O mercado de trabalho português tem problemas históricos que, de quando vez, os governos tentam resolver. Desde o valor reduzido do salário mínimo nacional, passando pela precariedade laboral gerada pelos recibos verdes e pelo desrespeito dos direitos dos trabalhadores, até ao trabalho não remunerado, muitos são os problemas que se vivem no domínio laboral. Apesar da sua importância, o presente artigo retrata um outro problema, mais distante mas tão real como aqueles: falamos aqui da forma como muitas profissões estão em risco de se tornar desnecessárias.

Em 1930, John Maynard Keynes, num ensaio intitulado de Economic Possibilities for our Grandchildren, previa o “technological unemployment” como uma doença da qual se ouviria falar no futuro. Mais recentemente, no ano de 2016, Stephen Hawking, na sua coluna no The Guardian, descrevia a inteligência artificial como “either the best, or the worst thing, ever to happen to humanity”. No meio de previsões e suposições, o que podemos nós dizer sobre isto?

Podemos começar por afirmar que, até aos dias de hoje, o progresso da técnica criou mais empregos do que aqueles que foram por ele destruídos. Contudo, admitir que será necessariamente assim no futuro é adoptar uma visão simplista, eventualmente irreal e muito perigosa. A generalização da automatização, o progresso da inteligência artificial e o avanço tecnológico constante podem não significar uma redução substancial dos índices de emprego. No entanto, estas tendências implicam, certamente, uma transformação significativa do mercado de trabalho, que envolverá o desaparecimento de certas profissões, a criação de outras e, acima de tudo, o surgimento de formas alternativas de executar o trabalho.

O mais recente estudo sobre esta matéria, publicado pelo McKinsey Global Institute em Janeiro de 2017, cuja análise foi orientada não só para profissões mas também para as actividades que as compõem, determina que 60% das profissões têm, pelo menos, 30% de actividades inerentes ao respectivo exercício que podem ser automatizáveis recorrendo à tecnologia existente. Com a evolução da tecnologia, o número destas actividades vai aumentar significativamente, prevendo-se que certas profissões ligadas a áreas como os transportes, o armazenamento, o alojamento, a restauração, a produção e a agricultura, deixem de existir.

Apesar de a automatização ser uma tendência global capaz de aumentar a produtividade mundial de 0,8% a 1,4% por ano, segundo o estudo acima citado, as transformações aqui assinaladas dependem da evolução da tecnologia disponível, do custo de implementação dessa tecnologia, do custo da mão-de-obra, dos benefícios económicos associados à utilização da tecnologia e até do próprio enquadramento legal e da aceitação social destas transformações. São estes factores que permitem que estas evoluções sejam graduais e estejam a ocorrer em geografias distintas, possibilitando a Portugal captar os benefícios do progresso tecnológico e adaptar o seu mercado de trabalho, as suas empresas e instituições às novas necessidades criadas pelos avanços tecnológicos.

Não é fácil saber exactamente para onde caminhamos, até porque o caminho que trilharmos dependerá muito da postura – mais ou menos interventiva – assumida pelo Governo português. Temos, contudo, uma certeza: as tendências que aqui descrevemos, fruto da globalização, são uma inevitabilidade. A forma como nos devemos adaptar a elas enquanto sociedade é, por isso, um tema que tem de ser introduzido com urgência na discussão pública.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.