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Empresários portugueses colocam estagnação económica prolongada como principal risco para 2022

“É natural que nos queiramos preocupar com a retoma da economia e com as desigualdades sociais, mas não nos podemos esquecer das questões do ambiente e da natureza, que estão na base de tudo”, alerta Edgar Lopes, diretor de risco da Zurich Portugal, em entrevista ao JE.
11 Janeiro 2022, 09h30

Quais são os cinco riscos que representam uma ameaça crítica para Portugal nos próximos dois anos? Estagnação económica prolongada, crise de dívida nas grandes economias, crise de emprego/subsistência, desigualdade digital e colapso/falta de sistemas de segurança social, responderam os empresários portugueses, no relatório “Global Risks Report 2022”, divulgado esta terça-feira.

A economia pura e dura é o que tira o sono aos líderes portugueses, mas no resto do globo, as maiores ameaças são crise climática, o crescimento das divergências sociais, o aumento dos riscos cibernéticos e uma recuperação económica desigual, de acordo com a 17ª edição do estudo elaborado pelo Fórum Económico Mundial em parceria com os grupos Zurich, Marsh McLennan e SK.

“Hoje, o que falta aos líderes portugueses é melhorar a mentalidade da gestão de risco, porque na azáfama do dia a dia continuamos a gerir muito os riscos no curto prazo e não no médio e longo prazo. Portanto, falta-nos aqui uma visão sistémica. Acredito que tenha que ver com a capacidade de investimento na gestão de risco a longo prazo”, disse ao Jornal Económico (JE) o Chief Risk Officer (CRO) da Zurich em Portugal, Edgar Lopes.

Segundo o Global Risks Perception Survey, a base do relatório anual, só 16% dos inquiridos países se sentem otimistas sobre as perspetivas para o mundo e 11% acreditam que a recuperação global vai acelerar – uma percentagem na qual Edgar Lopes se revê. Já a maioria dos participantes no estudo espera que os próximos três anos sejam marcados por volatilidade constante, surpresas ou trajetórias fragmentadas que separarão vencedores relativos e derrotados.

“Isto quer dizer que a recuperação económica vem trazer diferentes perspetivas em diferentes países. Por um lado, vão agravar-se os desequilíbrios no mercado de trabalho, o protecionismo e o aumento das lacunas digitais e, por outro, o lançamento rápido das vacinas nalguns países, as transformações digitais bem-sucedidas e as novas oportunidades de crescimento podem significar um regresso às tendências da pré-pandemia”, esclarece o responsável de risco da Zurich Portugal.

Edgar Lopes diz ao JE que acredita que Portugal “está entre os países que poderão ter uma recuperação económica mais rápida, porque teve uma primeira fase da pandemia um pouco mais difícil, mas depois houve uma resposta efetiva à vacinação e às próprias empresas, que rapidamente se ajustaram às novas metodologias de trabalho e que conseguiram implementar uma transformação digital mais efetiva”.

Uma das principais discrepâncias entre Portugal e os restantes 123 países participantes no “Global Risks Report 2022” é o facto de a sustentabilidade ambiental e as crises climáticas figurarem entre as principais preocupações das organizações internacionais, mas por cá não entrarem sequer no top 5. “Portugal estava a ter um crescimento económico já sustentável e toda esta crise pandémica veio estagná-lo. É natural que nos queiramos preocupar com a retoma da economia e com as desigualdades sociais, mas não nos podemos esquecer das questões do ambiente e da natureza, que estão na base de tudo o que fazemos”, alerta Edgar Lopes.

Mesmo Espanha, Itália, Irlanda, Grécia, Luxemburgo ou Países Baixos, que partilham um perfil de noção de risco semelhante, põem o ambiente entre as preocupações, até porque em 2020 várias cidades registaram temperaturas extremas, como o recorde de 42,7º C em Madrid, a mínima em 72 anos de -19ºC em Dallas e as médias de 10ºC mais altas do que o normal em regiões como o Ártico.

“Num horizonte a dez anos, a saúde do Planeta domina as preocupações globais. Os riscos ambientais são percecionados como cinco das ameaças de longo prazo mais críticas para o mundo, bem como potencialmente as que serão mais prejudiciais para as pessoas e para o planeta, com o fracasso da ação climática, os eventos climáticos extremos e a perda de biodiversidade como os três principais riscos mais severos”, detalha o CRO da Zurich Portugal, sobre o relatório que teve ainda os contributos das universidades de Oxford, Singapura e Pensilvânia.

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