor pagos.

“As novas empresas criam postos de trabalho pior remunerados, em média, do que as empresas já existentes no mercado. Como resultado desta disparidade, a desigualdade salarial, medida pelo índice de Gini, entre os trabalhadores contratados para empresas novas, é cerca de 27% superior à desigualdade salarial entre os trabalhadores contratados por empresas já existentes”, salientam os investigadores.

Empreendedorismo de oportunidade

Numa época em que o termo empreendedorismo entrou no léxico diário dos empresários portugueses e a partir da perspectiva que existe uma diferença entre o empreendedorismo de necessidade, por oposição ao empreendedorismo de oportunidade, este último fomentando a inovação, os investigadores concluem que “a relação entre empreendedorismo e os rendimentos do trabalho é marcada por um agravamento da desigualdade, associado a um aumento do número de trabalhadores com remunerações mais baixas”.

Verifica-se ainda que a maioria destes profissionais são contratados para profissões com salários médios elevados. “Estes novos trabalhadores são aliciados para profissões com salários acima da média nacional de salários, beneficiando das qualificações e da experiência que lhes permitem ocupar profissões criativas”.

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