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Entre falcões e pombas: luta de ‘angry birds’ no Conselho do BCE?

Esta quinta-feira há nova reunião de política monetária do Banco Central Europeu. Os investidores vão estar atentos às palavras do presidente, Mario Draghi, que se encontra pressionado entre a inflação abaixo da meta e os argumentos de que os estímulos já demoram em terminar.
  • Armando Babani/EPA/Lusa
7 Março 2018, 07h30

Deve ser posto fim aos estímulos monetários à zona euro ou a dificuldade em levar a inflação para próximo de 2% ainda justifica o programa de compra de ativos? O presidente do Banco Central Europeu (BCE) encontra-se entre as duas questões, com a pressão de vários membros membros do Conselho de Governadores a aumentar.

Esta quinta-feira, os mercados vão estar atentos às palavras de Draghi, após a reunião de política monetária da instituição.

“Não se esperam surpresas”, afirmou João Queiroz, diretor da banca online do Banco Carregosa, que acredita que as taxas de juro de referência se vão manter em mínimos históricos. Sobre o programa de compra de ativos, diz esperar uma reafirmação do curso atual, ou seja, aquisições de títulos da zona euro a um ritmo atual de 30 mil milhões de euros por mês, até setembro. Indicações sobre se será prolongado ou se setembro é mesmo o fim, “só em junho”, diz, lembrando que “normalmente o BCE dá indicações trimestrais”.

No entanto, a reunião poderá não ser tão linear quanto se pensa pois há várias forças a pressionarem Draghi. Numa nota de research, os analistas do ING sublinham que apesar da reduzida pressão inflacionista, o fim do quantitative easing (QE) está a aproximar-se.

A taxa de inflação na zona euro recuou para 1,2% em fevereiro, abaixo dos 1,3% de janeiro, sendo que em Portugal terá terá caído para 0,6%, segundo as estimativas já conhecidas. “O risco de deflação está claramente para trás. A única questão é como moderar e implementar essa saída”, afirmam.

O valor da média dos países da moeda única voltou a afastar-se da meta do BCE, de uma inflação próxima, mas abaixo de 2%. Este tem sido (e poderá continuar a ser) o argumento usado por Draghi para não mudar o discurso, mantendo uma postura dove (ou pomba, em português)ou seja, de preferência pela manutenção de baixas taxas de juro

No entanto, não é de desvalorizar a pressão de um influente hawk (ou falcão, que beneficia subidas nas taxas de juro) dentro do Conselho de Governadores. O presidente do banco central da Alemanha, Jens Weidmann, que é apontado como um dos mais fortes candidatos a substituir Draghi na presidência do BCE em 2019, defendeu recentemente que a compra de ativos deve ser reduzida gradualmente, mas chegar ao fim ainda este ano.

“Não esperamos pistas sobre quando o QE vai acabar, mas estamos a olhar para mudanças subtis na linguagem que sinalizem que já há uma rota para a saída”, explicaram os analistas do ING. Consideram que o BCE vai abandonar a frase que indica estar preparado para aumentar o QE em tamanho e/ou duração e substituí-la por outra que indique estarem prontos para usar todas as ferramentas necessárias.

“Seria uma forma suave de abandonar o QE easing bias e deverá satisfazer, para já, a crescente dissidência entre os ‘falcões’ do BCE dentro da luta interna de aves”, afirmaram.

Stefan Scheurer, diretor de global capital markets e research temática da AllianzGI, acrescentou que o programa de QE do BCE vai acompanhar os mercados ao longo de 2018 e que o caminho de normalização da política monetária continua claro: saída do QE, primeiro, e subidas nos juros, depois. “Até o notável reforço do euro é improvável de desviar as determinações do BCE. E, portanto, continua o braço-de-ferro no mercado de Obrigações governamentais da zona euro”.

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